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Duzentos anos de um sonho de São João Bosco

28 de Fevereiro de 2024, por João Bosco Teixeira

O Fundador da Congregação Salesiana, São João Bosco, foi uma pessoa dotada de características peculiares. Uma delas, ter encontrado nos sonhos respostas, caminhos e soluções para as muitas peripécias que a vida lhe apresentava.

Certa época da vida, quando já sacerdote, relatou a seus colaboradores um sonho que tivera em sua adolescência. Um sonho cujos conteúdos tornaram-se emblemáticos para a missão que, entendia, lhe estava reservada. “Um sonho que me ficou profundamente impresso na mente por toda a vida”.

Singela e resumidamente, o que ele narrou para seus colaboradores foi o seguinte.

“Vi-me num prado onde multidão de meninos se divertia. Diante das blasfêmias que proferiam, pus-me no meio deles, agredindo-os com socos. Nisso, vi um homem venerando que, chamando-me pelo nome, me disse: ‘Não é com pancadas, mas com a mansidão e a caridade que deverás ganhar esses teus amigos’. Dirigi-me àquele senhor: quem sois para me ordenar coisas impossíveis, dado que sou menino pobre e ignorante? O senhor falou-me: ‘Eu te darei a mestra, sob cuja orientação poderás tornar-te sábio, orientação sem a qual toda sabedoria se converte em estultice’. Apareceu-me, em seguida, uma senhora de aspecto majestoso que me tomou pela mão. No lugar dos meninos que haviam fugido, apareceram cabritos, cães, gatos, ursos e outros animais. A senhora falou-me: ‘Eis o teu campo onde deves trabalhar. Torna-te humilde, forte e robusto. E o que agora vês acontecer a esses animais, deves fazê-lo aos meus filhos’. Os animais ferozes haviam se transformado em mansos cordeiros. Comecei a chorar copiosamente quando, então, a senhora descansou a mão em minha cabeça dizendo: ‘A seu tempo tudo compreenderás’”.

Independentemente do que sejam os sonhos, das inúmeras indagações possíveis sobre esse “oráculo da noite”, o fato é que para São João Bosco o sonho, tido na adolescência, tornou-se referência obrigatória para sua atividade pedagógica no meio da juventude.

Dom Bosco entendeu qual seria sua missão. Entendeu também quais princípios deveriam orientar seu trabalho. Antes de qualquer outra coisa, intuiu que a essência do processo educativo se dá com a presença/relação. Sem esta, nada acontece, pois só a “relação” educa. Uma relação racional, sem espaço, por exemplo, para o castigo. Uma relação carinhosa, em que o educando sinta que é amado.  E uma relação espiritual, da qual não se elimina a transcendência do existir.

Os Salesianos estão comemorando os “duzentos anos” desse sonho porque acreditam que, ainda hoje, mesmo com os tempos mudados, a presença/relação do educador ao lado do educando é, no processo educativo, não só fator insubstituível como constitui seu fator chave de sucesso. E os seguidores de Dom Bosco sabem que a salesianidade não se dá sem a presença entre os jovens.

Dom Bosco entendeu, pois, o que dele esperava a Divina Providência. Mais ainda: levou toda uma vida dedicada aos jovens segundo os princípios educativos colhidos daquele sonho. Um sonho luminar que inspirou o assim chamado “sistema preventivo na educação da juventude”. Preventivo no sentido de o educador ser capaz, com a presença/relação, de se antecipar aos desejos, às aspirações, às necessidades dos educandos. Do meu ponto de vista, uma maneira de ser educador com absoluta validade para nossos dias tão conturbados.

Duzentos anos de um SONHO que apontou para São João Bosco, e seus seguidores, a maneira de graça para os jovens em des-graça.

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