Voltar a todos os posts

Ele ressuscitou

27 de Marco de 2024, por João Bosco Teixeira

Nós cristãos vivemos um período especial nesta época do ano. Celebramos a quaresma, iluminada, além de tudo, pela Campanha da Fraternidade, como preparação para a nossa maior festa: a Páscoa de Jesus, a comemoração de sua Ressurreição.

Trata-se da grande festa dos cristãos por sabermos que Jesus, com sua passagem pela morte, inaugurou um novo tempo em que todos são convidados para a comunhão de vida eterna com o Pai. É tempo de alegria geral. É a festa da vida que estava esmagada e sofrida e que é resgatada por Jesus. É a festa da plenitude da vida, pois a morte nos retira apenas os limites: o pequeno eu que somos se dilui e retornamos ao “Princípio in-principiado”.

Na vida, na morte e na ressurreição de Jesus, nos encontramos e nos envolvemos com aquilo que o coração humano postula de mais precioso: a liberdade. A Ressurreição de Jesus anuncia a nossa libertação. E a libertação nos lança na transcendência da vida, na permanente possibilidade de ruptura com os determinismos e alienações do existir.  Não por nada, o grande pensador Garaudy disse e escreveu: “O homem não nasceu para morrer, mas para começar. Viver, sim, como um poema, mas sempre nascendo e renascendo” até na explosão de seu existir. Acreditar, então, na Ressurreição é crer no dom da vida plena, eterna.

Não há dúvida: tudo isso é objeto da fé. Não é do conhecimento. O que, porém, não significa que seja algo contra a razão, dado que essa nos foi infundida qual “sopro do criador numa atitude repleta de amor”. Portanto, nada de oposição entre razão e fé. Como também nada de exclusão. Nada na razão ofenda a fé. Nada na fé exclua a razão. Ainda mais que a fé não é o aprendizado de uma doutrina, mas é a esperança alimentada na comunhão com os irmãos na comunidade.  A fé se realiza no existir. E somos muito felizes por sabermos que o objeto da fé só o podemos alcançar pela nossa humanidade. Deus se faz visível para nós naquilo que somos: humanos.

Jesus é a encarnação de toda essa verdade. E ele o é porque possuiu em plenitude a humanidade. Tão radical ela foi que ele se constituiu como a face humana de Deus. Deus se revela na humanidade de Jesus. O caminho para Deus passa pelo homem. O cristianismo vê a Deus no homem.

Páscoa o “dia que o Senhor fez”, conforme a liturgia católica. Dia em que todos aqueles que se aproximam de Jesus tomam, ou podem tomar, consciência de sua plena liberdade. Liberdade advinda não pela adesão a uma verdade, a uma doutrina, mas adesão a uma prática restauradora da vida. Liberdade da consciência oprimida por toda sorte de alienação. Por isso é que Jesus, ressuscitado, vive, está no meio de nós”, não qual verdade a ser pensada, mas qual presença a ser vivida.

A gente não escolhe como vem para este mundo, mas pode escolher como vai embora. Para os cristãos, o caminho de volta é Jesus que se fez “símbolo, arquétipo do ser mais integrado e perfeito que irrompeu no mundo a ponto de mergulhar no próprio mistério recôndito de Deus e com ele identificar-se” na expressão do grande teólogo Leonardo Boff. Seguir Jesus é sinônimo de ser cristão, ligar-se a ele pela fé, pela esperança, pelo amor, pelo Espírito.

Consola-nos saber que o caminho não é só o trajeto de uma pessoa para Deus, mas também o trajeto de Deus em sua aproximação a cada um de nós.

Ele ressuscitou. Vive no meio de nós.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário