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HERZOG ressuscitou em CLERISTON CUNHA

20 de Dezembro de 2023, por João Bosco Teixeira

Chegamos ao fundo do poço. Ou será ainda mais embaixo?

O fundo do poço acontece quando já não há a quem recorrer. Todos os recursos desaparecem e lá se instala a incerteza absoluta, o abandono, a salvação impossível.

Estamos assim. Rasgou-se a Constituição. Ainda outra vez, com a nomeação de um político para STF (Supremo Tribunal Federal). Mas isso não muda nada, porque no Supremo existe um justiceiro nacional, intocável, ninguém acima dele. Mesmo sozinho é absoluto.

Tenho convicção: ele não só não pode estar só como, tudo indica, está a serviço de alguém maior que lhe dá sustentação. Além da conivência de comparsas do STF.

Um grande advogado, segundo dizem, sem o devido respeito à Constituição, foi alçado ao Supremo, antes de lá chegar o político. Não consigo entender como advogado de tal calibre seja capaz de compartilhar habitação com o cidadão que se fez mandatário maior do país, ditador absoluto no poder judiciário, plenipotenciário e possuidor de todos os demais adjetivos que signifiquem um poder acima de qualquer poder, uma divindade soberana sobre qualquer dos seres humanos. Advogado ilustre a conviver com grandes desmandos ofensivos às leis penais do país.

Nasci em tradicionalíssima família mineira, em que o poder paterno era soberano, até certa idade dos filhos. Vivi, criança, aquela muitas vezes simpática ditadura getulista. Já adulto, vivi a ditadura militar, com alguns entreveros junto ao poder constituído. Apesar de toda a experiência adquirida e vivida com ditaduras, não consigo suportar as atitudes do STF, que parece acovardado diante da figura de um de seus componentes, que se comporta como polícia, militar e civil, como advogado e como juiz, a um tempo só.

Sou tomado de profunda, amarga, sofrida vergonha. Um dia, por causa da Covid-19, tomei contato direto e definitivo com minha finitude. Sei da proximidade de meus dias históricos. Nunca imaginei vivê-los em tão intensa vergonha. Que dias são esses em que acontece um povo governado pelo desgoverno do absolutismo judiciário, a mais nefasta das ditaduras?

Cleriston morreu. Não. Deixaram-no morrer, impiedosamente, conscientemente, complacentemente.

No momento em que escrevo estas linhas, talvez, muito talvez, o poder judiciário já tenha revisto sua postura. Não acredito, porque o plenipotenciário parece tomado por um poder da pior qualidade, poder que o cega, o destitui mesmo de qualquer sentimento humano. Chego a imaginar que ele não sente, não tem culpa, porque tomado por arrasadora doença mental.

Nesta hora, Castro Alves vem-me à mente irresistivelmente:

 

Mas que vejo eu aí... Que quadro damarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil...

 Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

Dizei-me vós, Senhor Deus,

Se eu deliro... Ou se é verdade.

Herzog ressuscitou em Cleriston.  Para glória de uns poucos. Para a vergonha de toda uma nação que se diz republicana e democrática.

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