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Alcoolismo: doença individual e coletiva

11 de Outubro de 2010, por Luiz Antônio Pinto

Não era este o tema que eu escreveria neste mês. Porém, após atender, no último plantão, cinco casos de alcoolismo, achei importante falar sobre o assunto. São gritantes as consequências do uso abusivo do álcool sobre a saúde individual das pessoas e também sobre a saúde pública. Muito se fala sobre isto. É comum o uso do álcool por homens e mulheres, nas mais diversas idades que, ao final das contas, não se consegue separar muito os efeitos do alcoolismo sobre o individual e o coletivo.

Em primeiro lugar, é preciso diferenciar alcoolismo - doença crônica, com diversas implicações sobre a mente e o corpo - do uso controlado da bebida. Não se pode falar em alcoolismo naquelas pessoas que ingerem bebidas alcoólicas com moderação e controle, sem que isto traga prejuízo para a sua saúde ou a de indivíduos à sua volta, como familiares e sociedade de modo geral.

Esta ingestão, em  momentos de folga, sem exageros, sem prejuízos para as atividades profissionais, certamente não trará repercussões importantes. Trata-se daquele individuo que ingere cerveja, por exemplo, em uma festa, ou final de semana, porém na segunda-feira retoma suas atividades habituais. Já o alcoolismo passa pelo uso continuado e sem controle das bebidas, refletindo inicialmente sobre o paciente em particular.

Há um processo de dependência em relação ao álcool, que leva o usuário a necessitar cada vez mais de quantidades maiores, todos os dias e sem controle. O corpo e a mente começam a manifestar sinais da dependência e dos estragos da droga  - delírios, tremores, procura por medicamentos cada vez mais frequentes, crises de dor no aparelho digestivo, inflamações etc. A alimentação fica para segundo plano, inicia-se um processo de desnutrição e carências vitamínicas progressivos.

Aí, começam as internações com  gastrites, hepatites, miocardites  e pancreatites alcoólicas, evoluindo para o grave comprometimento do fígado - a tão temida cirrose hepática -  um caminho sem volta. Sobre os danos na relação do álcool com o volante nem é preciso discorrer. Acidentes dos mais simples até aqueles com vítimas que perdem a vida.

Junto ao quadro clínico individual, aumentam os problemas - abandono de emprego, falência de casamentos, dificuldades familiares para com os cuidados com os doentes, internações frequentes com altíssimos custos para o sistema público de saúde e por aí adiante.

É nesse ponto que o individual e o coletivo se misturam - sofre o paciente com os danos sobre seu corpo e mente e sofrem os familiares e a sociedade com as repercussões da doença do alcoolismo. Tudo se agrava. Por fim, a família começa a se cansar e quase sempre abandona o paciente aos cuidados de outras pessoas e do serviço público de saúde.

Só quem vive neste meio pode dimensionar a totalidade dos problemas. Os fatores que predispõem o indivíduo ao alcoolismo são muitos, como por exemplo, fatores genéticos familiares, falta de estruturas de apoio/trabalho/lazer na sociedade, propaganda nos grandes meios de comunicação, entre outros tantos.

Cabe a nós, individualmente, cuidarmos da nossa saúde, sobre todos os aspectos, inclusive na prevenção do alcoolismo. Cabe à sociedade  - aqui incluído o serviço público - medidas globais de prevenção, controle e apoio, como tantas existentes em funcionamento.

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