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Tempus fugit: uma reflexão sobre a natureza da percepção temporal

20 de Marco de 2024, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior

Tempus fugit (ilustração)

“O conceito de percepção temporal é a interação de fatores biopsicossociais, históricos e culturais” (Deusivania Falcão).

O conceito de tempo, uma entidade intangível que permeia nossa existência, apresenta uma dualidade intrigante: é simultaneamente constante e mutável. Enquanto a física postula sua invariabilidade e linearidade, nossa vivência cotidiana revela uma percepção fluida, influenciada por circunstâncias e disposições emocionais. A observação de Deusivania Falcão, professora de gerontologia na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, destaca a complexidade da percepção temporal, resultante de interações intrincadas entre fatores biopsicossociais, históricos e culturais.

No âmbito biológico, a interpretação temporal varia conforme o contexto. Em momentos de prazer ou envolvimento, como durante uma atividade cativante, o tempo parece dilatar-se, enquanto em situações de monotonia ou desconforto, cada instante se estende ad infinitum. Este fenômeno sugere uma ligação íntima entre percepção temporal, emoções e o funcionamento do sistema nervoso.

Além disso, o contexto social e cultural exerce influência marcante sobre nossa compreensão e valorização do tempo. Em culturas que enfatizam a produtividade e a eficiência, como muitas sociedades ocidentais contemporâneas, o tempo é tido como um recurso precioso a ser maximizado. Em contraste, em culturas que adotam visões contemplativas e holísticas da vida, o tempo é concebido como fluido e menos sujeito a rigidez.

A história pessoal de cada indivíduo também desempenha papel crucial na percepção temporal. Experiências passadas, traumas, sucessos e fracassos moldam nossa relação com o tempo, influenciando expectativas futuras e apreciação do presente. Para alguém que enfrentou perdas significativas, o tempo pode parecer estagnado, enquanto tenta assimilar sua dor.

Diante desta complexidade, surge a indagação: como podemos habitar o tempo com consciência e significado? A resposta talvez resida no reconhecimento da subjetividade de nossa percepção temporal, cultivando consciência sobre como emoções, contexto social e histórico pessoal influenciam nossa experiência temporal. Desta forma, podemos desfrutar momentos de alegria e gratidão, mesmo quando o tempo parece fugaz (tempus fugit), e encontrar paz em momentos de espera e reflexão, mesmo quando o tempo se arrasta.

A percepção do tempo é apenas uma faceta da experiência humana, desafiando a possibilidade de uma compreensão completa e definitiva. É uma jornada individual e coletiva, moldada por uma infinidade de influências internas e externas. Ao refletir sobre nossa relação com o tempo, podemos obter insights valiosos sobre nossa própria existência e humanidade.

Referência:

<https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/o-tempo-e-imutavel-mas-a-sensacao-de-passar-rapido-ou-lentamente-depende-da-percepcao-individual>. Acesso em: 22 fev. 2024.

 

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