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Ovo é chique

13 de Novembro de 2018, por Cláudio Ruas

Dentro da minha ignorância científica, sempre duvidei de que o ovo fosse um alimento que pudesse fazer mal à saúde, como pregavam antigamente. Mas esse discurso mudou. Hoje, finalmente, consideram que o ovo pode – e deve – ser consumido sem restrições, na maioria dos casos. Além de fazer um bem danado, o trem é gostoso demais da conta. Versátil na cozinha, acessível e barato. E, de uns tempos para cá, vem deixando de lado aquele infeliz estigma de “comida de pobre”. Até porque pobre mesmo é aquele que ignora a riqueza da simplicidade à sua volta.

Na roça, o ovo sempre foi farto. Na cidade, sempre foi barato e prático, ideal para a vida corrida, em que um pão com ovo pode ser a salvação da lavoura, a baixo custo e tempo. Daí talvez surgiu esse rótulo negativo de produto desqualificado, “coisa de pobre”. Uma tremenda injustiça. Uma ignorância absurda não enxergar as tantas qualidades desse alimento, não só do ponto de vista nutricional, mas também gastronômico. E tem outra: tem muito pobre (de dinheiro!) por aí que se alimenta muito melhor do que muitos ricos. Principalmente aqueles que estão mais próximos dos ingredientes, que preparam as próprias refeições, têm hortinha e galinha no quintal e sabem dar valor a isso. Pobres de dinheiro, mas ricos de saúde, cultura e valores.

Ainda bem que o ovo vai voltando a ocupar outros espaços para além do jantar barato improvisado! Cada vez mais ele passa a ser uma estrela gastronômica, inclusive em restaurantes sofisticados, mostrando-se como tendência em receitas de livro, revista, televisão e internet.

Ovo é um ingrediente curioso: ao mesmo tempo em que é de fácil preparo, também pode ser bem complexo tecnicamente. Por isso aquele velho ditado do “não sabe nem fritar ovo” é um pouco inapropriado. Fritar todo mundo frita. Mas existem muitos detalhes no processo. Tanto é que na escola de cozinha o ovo ocupa um lugar considerável. E, muitas vezes no processo de seleção de um cozinheiro numa cozinha profissional, pede-se a ele para fazer uma omelete. Até nos simples ovos mexidos tem técnica, principalmente no cuidado com a temperatura e na forma de mexê-los. O fogo tem que ser bem baixo e a frigideira deve até ser levantada da chama do fogão de vez em quando. E a mexedura deve ser constante, com a colher raspando o fundo do centro para fora, para que o resultado final sejam ovos cremosos, delicados, no ponto certo. Sem passar nem ressacar demais.

Vale dar uma espiada nos livros e na internet para aprender mais técnicas. Vale também ter sempre em casa ovos de qualidade, de preferência caipiras, de galinha criada solta, feliz. Ainda mais aqui em Resende Costa, onde o acesso a esse tipo de ovo é muito maior. Tem até estabelecimentos que usam o caipira no preparo de lanches e pratos, o que é um grande atrativo (vale prestar atenção a isso, consumidor). Só devemos tomar cuidado para evitar contaminação por bactéria salmonela. Embora seja preciso limpar os ovos, aí mora um perigo. Não se pode esfregar muito a casca – com a parte grossa da bucha, como muitos fazem ­–, pois, nesse caso, o atrito retira a proteção natural que cobre o ovo, abrindo as portas para a entrada das bactérias. Também convém testar a validade: coloque o ovo numa caneca d’água. Se boiar, está estragado. Se ficar deitado no fundo, está ótimo. E se ficar de pé, mas ainda tocando o fundo, não está no auge do frescor, mas ainda pode ser consumido.

O bom mesmo é nem precisar guardar ovo na geladeira. É pegar ali no galinheiro e consumir no dia seguinte. Fazer pão dormido com ovo no café da manhã. Omelete com ora-pro-nobis na hora do almoço. Mandar cozido na casca para o lanche da filhota na escola. Fazer pão de queijo amarelinho no café da tarde. Fritar dois zoiúdos na gordura d’pôico, para cobrir de amor o arroz velho que sobrou do almoço (com gema mole, claro!). E chegar ao fim de semana e fazer ovos mexidos com cebola, tomatinho e salsinha no café da manhã. Massa fresca de macarrão caseiro à carbonara no almoço. E, na janta, uma bela polenta cremosa com queijo, taioba na manteiga e ovo pochê por cima, esperando só um cutuco do garfo para explodir de alegria.

Ovo é vida. Ovo é chique demais da conta, sô!

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