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Vila de Santo André

14 de Outubro de 2016, por Cláudio Ruas

Era uma vez um povo que gostava muito de bons temperos, mas tinha que ir buscar longe. O caminho era complicado e perigoso. Mas a vontade das especiarias era maior, então resolveram ir de barco, dando uma volta danada. Certa feita, decidiram fazer um caminho diferente e acabaram chegando em outro lugar. Era o Brasil. Isso foi em 1.500 e, de lá para cá, muita coisa foi sendo descoberta pelos forasteiros que desembarcaram no sul da Bahia. Porém, até hoje, mesmo com toda exploração turística da região, tem um lugarzinho especial por ali que custou ser (re)descoberto: a Vila de Santo André.

Se o “mar não tem Minas” é certo que o bom mineiro volta e meia dê as caras no litoral, sendo a região da Costa do Descobrimento uma das mais procuradas. O principal destino ainda é a badalada Porto Seguro, cidade que cresceu bastante e que soube surfar na onda do turismo. Descendo um pouco no mapa, Arraial D’ajuda, depois Trancoso e, mais abaixo, Caraíva, lugares menores, mas bastante afamados turisticamente. Subindo no mapa, as duas outras cidades dessa costa, Santa Cruz Cabrália e Belmonte, destinos menos procurados em relação aos demais. Entre elas, isolada e protegida pelas curvas sem ponte do majestoso rio João de Tiba, a pequena Vila de Santo André. Conhece?

Santo André é um distrito de Cabrália, local onde ancorou a comitiva de Cabral no terceiro dia do descobrimento. Lá foi celebrada a primeira missa do Brasil e possui ainda casario histórico, sendo ponto de partida de passeios de barco através da foz do rio. Do mesmo porto sai a balsa que dá acesso a Santo André, às praias do Guaiú e Mogiquiçaba, e à cidade fantasma de Belmonte, onde deságua em um belo delta o nosso rio Jequitinhonha.

A travessia da balsa – que já é um passeio compulsório no rio - dura só dez minutos, é linda e suficiente para manter o local ainda protegido. Do lado de lá, mais 2 km de asfalto até o vilarejo. As ruas são de terra, não existe posto de gasolina, nem farmácia, muito menos banco. Mas isso não é o problema (é a solução!). Por outro lado, tem uma estrutura turística bem bacana, levando-se em conta o tamanho e a simplicidade do lugar, que fica a menos de uma hora do aeroporto.

Sem dúvida, a melhor opção é a de se hospedar na própria vila. Mas é preciso estar em busca de sossego. Não se trata de um turismo de massa como o de Porto, e nem possui a badalação de Arraial e Trancoso. Mas é possível se hospedar de várias formas ($), seja em albergue (Iamani Hostel), resort de luxo (Costa Brasilis), pousada (Ponta de Santo André), além de boas casas para alugar.

A comida segue a mesma linha e se come muito bem por lá. Desde um PF caseiro com peixe frito e farinha boa no familiar restaurante Aroeira, até um sofisticado filé de badejo com purê de banana da terra e jiló grelhado, no contemporâneo El Floridita. Ou então um tradicional (e espetacular) arroz de polvo no Gaivota, restaurante típico de frutos do mar, com um delicioso deque debruçado no rio. A vila ainda conta com outras opções gastronômicas, como o de proposta mais natural das simpáticas meninas do Terra Morena Casa Praia, além de pizza, sanduíche, cocada e de mercadinhos, sobretudo para quem estiver hospedado em casa. Nesse caso, vale uma travessia bem cedo para comprar peixe fresco na tarifa dos pescadores, em Cabrália. A farinha de primeira, o dendê, o leite de coco e o coentro têm ali mesmo, no mercadinho do Paulo, sempre muito atencioso.

Um grande diferencial de Santo André é o rio João de Tiba, que beira o povoado antes de desaguar no mar. Além de uma foz maravilhosa, ainda é agradável, calmo, de água clara e limpa. E prainhas variando com a maré, que entra e sai do rio, levando robalos e tainhas rio acima e criando caranguejos, aos montes, nos manguezais. A praia também é boa e bem tranquila, com pouco ou nenhum movimento na maior parte do tempo. Não tem quiosques, só algumas pequenas barracas de madeira com estrutura limitada, pois ficam numa área de preservação ambiental.

A Vila de Santo André, com seu clima de roça, tem um povo bacana e hospitaleiro, mas ainda é desconhecida (ou desprezada) por muitos, até por gente que frequenta a região. Aí é que está o segredo. E digo outra: a conquista mais importante da seleção da Alemanha em 2014 não foi a taça da Copa ou o sete a um no Brasil. Foi ter escolhido ficar em Santo André, sossegada.

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