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Agrotóxico: uma questão polêmica

12 de Maio de 2016, por Instituto Rio Santo Antônio

A partir dos anos 70, a capacidade de produção de alimentos aumentou significativamente, sendo inclusive superior ao crescimento da população mundial. Nessa perspectiva, a agropecuária brasileira vem batendo recordes a cada ano. Mas, é preciso pensar nos custos socioambientais desse progresso, em especial quanto ao uso de agroquímicos.

Os agrotóxicos modernos, por mais incrível que pareça, foram desenvolvidos para serem utilizados nas Guerras Mundiais como arma química. Cita-se aqui o agressivo “agente laranja”, que foi utilizado como desfolhante na Guerra do Vietnã. Posteriormente, os agrotóxicos foram aplicados na agricultura como defensivos agrícolas, em especial a partir da Revolução Verde, e na saúde pública, no combates a vetores de doenças.

A Revolução Verde é como ficaram conhecidas as inovações tecnológicas na agricultura que visavam ao aumento da produtividade: pesquisas em biotecnologia (como sementes), fertilização de solos, melhoramento nos sistemas de estocagem e de escoamento da produção, utilização de agrotóxicos e mecanização. Economicamente, ao lado dessa modernização, temos a dependência dos países e dos produtores em relação às grandes empresas transnacionais, com seus produtos apropriados às mais diversas necessidades, indo da correção do solo às sementes geneticamente modificadas.

Desde 2008, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Infelizmente, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, nos últimos quarenta anos, o aumento no consumo de agrotóxicos foi de 700% enquanto a área agrícola aumentou 78%. O consumo nacional de agroquímicos é superior a 300 mil toneladas/ano. E o pior, mais da metade dos agrotóxicos hoje usados no Brasil já foram banidos na União Europeia e nos Estados Unidos, segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS. Os Estados brasileiros que mais os utilizam são: São Paulo (25%), Paraná (16%), Minas Gerais (12%), Rio Grande do Sul (12%) e Mato Grosso (9%).

A finalidade dos agrotóxicos é combater as pragas que afetam as lavouras: fungos, bactérias, insetos, ervas daninhas etc. Por outro lado, essa “guerra” pode ter efeitos contrários: intoxicar as pessoas, sejam os trabalhadores rurais ou os consumidores finais, e eliminar os predadores naturais dessas pragas, o que altera drasticamente o ecossistema. Os efeitos para a saúde são vários, podendo ser mais leves, como dores de cabeça e lesões na pele, ou quadros mais agudos e crônicos, como câncer ou malformação congênita.

Vejamos alguns dados. Em relação à quantidade total, as culturas agrícolas que mais recebem agrotóxicos são: soja, milho, citros e cana-de-açúcar. Outras culturas se destacam pelo uso intensivo de agrotóxicos por unidade de área cultivada: tomate, batata, algodão e café.

Em pesquisa recente da Anvisa, 29% dos alimentos analisados foram considerados insatisfatórios quanto aos níveis de resíduos de agrotóxicos. Dentre os alimentos consumidos in natura, as amostras consideradas com maiores teores foram: pimentão, morango, uva, pepino, alface, cenoura, abacaxi, beterraba, couve, mamão, tomate, laranja, maça. Diante dos fatos, fica justificado porque os plantadores de morango não os têm como alimentos.

Uma das saídas é o consumo de alimentos orgânicos, que não utilizam agrotóxicos. Esse é um mercado crescente, o Brasil já é o quinto maior produtor mundial. Infelizmente, eles ainda são pouco acessíveis à maioria da população, pois são em média 30% mais caros e não estão disponíveis em todos os lugares. Outra questão é a estética dos alimentos. Os produtos orgânicos, muitas das vezes, não têm uma aparência tão bonita quanto os convencionais, o que não atrai os consumidores.

 

Em Resende Costa, precisamos incentivar as feiras, locais onde os produtos vendidos possam vir diretamente da horta do pequeno produtor, como a que funciona na Praça do Rosário nos finais de semana. Mas ela ainda é modesta e precisa de mais apoio público. Outra alternativa seria a criação do Mercado Municipal, um lugar de valorização dos produtos orgânicos locais.

Adriano Valério de Resende

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