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Cerrado: mais um bioma ameaçado

25 de Janeiro de 2024, por Instituto Rio Santo Antônio

Geovanna Gontijo Gonzaga*

Adriano Valério Resende**

 

O Brasil é um país continental, por isso possui sete biomas. Desses, dois são florestas: Amazônia e Mata Atlântica; dois são savanas: Caatinga e Cerrado; um de vegetação rasteira: Pampa e Complexo do Pantanal. A Amazônia e o Cerrado são os que atualmente sofrem maior pressão antrópica. Em 2023, o Cerrado foi o mais desmatado. Segundo algumas estimativas, praticamente metade da área da cobertura vegetal do bioma já perdeu sua originalidade. Por isso, o Cerrado, além da Mata Atlântica, estão na lista mundial de hotspots, isto é, áreas com grande diversidade e ameaçadas de extinção.

O Cerrado é a segunda maior formação vegetal do Brasil e da América do Sul, perdendo apenas para a Amazônia. Sua área abrange 22% do território nacional, ocupando 10 estados brasileiros (incluindo Minas Gerais) e possui uma das maiores biodiversidades do mundo. Abriga uma variedade enorme de espécies: mais de 11 mil tipos de plantas nativas, quase 200 mamíferos conhecidos, mais de 800 aves, 1.200 peixes, 180 répteis e mais de 100 espécies de anfíbios. Infelizmente, várias espécies endêmicas correm sério risco de extinção. O seu potencial hídrico merece destaque, sendo chamado de a “caixa d’água do Brasil”. Especialistas afirmam que 8 em cada 12 nascentes das principais bacias hidrográficas nacionais estejam no bioma.

Sua importância vai além dos aspectos ambientais. Socialmente, o Cerrado possui uma grande importância, já que diversas comunidades e povos tradicionais vivem ou viveram à base dos seus recursos naturais. Historicamente, depois da Mata Atlântica, o Cerrado foi o bioma brasileiro que mais sofreu ocupações e alterações: primeiro, através do garimpo/mineração; e, atualmente, pela agricultura intensiva, especialmente a monocultura de grãos, e pela pecuária extensiva de baixa tecnologia. Por ser a área de maior produção agropecuária do país, é também a que sofre a maior pressão da expansão da fronteira agrícola. Nesse quesito, uma região chama a atenção: é o conhecido Matopiba, que compreende partes dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Os dados apresentados no site da WWF-Brasil são preocupantes. Cerca de 80% da área do bioma já foi modificado pelo homem, sendo que, desses, 40% já perdeu totalmente suas características originais. O maior uso é para pecuária, ocupando 60% das terras. E somente 19,15% são as áreas com a vegetação original em bom estado de conservação. As áreas nativas foram se transformando aos poucos em cidades, pastos e grandes monoculturas de grãos. O desmatamento se deveu também a outros fatores, como a produção de carvão vegetal e as monoculturas de eucalipto, como foi no caso de Minas Gerais. Segundo a ONG, se continuarmos nesse ritmo de desmatamento, estima-se que em 30 anos o Cerrado não existirá mais enquanto bioma.

As notícias do desmatamento no bioma não são novidades. No entanto, a preocupação é com o aumento significativo a cada ano. Em 2023, o Cerrado ganhou como o bioma mais devastado, tendo um aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano anterior. Para se ter uma ideia, até outubro foi registrada uma área desmatada de 6.802 km2, contra os 4.775,6 km2 da Amazônia. E olha que 2022 ficou marcado com a maior taxa de desmatamento do bioma nos últimos sete anos, segundo o Prodes Cerrado do INPE. Também em 2022, foi divulgado o Relatório Anual de Desmatamento pelo MapBiomas, o qual aponta que  2.057,251ha foram destruídos em todo o território nacional brasileiro, sendo o Cerrado e a Amazônia responsáveis por 90%.

Por fim, segundo especialistas, torna-se necessário vislumbrar um futuro para o Cerrado em que os verbos “produzir” e “proteger” possam ser conjugados numa mesma frase.  E isso só será possível se a manutenção da vegetação nativa for rentável, com, por exemplo, o pagamento por serviços ambientais, que é a remuneração pela manutenção de áreas verdes preservadas e pela produção de água, ou pelos créditos de carbono. Deve-se também aumentar as unidades de conservação no bioma, visto que é o bioma com menor percentual, com apenas 8,21% do território protegido. Fala-se ainda na promulgação de uma lei para sua proteção. Ou será que vamos esperar o Cerrado acabar enquanto bioma para depois tentarmos protegê-lo, como aconteceu com a Mata Atlântica?

 

*Aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG.

**Professor CEFET/MG.

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