A beleza da Festa do Rosário encontra-se essencialmente na religiosidade e na cultura africana que a envolvem


Editorial

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A Festa de Nossa Senhora do Rosário é uma das reportagens especiais desta edição do Jornal das Lajes. O leitor, inclusive, já deve estar acostumado com o destaque que anualmente conferimos a essa festa, que é uma das mais importantes e tradicionais manifestações da cultura religiosa popular de nossa cidade.

No calendário católico, o dia de Nossa Senhora do Rosário é celebrado em 7 de outubro. Em Resende Costa, uma antiga tradição convencionou celebrar a festa no primeiro domingo do mês de novembro, coincidindo quase sempre com o feriado do Dia de Finados (2 de novembro). Na grande maioria das paróquias que veneram Nossa Senhora do Rosário, elementos e tradições da cultura africana conferem características especiais à devoção. Ou seja, historicamente criou-se no devocionário popular da festa uma liturgia tipicamente africanizada, como bem definiu a historiadora Larissa Ibúmi Moreira em artigo publicado nesta edição do Jornal das Lajes. “O Congado é a síntese do que se chama ‘Catolicismo Negro’. Quando os reinos de Congo e Angola foram catequizados, isto não ocorreu de forma imposta. A adoção dos símbolos cristãos significou uma extensão do poder espiritual que aqueles povos já detinham. Passaram a usar a cruz, símbolo previamente importante para a filosofia banto, como patuás e instrumento de poder espiritual e ressignificaram os santos católicos à maneira africana de cultuá-los.”

É comum ouvirmos a palavra “sincretismo” quando conceituamos alguma festa e/ou movimento religioso católicos que absorvem elementos de diferentes culturas, especialmente no Brasil. Larissa explica o termo aplicado à devoção da Virgem do Rosário. “O que alguns costumam entender como sincretismo é a síntese de culturas diferentes que gerou reelaborações internas de signos e significados. Traduzindo, a Nossa Senhora do Rosário cultuada nos Congados é uma santa já africanizada desde que os povos bantos, que já haviam reelaborado o catolicismo, chegaram por aqui”. Portanto, o toque dos tambores, as cores e os cantos que ecoam dos Congados no primeiro domingo de novembro em Resende Costa traduzem genuinamente a religiosidade que une crenças, culturas e tradições em torno da Virgem do Rosário.

Outros elementos, além do religioso e do folclore, também foram ganhando espaço durante os dias em que se celebra Nossa Senhora do Rosário em Resende Costa. Nos quatro dias de festa, a Praça Coronel Souza Maia e a Rua José Coelho, arredores do templo dedicado à Nossa Senhora, recebem uma multidão de pessoas que vem aumentando a cada ano, atraída pelo comércio popular das barraquinhas e pelos shows. Ouve-se sempre da população resende-costense que a Festa do Rosário é uma das melhores realizadas na cidade; por isso, não pode acabar, tampouco enfraquecer.

É inconcebível pensar na extinção de um evento da dimensão da Festa de Nossa Senhora do Rosário. Ao contrário, é preciso que todas as pessoas e instituições ligadas à sua realização unam forças para fazê-la crescer ainda mais. Como fazer isso? Aumentando o número de barracas na rua José Coelho? Claro que não! O comércio popular faz, sim, parte do evento e já ganhou as graças do povo. Contudo, a essência da Festa de Nossa Senhora do Rosário encontra-se na devoção, na religiosidade e na cultura africana presente nos congados, catupés, moçambiques e outros grupos que participam do evento religioso em Resende Costa e o abrilhantam.

É preocupante ver alguns congados pequenos com dificuldades para se manterem e atraírem novos participantes e integrantes. Precisamos fortalecê-los. A beleza da Festa de Nossa Senhora do Rosário depende de grupos fortes e animados. Necessita também de maior envolvimento da população local, dos movimentos e irmandades religiosas para a preservação das tradições e da religiosidade inerentes à festa. Afinal, sem congado e sem Nossa Senhora não existe Festa do Rosário.

O JL parabeniza a comissão organizadora criada especialmente para a realização da Festa de Nossa Senhora do Rosário deste ano de 2023. Superando muitos desafios, corrigindo problemas e apontando soluções, a comissão deu conta do recado!

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