A experiência internacional do jovem artista sacro Silviney


José Venâncio de Resende


fotoPintura do Marquês (fundo), Silviney (esq.) com Eliete e Artur (ator) da empresa de restauro

Aos 37 anos, o mestre marceneiro e entalhador mobiliário de arte sacra, Silviney Trindade de Almeida, já é dono de vasta experiência profissional. São-joanense, mas criado em Resende Costa, é filho de Selma Maria Reis, da família Vale; já seu pai, Silvio Damião de Almeida, é natural das Águas Santas, município de Tiradentes. Atualmente, Silviney trabalha em uma fábrica de mobiliário de arte sacra na cidade de Lagoa Dourada, a 34 km de Resende Costa.

A primeira formação de Silviney foi adquirida através do seu pai, Silvio, marceneiro e artesão de móveis, cujos dons foram herdados de Alsino Almeida. O avô de Silviney, Alsino, tinha uma fábrica de artesanato que produzia pias de batismo (que antigamente tinham acabamento em madeira), gamelas, pilões e bancos. “Minhas vivências com a marcenaria começaram desde meus sete anos de idade (nos anos 1990), ajudando meu pai na fábrica de móveis que ele tinha na esquina do Zé Padeiro. Já o acompanhava com os trabalhos manuais, quando comecei a fazer alguns brinquedos de madeira e maquetes de Natal. Depois disso, parte da minha formação como mestre escultor foi feita em São João del-Rei, com Ronaldo Nascimento e Carlos Calsavara, que impulsionaram a arte sacra na época.”  

No segmento da arte sacra, Silviney fabrica peças como retábulos (altares de igrejas), andores, oratórios, mesas, cadeiras e mobiliário em geral. “Meu primeiro trabalho foi um retábulo, que fiz para uma capela particular na cidade de Leme do Prado, depois de Diamantina. Trabalho com material de madeira nobre – o cedro, o jacarandá e a peroba –, além de utilizar técnicas de pinturas tradicionais europeias na finalização dos trabalhos. Meus clientes, na maioria, são padres de diversas paróquias da região e de outros estados, além de alguns clientes particulares e de outros países.”

Silviney considera como as suas melhores obras, no Brasil, dois retábulos para a igreja Nossa Senhora de Fátima, da cidade de Berilo, Vale do Jequitinhonha; um retábulo para a capela do Santíssimo da igreja Santíssima Trindade de Tiradentes; um retábulo para a capela da fazenda Entre Rios (divisa Entre Rios de Minas – Desterro); e um oratório de Nossa Senhora das Graças para a Restinga de Baixo, em Resende Costa. 

 

Em Portugal

Silviney vivenciou, em Portugal, uma experiência importante para o sucesso da sua atividade profissional. “Em 2017, a convite do padre Jair Pereira da Silva, fiz um retábulo para a paróquia de Berilo, no norte de Minas, que chegou ao conhecimento do padre Carlos Vintage, de Lisboa. Como eles eram amigos, em 2018 acabei sendo convidado para realizar um projeto particular de retábulo de pinho de Riga (madeira de demolição) no centro de Lisboa. Depois, tive convite da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Basílica da Estrela (um antigo templo católico de Lisboa) para restaurar castiçais de prata.”

Silviney voltou a Portugal este ano, a convite da Casa Arte Sacra Fânzeres (tradicional empresa voltada para a produção de esculturas e mobiliário religiosos em madeira inteiramente à mão), quando “realizei projetos de andores originais para Santiago de Compostela, na Galiza (Espanha), e para Florença (na Itália); foram fabricados por mim e mais dois mestres de Portugal. Também fiz um retábulo para a paróquia da cidade de Montijo, na região de Lisboa”. 

Além disso, este ano Silviney foi convidado pelo Município de Oeiras, na região de Lisboa, para realizar trabalhos de restauro (tela e moldura) da pintura oitocentista, a óleo, do Marquês de Pompal (secretário de Estado durante o reinado de D. José I, em 1750-1777), de 3,0m de altura x 5,0m de largura, que se encontrava no gabinete da presidência da Câmara Municipal (equivalente a Prefeitura). O quadro original (adquirido pelo Município em 1939 quando a família Carvalho vendeu a Quinta de Oeiras) será transferido, em 2024, para o Palácio Marquês de Pombal, no centro histórico, tornando-se acessível à visitação pública. E no seu lugar, no edifício-sede da Câmara Municipal, será oportunamente colocada uma réplica feita pelo artista mineiro: “Fiz todo o serviço de confecção da réplica (montagem, talha e douramento)”. 

Por todos esses convites, “fiquei muito grato porque abriram portas para novos projetos, principalmente aqui no Brasil”. Em Portugal, Silviney ainda teve a oportunidade de fazer o curso de Policromia (que ensina a manipular pigmentos e tinturas para arte sacra) na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Além disso, estudou talha tradicional (escultura de imagem) em um curso na cidade do Porto.

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