É natural que com a vida que levamos atualmente, visto que os compromissos chegam a ultrapassar o nosso limite de tempo, seja muito difícil manter hábitos alimentares adequados para uma boa saúde. Porém, este fator limitante se junta a outro que vem sendo debatido diariamente por estudiosos na área da saúde pública: o poder da influência do marketing da indústria alimentícia na nossa alimentação e sua possível relação com o aumento do número de doenças epidêmicas acarretadas pela obesidade, principalmente na infância.
Nota-se que estamos cada vez mais susceptíveis a uma avalanche de informações da indústria de alimentos na mídia, que exerce fundamental influência no poder de formar hábitos alimentares. Seja na tv, rádio, revistas, outdoors ou filmes, tenta-se, ao máximo, vender a ideia da necessidade de se consumir algum produto e mostra-se sempre o ponto positivo, deixando de lado, por razões estratégicas, os reais perigos para a saúde decorrentes do seu consumo constante.
O marketing dessas indústrias ultrapassa o limite da ética e do bom senso, pois as mesmas empresas. que são responsáveis por contribuir com o aumento da obesidade e seus agravantes. patrocinam eventos científicos e pesquisas na área da saúde. Os centros de pesquisas firmam parcerias com empresas alimentícias e, com isso, os pesquisadores têm a tendência de mostrar resultados a fim de beneficiar tais empresas. Isso pode contribuir com a falta de informação para muitos consumidores, deixando de lado dados importantes constatados no estudo, que poderiam contribuir para uma mudança no padrão de consumo.
Outro fator preocupante é que as empresas utilizam desenhos animados como estratégia de publicidade para atingir as crianças, assimilando o consumo de determinados alimentos a algum desenho infantil preferido em determinado momento. As crianças são o grupo mais vulnerável a tudo isso, porque não possuem capacidade de discernimento, são inocentes e de fácil manipulação. Para piorar a situação, junta-se a isso a falta de instrução de alguns pais. Todos esses fatores se tornam agravantes que dificultam, e muito, uma educação alimentar de qualidade para as crianças, atualmente.
Com a crescente preocupação das pessoas com a saúde e o bem-estar físico, as empresas estão se readequando aos desejos dos consumidores e lançam novos produtos saudáveis a todo o momento, seja em versões light, diets ou integrais. Entretanto, muitas vezes esse marketing “saudável” não condiz com o aspecto nutricional do alimento. Logo, a aparência de saudável de certos produtos não nos possibilita comermos grandes quantidades, pois tais produtos podem ser tão prejudiciais, ou até mais, para a nossa saúde quanto os convencionais, pois podem conter em sua composição quantidades maiores de gorduras, açúcares e calorias.
Exercendo o nosso poder de escolha, poderemos contribuir para uma transição alimentar de hábitos menos adequados para um estilo de consumo saudável, pois as empresas respondem aos anseios e desejos de consumo das populações. Tudo isso nos leva a crer que, ao adotarmos uma posição de comprar de alimentos realmente nutritivos, deixando os nocivos à saúde de lado, a indústria se readequará. Elas oferecerão aquilo que realmente é desejado, refletindo positivamente ao consumidor, gerando melhora significativa da saúde e do bem-estar físico e mental. É também muito importante que os órgãos públicos criem campanhas de incentivo às boas praticas alimentares e regulamentos que tenham mecanismos de controle de propaganda.
Estudos mostram que os gastos com publicidade pela indústria alimentícia são exorbitantemente superiores aos do governo com políticas de alimentação saudável. Dificilmente, conseguiremos vencer a ganância cada vez maior dos conglomerados de alimentos pelo poder, mas, se não tentarmos, não saberemos. Devemos ficar atentos a tudo o que nos é dito pela mídia e pelos especialistas, buscar informações de credibilidade, procurar escolher melhor os alimentos e, caso queira fazer uma mudança corporal individualizada, procure um profissional de sua confiança, pois ele, sim, poderá lhe dar os atalhos para uma longevidade saudável. Aconselho a você, leitor, que não deixe de cuidar do bem mais precioso que você possui, pois ele é sua morada nessa sua passagem efêmera pela terra.
*Estudante de Nutrição - UFMG