Aldo Resende, fundador da Casa do Fazendeiro em São João del-Rei


Cidades

José Venâncio de Resende0

O resende-costense Aldo Resende

Depois de décadas com o mesmo nome, a tradicional Casa do Fazendeiro, em São João del-Rei, virou Comercial Resende, para voltar em poucos meses ao antigo nome, desta vez sob nova direção. “Na verdade, foi um grande erro meu, porque o antigo nome era melhor”, admite Aldo José de Resende, fundador da Casa do Fazendeiro no final da década de 1960. “Mas, como dizia mamãe, Deus escreve certo por linhas tortas. Já estava na hora de parar.”

Admitir o erro é uma virtude dos grandes homens. Aldo, perto de completar 85 anos, foi um empreendedor exemplar que marcou época no comércio de São João del-Rei por mais de quatro décadas. Ele recebeu a reportagem do JL, em sua casa, para uma entrevista na qual esbanjou simpatia e senso de humor, apesar da dor e dos curativos no braço, na perna e na cabeça, fruto de um tombo na ruazinha ao lado da catedral, a caminho do alfaiate.

Aldo cursou o antigo primário no Grupo Escolar Assis Resende, entre 1939 e 43, com as professoras dona Vivi, dona Ondina, dona Dulce Mendes e dona Odete. “Sempre gostei muito de matemática e de astronomia (que era estudada na geografia). Ia mal em latim, história e português, mas em geografia e matemática tirava notas boas”, recorda. “Quando fiz o curso de admissão (para o antigo ginásio), tirei nota 10”. Mas Aldo acabou não estudando. “Tenho uma prática da faculdade da universidade da vida.”

Da infância, lembra pouca coisa. Por exemplo, de ver seu pai, Orozimbo José de Resende, atendendo na Farmácia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que ficava na Rua Assis Resende (onde funciona a loja do João Bosco), o mesmo endereço onde Aldo nasceu em 1930. O farmacêutico da época era quase um médico, manipulava drogas e distribuía receita e aconselhamento.

Depois de se formar em farmácia em 1912, em Ouro Preto, Orozimbo estabeleceu-se em Resende Costa, em algum momento vindo a ter como concorrente a farmácia do Barbosinha que atendia na Rua Gonçalves Pinto. Por volta de 1944, o pai de Aldo desfez-se da farmácia em favor de um tal de “senhor Itamar”, originário da zona da Mata.

Aldo tinha então 14 anos quando deixou Resende Costa, em companhia dos pais, rumo a São João del-Rei, onde se estabeleceria para começar uma nova vida. Também acompanharam Orozimbo e a esposa Zulmira (irmã de “Tia Santinha”, mulher do médico e político Costa Pinto) os outros filhos José Orozimbo (pai de José Antônio, colunista do JL), Maria do Perpétuo Socorro e Maria Natália.

Orozimbo continuou no mesmo ramo, ao adquirir a Farmácia Santo Antônio, na rua Paulo Freitas. E Aldo ajudou o pai na farmácia até a idade de servir ao Exército, onde ficaria dois anos até chegar a cabo. Fez curso para sargento mas desistiu da promoção, ao saber que tinha de trabalhar na fronteira do país.

 

Comércio - Ao deixar o Exército, na década de 1950, Aldo trabalhou cerca de três anos na Caixa Econômica Federal, antes de ingressar no ramo comercial de onde nunca mais sairia até aposentar-se. Vendia tecidos e eletrodomésticos até que um dia seu filho Bezamat o desafiou a vender um carro da Willys, se quisesse ser transferido para o setor de veículos. “Aí eu consegui vender um Jeep nuns 15 dias”. E, assim, de 1961 a 64 vendeu carros na tradicional Casa Bezamat. Aldo lembra de ter vendido muitos carros para Piracema, Carmópolis, Itaguara, Madre de Deus de Minas, São Vicente de Minas e Resende Costa, entre outras cidades.

Inquieto, Aldo deixou a Bezamat, arranjou um Jeep e passou a viajar, vendendo fertilizantes, rações, produtos veterinários e sal mineral para fazendas da região. Com o tempo, as pessoas começaram a dizer: “o senhor está tão conhecido, por que não abre uma loja do ramo na cidade?” Foi assim que decidiu fundar, em 1969, a Casa do Fazendeiro.

A primeira loja da Casa do Fazendeiro funcionou próximo à antiga rodoviária, no centro da cidade. Na década de 1970, expandiu o negócio com a abertura de uma filial perto da igreja do Rosário, em Resende Costa, que funcionou por cerca de cinco anos. Foi então que abriu uma filial são-joanense perto da nova rodoviária. “Ao lado da rodoviária era sempre melhor, porque era frequentada por gente da região”, diz o pragmático Aldo. “E com isso criei minha família”.

E deu trabalho para várias pessoas: cerca de 12 trabalhadores ao longo dos 45 anos da Casa do Fazendeiro. Por não poder pagar melhores salários, Aldo decidiu pagar o INSS integral (20%) de seus empregados, dos quais alguns se aposentaram trabalhando na loja.

 

“Compadre Vieira” - Um grande aliado de Aldo foi o “Compadre Vieira”, que apresentava um programa sertanejo das 5 às 8 horas da manhã, na Rádio São João del-Rei. Aldo firmou um contrato com Vieira, seu primo resende-costense, para fazer propaganda da Casa do Fazendeiro no popular programa. Só que o “primo Vieira” entregava mais do que o combinado. “Ele me ajudou muito, brincava muito comigo no ar.” Com a morte de Vieira, Aldo manteve o anúncio por mais alguns anos, enquanto a viúva Stela apresentava o programa.

Em 2007, Aldo decidiu fundir as duas lojas, transferindo a matriz para a loja da rua Frei Cândido, ao lado do atual terminal rodoviário. Em 2012, resolveu mudar o nome fantasia para Comercial Resende, mas em Dezembro de 2013 encerrou as atividades e se aposentou.

Alguns meses depois, em Julho de 2014, Luiz Carlos Belo Júnior, neto do também resende-costense Anísio Belo Alves, reabriu a loja no mesmo endereço. Mas antes disso procurou Aldo para alugar o imóvel e pedir autorização para utilizar a antiga “marca”. Nesta nova fase, a Casa do Fazendeiro diversificou os seus produtos, introduzindo novas linhas como rações Pet e material hidráulico, sem abrir mão do comércio tradicional.

 

Retorno à terra - Depois que deixou Resende Costa, Aldo sempre visitava a cidade, ficando hospedado na casa da “Tia Santinha”, mulher do médico Costa Pinto. E, na década de 1970, criou o hábito de acompanhar, toda quarta-feira da Semana Santa, o retorno da imagem de Nossa Senhora das Dores, da igreja do Rosário para a matriz. “Muita gente preferia a procissão do encontro na terça-feira. Mas eu gostava de carregar o andor de Nossa Senhora das Dores na quarta”, revela. Até o dia em que se submeteu a uma cirurgia de hérnia, ficando impossibilitado de cumprir esta prática religiosa.

 

Aposentado, Aldo desfruta do convívio com a esposa Hélia Maria da Trindade Resende – um casamento que dura 58 anos – e dos filhos e respectivas famílias. Ele é pai de Alda Maria Trindade Resende, psicóloga; Fernando Luís Trindade Resende, economista (que trabalhava com ele na loja); e Pedro Paulo Trindade Resende, médico nefrologista.       

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