Capital nacional do rocambole também tem receita sexagenária de pastel


Cidades

José Venâncio de Resende0

O Bar do Jesus mantém há 60 anos o tradicional pastel

Conhecida como “capital nacional do rocambole”, a cidade de Lagoa Dourada tem também um pastel cuja receita está se tornando “sexagenária”. É o pastel do “Bar do Jesus Italiano”, um “buteco” surgido na década de 1950 que atualmente funciona no conhecido bairro Cacimba, próximo ao centro da cidade.

Talvez seja o buteco mais antigo em funcionamento na cidade, segundo o seu atual dono, Rubens Luiz Resende, mais conhecido por Rubinho. Ele administra o buteco nos últimos três anos, com a ajuda da esposa Telma e da tia Zilah - as duas são responsáveis pela massa do famoso pastel.

O buteco foi fundado por Jesus Resende, filho do italiano Nicodemos Vicchiato, que veio para o Brasil com 18 anos, e de Maria Cândida de Resende, tataraneta do Coronel Eduardo José de Resende, criador da raça Pêga. Logo no início, a esposa de Jesus, Aldair Resende - a dona Dadá - começou a fazer a massa de pastel em casa. É da mesma época a almôndega vendida no bar, também chamada “bolinho de fogo” por causa da pimenta.

O pastel preferido é o tradicional (carne moída), “sempre com muita pimenta”, conta Telma. “Mas na sexta-feira santa o pessoal procura muito o pastel de bacalhau com batata e o de umbigo de banana, por causa da tradição da igreja de não comer carne.”

A massa é feita três ou quatro dias antes e diariamente é passada no cilindro para descansar, conta Telma. “Toda manhã, a massa é aberta na espessura para rechear e fritar.” São vendidas em média 50 unidades por dia, no próprio buteco. Mas, na sexta-feira da semana santa, chega-se a vender 200 unidades.        

A clientela não tem idade, e “não adianta mudar porque o pessoal gosta mesmo é desses sabores”, explica Telma. “Tem criança que adora, mesmo com a pimenta.” Já Antonio Resende, que se encontrava no buteco durante a visita deste repórter, é frequentador antigo do local, de quando ainda acompanhava o pai.

 

“Butequim”. Os dois primeiros pontos do “butequim” – era assim que Jesus o chamava - foram no centro da cidade, onde hoje funcionam o açougue 2 Irmãos e o supermercado Douradão. Nestes dois pontos, o buteco funcionou por vários anos pagando-se aluguel, relata Rubinho.

Por volta de 1980, ganhou novo endereço, passando a ocupar sede própria na rua Maria Teodora Sousa, no bairro Cacimba. Na mesma época, Jesus se aposentou mas continuou abrindo as portas do bar toda manhã. Por algum tempo, Rubinho tocou o bar junto com o irmão Roberto. O pai ajudava, até que, em 2011, quebrou o fêmur e nunca mais voltou a andar - além disso, passou a sofrer de Alzheimer. “Mas não esquece do butequim até hoje”, diz sua nora Telma. Jesus completa 90 anos este mês.

 

O buteco sempre manteve o mesmo aspecto simples, inclusive com a mesa de sinuca, conta Rubinho. “Desde a época de meu pai já havia jogo de sinuca e baralho.” 

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