Chá Preto, pedreiro, futebolista, músico… e mais alguma coisa


José Venâncio de Resende


Chá Preto em frente à casa do Nelson do Joaquim Batista.

Antônio Orlampios dos Santos, mais conhecido por Chá Preto, é pedreiro de mão-cheia, mas também esportista e músico nas horas vagas. Ainda novo, ele começou a trabalhar de servente do pai na fazenda do Jacu, Morro do Chapéu, e na redondeza, “o que me orgulha muito por ser o profissional que sou hoje”.

Este santiaguense, nascido em 1956 na fazenda do avô materno Antônio Sebastião Justino, estudou na escola do povoado do Jorge, em São Tiago, com a professora Marlene do Zé Barbinha. Aos 10 anos, Chá Preto mudou-se com a família para o Morro do Chapéu, continuando os estudos na fazenda São Miguel, município de Ritápolis, com a professora Regina. Ali passou uma infância feliz na companhia dos pais Osvaldo Francisco Santos, o Vandico, e Ilda Antônia, e dos 10 irmãos (sete rapazes e três meninas).

Em 1980, Chá Preto mudou-se para Resende Costa, onde começou a atuar como pedreiro. “Meu primeiro serviço foi para o senhor Oscar e a dona Inácia. Daí por diante, as portas foram se abrindo para várias construções.” Entre os seus clientes, ele cita, por exemplo, o Eli do depósito e o Elmo do Efraim (construção de casa e de sobrado), o Ésio do Zé Henrique (construção do prédio da autopeças), João Bosco da loja, Rubens da loja Róbia, Tiãozinho e Joãozinho da serraria (construção de prédios), Maria Moreira (do Tunico do Cartório), dona Mercês do Zé Alencar, os irmãos Dilson, Guinho e Lia Daher (construção de casas na cidade e em sítio).

Em São João del-Rei, Chá Preto construiu a garagem da empresa de ônibus São Vicente e a casa do resende-costense Geraldo Moreira, o Dinho do senhor Ananias (da Polícia Militar).

 

São Paulo

Em 1995, Chá Preto tomou o rumo de São Paulo, onde morou por 14 anos em Osasco (área metropolitana) e trabalhou em várias regiões do estado. Em Alphaville 9, construiu a casa de Giovani, da dupla Gian e Giovani, além de casas em outros condomínios daquele bairro nobre, situado nos municípios de Barueri e Santana de Parnaíba. Para isso, Chá Preto liderou uma equipe nunca inferior a 10 profissionais (pedreiros e ajudantes), muitos deles resende-costenses. “Em todos os meus percursos, e ainda hoje, muitos profissionais iniciaram-se comigo. Dei e dou oportunidades para o iniciante.”

De volta a Resende Costa, em 2009, Chá Preto continuou a arregimentar profissionais e a montar equipes para dar conta do aumento da demanda (novas construções e reformas). A primeira obra foi a reforma da casa do William do Guil. Entre outras obras, ele destaca a construção de uma casa de adobe no povoado do Ramos, muros de pedra seca e casas de pau-a-pique, assim como uma grande reforma na fazenda das Éguas. Na lista a perder de vista, ainda constam a reforma do sobrado de José Augusto de Melo (atualmente, do João Bosco da loja), o restauro do sobrado de Nelson do Joaquim Batista e a construção de várias casas no bairro Nova Resende. Na zona rural, além da reforma da fazenda das Éguas, Chá Preto construiu a capela da Micaela e várias casas. Atualmente, está erguendo um prédio (cinco andares) na cidade para o José Antônio do Irapê Alumínios e Enxovais. “Tenho muito orgulho de tudo isso”, resume Chá Preto.

Apesar da atividade intensa, Chá Preto arranjou tempo para trabalhar com perua escolar, transportando, com a ajuda da família, crianças do pré-escolar para o Centro Municipal de Educação Infantil Aquarela (CMEI), para a Escola Estadual Assis Resende e para a Escola Municipal Conjurados Resende Costa. Facilitou bastante o fato de ele ser muito conhecido na cidade desde que construiu a residência do casal Oscar e Inácia Moreira. O transporte escolar durou sete anos e cessou com a chegada da pandemia.

 

Apelido

E, pra não dizer que só trabalha, Chá Preto faz incursões nos campos do esporte e da música. Já jogou futebol nos times do Boa Vista e do Parruca, em Resende Costa, e do Rio do Peixe, em São Tiago, além de outros times na zona rural. Deve ter sido zagueiro de primeira, a julgar por suas credenciais. Tanto que foi convocado para a seleção do município. “Participei do jogo contra os juniores do Cruzeiro na inauguração do gramado do campo.” Já no Expedicionários, integrou a seleção resende-costense, no aniversário da cidade, contra os masters de Belo Horizonte, com Luizinho, Paulo Isidoro e outros nomes de peso. “Joguei muito com o Deizinho e o Newton do Antônio Machado.”

Uma curiosidade: foi no jogo contra os juniores do Cruzeiro que ele ganhou o apelido de Chá Preto, por obra do então treinador Boanerges. “No começo, era muito engraçado, mas acabou por ficar até hoje.” Atualmente, ele faz parte da direção do Expedicionários e ajuda na coordenação da escolinha de base do time - que define como “meninos de ouro” - em conjunto com Paulo Ricardo.

Chá Preto cresceu vendo o pai participar de Congado e Folia de Reis, identificando-se principalmente com a tradição da Folia. “Por uma brincadeira, eu e meu pai convidamos dois amigos, Claudiney e Vanderlei, para tocarem em rezas e quermesses. Aí surgiu o nome da Banda Chá Preto.” Com o falecimento do pai, ele convidou o padeiro Luís Vieira para integrar a banda. Também passaram pela banda o Antenor Noel, conhecido por Tilu, e a cantora Carol Brasil, “uma grande voz”.

Com o tempo, a banda passou por mudanças e os atuais integrantes, além de Chá Preto, são: Lourenço, Nelci Moraes, Caney, Ângelo Márcio e Geraldo Marinho (de Ritápolis). “Continuamos a fazer vários eventos na cidade e em outras regiões, levando as raízes da música para aqueles que curtem a nossa alegria. Quem estiver interessado é só entrar em contato que agendaremos com prazer.”

Desde a época do Boa Vista, Chá Preto participa da Folia de Reis Nossa Senhora da Penha, com os foliões Heitor Pinto e Vanderlei Cardoso. E como bom católico, integra o Coral Sagrada Família, da Paróquia.

E não é que ainda sobra tempo para distrações, como jogar baralho e disputar torneios? “Há pouco tempo, fomos participar de um torneio no distrito de Jacarandira.” Além disso, para além da correria do cotidiano, Chá Preto dedica-se a caminhadas com uma turma de jovens e idosos, não apenas dentro da cidade, como também para o povoado da Restinga e para os municípios de Ritápolis e Coronel Xavier Chaves.

Nada disso impede que Chá Preto considere a família “a razão do meu viver”. Ele é casado com Daria Helena Alves e tem cinco filhos: Patrícia (antes do casamento), Anderson, Alison, Aline e Carlos Daniel, bem como os netos Cecília e Bernardo.

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