No campo das vertentes, uma economia divsersificada


Economia

José Venâncio de Resende0

A região do Campo das Vertentes é promissora nas áreas de turismo, artesanato e serviços correlatos. Essas qualidades ganham mais realce porque a região integra o Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, que ‘envolve municípios que são o berço de movimentos importantes como a Inconfidência Mineira’, diz reportagem da edição especial da revista ‘SICOOB Credivertentes: portas abertas ao desenvolvimento regional’.

São João del-Rei é potência em turismo cultural, cujos benefícios econômicos se espalham pelos municípios da região. O turismo cultural abrange religião, carnaval, teatro, o setor artístico em geral, diz Thiago de Sousa Santos, do SEBRAE-MG. ‘São João sempre foi muito atuante no teatro. Nós temos duas bandas de música bicentenárias. E, na semana santa, o fluxo de turistas é imenso. A cidade tem a tradição do badalar dos sinos – uma linguagem toda especial.’ As comemorações da Semana Santa também atraem grande público para visitação, diz Thiago. ‘Não apenas os católicos, mas também o público de outras religiões.’

Outra atração é o carnaval são-joanense, embora em fase de transformação devido ao excesso de violência, drogas, destruição e sujeira. A tendência é renovar o carnaval, com foco nas marchinhas carnavalescas e nos turistas de maior poder aquisitivo como os da terceira idade, explica Alexandra El-Corab Chitarra (SEBRAE-MG). O mesmo vale para Tiradentes, que também busca um público diferente para o carnaval. ‘Acho que a cidade só tem a ganhar, pois eles ficam em hotel, gastam mais e o dinheiro circula.’

Outro papel fundamental é exercido pelo festival de inverno, que ganhou grandes proporções, assinala Thiago. ‘O Inverno Cultural, realizado pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), já está impactando não apenas o município como também as demais cidades da região. Ele expande-se com oficinas, shows, seminários e já tem eventos em Prados, Coronel Xavier Chaves, Barroso, Resende Costa... O Inverno Cultural aqui é diferenciado, é um evento que está sendo considerado o melhor festival de inverno de Minas Gerais. A cada ano o setor privado está investindo mais, com retorno sempre maior. Está em crescente expansão.’

Na área de serviços, destaque para a educação, cuja qualidade das universidades e dos colégios se espraia para toda a região, diz Thiago. ‘A maioria dos alunos da universidade são estudantes dos municípios da região – que vêm e voltam - ou de outras partes do país, que se instalam temporariamente na cidade, com impacto muito grande no mercado imobiliário, vestuário, alimentação etc.’

São João pode se firmar como um centro de turismo de eventos, com a aprovação por parte do governo estadual de construção do Centro de Convenções, conta Thiago. ‘É uma necessidade do município há um bom tempo. Aqui ocorrem eventos com freqüência, e não há espaço adequado para os grandes eventos. Ás vezes, é utilizado o Teatro Municipal ou outros salões de colégio.’

Ainda no setor de serviços, os grandes supermercados, as lojas de departamento (vestuário, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, etc.) e de veículos, assim como os pequenos comerciantes, têm papel marcante não apenas no comércio local e no abastecimento regional como também na oferta de empregos à população dos municípios do Campo das Vertentes.


Destino turístico

Não se fala mais em turismo para São João del-Rei e Tiradentes, mas sim em destino turístico, explica Alexandra. ‘É como se fosse um pacote: São João del-Rei, Tiradentes, Resende Costa etc. O interesse é que o turista passe dois dias em Tiradentes, dois dias em São João, dois dias em Resende Costa e assim por diante.’ Nesse sentido, ela considera que a linha aérea para o Rio de Janeiro – em breve, reforçada pela linha para São Paulo - é fator a mais de estímulo ao turismo regional.

No caso de Tiradentes, o calendário de eventos é o grande atrativo, diz Thiago. ‘Logo no início do ano, a mostra de cinema movimenta fortemente a economia local. Depois, temos o encontro nacional de motos, que se tornou tradicional, e o festival gastronômico. E agora nós tivemos o festival do circo – o terceiro do mundo – feito pelos empresários.’

Nos demais municípios da região, as atividades econômicas diversificam-se entre artesanato, agropecuária e algumas poucas indústrias. Em Lagoa Dourada, a fabricação do tradicional rocambole por parte das panificadoras é acrescida da produção de hortigranjeiros, nos distritos de Bandeirinha e Arame, para entrega ao Ceasa de Belo Horizonte, informa o SEBRAE-MG .

São Tiago é considerado a ‘terra do café com biscoito’, onde dezenas de empresas produzem cerca de 80 toneladas de biscoitos por mês (mais de 50 variedades), segundo a revista da Credivertentes. A produção estimula o turismo e emprega 8% da população urbana, de aproximados dez mil habitantes. ‘Os biscoitos são comercializados no mercado regional e em todo o interior mineiro, bem como em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.’

A tradição empresarial, consolidada pelo trabalho da Associação Santiaguense dos Produtores de Biscoito (ASSABISCOITO), é lembrada pela festa ‘Parada do Café com Biscoito’, que faz parte do calendário turístico mineiro. São Tiago tem vocação também para a produção de leite e derivados, café e mineração.

A pecuária leiteira tem seu eixo em Resende Costa e Coronel Xavier Chaves, com o suporte da COAPRO (Cooperativa Agropecuária dos Produtores de Resende Costa e Região) e da indústria (empresas Del Rios e Perdigão) que processa o produto, diz Thiago Santos. Mas Resende Costa se dedica principalmente ao turismo e ao artesanato (colchas, tapetes, toalhas e cortinas) herdado dos colonizadores portugueses. As peças são feitas com sobras de tecidos da indústria, picadas em tiras e trançadas em tear manual. A maior parte dos profissionais está reunida na Associação dos Artesãos (ASARC). Outras atrações são as festas religiosas e folclóricas que ocorrem ao longo do ano, além de eventos como carnaval e exposição agropecuária.

Em Coronel Xavier Chaves, além da agropecuária (leite, hortigranjeiros etc.), a economia local é baseada no turismo (histórico, religioso, ecológico) e na produção artesanal de cachaça, açúcar mascavo, rendas de Abrolhos e bordados de Assis (Itália) e Richelieu (França).

Santa Cruz de Minas notabiliza-se pelas pequenas fábricas de móveis artesanais com madeira de demolição. O antigo bairro do Porto beneficia-se fortemente do fluxo de turistas entre São João del-Rei e Tiradentes, por situar-se no trajeto entre as duas cidades.

Turismo (histórico e cultural), artesanato (madeira, papel machê e sucata) e couro marcam a economia de Prados, complementados por agropecuária, mineração e comércio, segundo a revista da Credivertentes. Destaque para o Festival de Música de Prados, uma parceria da Lira Ceciliana (fundada em 1858) – que mantém até hoje orquestra sacra, banda de música e coral – com a Universidade de São Paulo (USP). O carnaval da cidade já desponta como um dos mais animados da região. Outra atração é o povoado Vitoriano Veloso próximo a Tiradentes, mais conhecido por Bichinho, que se dedica ao artesanato (confecção de esteiras de taquara e trabalhos manuais).

Dores de Campos, conhecido como ‘Cidade da Arte’, é tradicional centro produtor de couro e derivados (selas, chapéus e botas). Em torno do couro, gravita uma centena de empresas voltadas para a atividade (curtume, acabamento artesanal e comércio). Entre os principais eventos, a Feira Artesanal e Industrial de Dores de Campos (FAIDEC).

O potencial turístico de Conceição da Barra de Minas é fruto da união de tradições, cultura e patrimônio histórico com o ‘artesanato criativo e vibrante’, informa a revista da Credivertentes.


Indústrias

O Campo das Vertentes não se sobressai pelo setor industrial. A presença em São João é limitada a algumas poucas empresas de porte, como as multinacionais Fluminense (ligas de alumínio) e Bozel (extração de manganês e ferroligas), além da Sanjoanense (têxteis) que produz abaixo da sua capacidade, diz Thiago. ‘Temos uma expectativa muito grande com a implantação do parque industrial de São João del-Rei. Algumas indústrias no parque industrial são recentes, como a Ligas Gerais, que comercializa produtos metálicos. Há outras empresas em fase de implantação – indústrias pequenas em termos de quantidade de funcionários, mas com potencial de crescimento. Esse parque industrial é bastante estratégico porque fica na BR que liga a rodovia Fernão Dias a Barbacena; é saída tanto para a BR 040 quanto para a Fernão Dias.’

Em Dores de Campos, encontra-se a Marluvas - a maior indústria de calçados de segurança da América Latina, que contribui para os milhares de empregos gerados no município. Em Prados, além da tradicional indústria do couro (selas e calçados), merece ser citado o Abatedouro Pradense, responsável pela marca Frango Atalaia, que abate 30 mil cabeças por dia.

Nazareno possui importante bacia leiteira na região, segundo a revista da Credivertentes. No município, localiza-se o Laticínio Nazareno, onde são processados 40 mil litros de leite por dia de produtores de municípios da região. Os produtos (doce de leite, requeijão cremoso, provolone, mozarela, minas padrão gorgonzola) são destinados principalmente ao Estado do Rio de Janeiro e a Belo Horizonte, Juiz de Fora e cidades próximas.

A empresa de cimento Holcim, de Barroso, completa esse rol de indústrias. A fábrica tem enorme impacto na geração de empregos diretos e indiretos, não apenas no município como também em Dores de Campos, diz Thiago Santos.