Passados 10 anos sem usar livros de papel nas salas de aula, a Suécia vai voltar atrás.* O plano é investir 150 milhões de euros (cerca de R$ 800 milhões), até 2025, para devolver os livros às salas de aula. Os computadores entraram pouco a pouco nas escolas, tornando-se ferramenta essencial no ensino. São “o novo lápis, o novo papel, o novo livro”, como resumiu um educador sueco. Mas o debate do momento é no sentido de buscar o equilíbrio entre livro impresso e tecnologia. E uma das principais razões é que a Suécia vem caindo no ranking internacional de educação, depois de ter ocupado o primeiro lugar em 2001.
Considera-se internamente que a Suécia começou demasiado cedo a (e andou demasiado rápido na) revolução digital nas escolas. Nos últimos 15 anos, a digitalização nas escolas foi acelerada, os alunos nunca ou quase nunca escrevem a mão. “Estamos em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais na Suécia”, alerta um educador. Daí porque o país planeja a medida radical de tirar os computadores das salas de aula.
E as nossas escolas, principalmente em Minas Gerais, em que estágio se encontram? Para termos um retrato do momento, a reportagem do JL ouviu as diretoras de escolas em Resende Costa e São Tiago, no Campo das Vertentes. A primeira constatação é que, diferentemente da Suécia, não há computadores individuais em salas de aula. Basicamente, equipamentos e a rede de internet são usados, de um lado, na área administrativa/secretaria, e, de outro, pelos próprios alunos para avaliações e pesquisas.
Na E.E. Afonso Pena Junior, de São Tiago, por exemplo, há duas redes de internet voltadas para os usos (1) administrativo e (2) pedagógico, explica a diretora Antônia Beatriz de Oliveira Silva, a Bia. Todo o sistema é informatizado, desde o preenchimento do diário, à contratação de pessoal, ao controle de merenda etc. como, aliás, acontece nas outras escolas estaduais.
Mas o problema é o sinal da internet, que ainda é propagado por rede móvel (wi-fi), segundo Roseni Maria Fernandes, diretora da E. E. Assis Resende, em Resende Costa. “Já temos um projeto de rede lógica aprovado pela SEE (Secretaria Estadual da Educação) que possibilitará a propagação da internet por rede cabeada e potenciará mais esse acesso à rede de internet.”
Também na esfera municipal em Resende Costa, a área de gestão administrativa/secretaria (diários de classe, relatórios, boletins etc.), para além da área pedagógica, é totalmente informatizada, segundo a diretora da E. M. Paula Assis, no povoado do Ribeirão, Virgínia Daher de Oliveira Coelho.
Alunos
O acesso à internet por parte dos alunos é sempre orientado por um professor, explica Virgínia. A E.M. Paula Assis mantém uma sala de computação com 16 máquinas. “Mesmo com nossas crianças e jovens sendo criados numa era informatizada, muitos deles não sabiam usar o computador. Dominavam a internet no celular, mas sabiam pouco das ferramentas do computador. Portanto, as aulas no laboratório de informática, além de implementar o tradicional, tiveram esse fim.”
Na E.E. Afonso Pena Junior, uma das duas redes de internet é dedicada aos alunos, segundo Bia. Eles acessam bastante a internet para fazer avaliações (inclusive externas) e pesquisas (inclusive em redes digitais). O laboratório agora é que “está engrenando, porque tinha muita dificuldade para funcionamento.” O recurso disponibilizado na conta de Manutenção e Custeio da “Rede Lógica” fará com que o laboratório funcione melhor ainda, garante Bia.
Na E.E.Assis Resende, há um computador e um data-show para uso dos professores em sala de aula, “como mais uma ferramenta no processo ensino/aprendizagem”, diz Roseni. “Temos há algum tempo uma sala de multimídia com 27 computadores para uso dos alunos e professores. Porém, seu uso ficou mais sistematizado e mais organizado a partir de 2020, mais ou menos.” Os computadores disponibilizados pela SEE e a Rede Lógica levam a internet a todos os espaços das escolas, complementa.
Na E.M. Conjurados Resende Costa, a internet é usada essencialmente para os trabalhos pedagógicos. A escola conta com internet, sala de informática e tablete para alunos do 5º ano (1 por aluno), bem como lousas interativas e mesas playtable “para garantir aulas mais interativas aos alunos”, conta a diretora Rosenéia Aparecida da Silva Daher Resende. Assim, “fica mais fácil pesquisar vários conteúdos abordados em sala de aula, para complementar o processo ensino/aprendizagem”.
Livro didático
A E.M. Paula Assis “navega” entre a tradição e a inovação, resume Virgínia. “Parte por não poder oferecer implementos individuais, parte por acreditar na necessidade de trabalhar com a escrita e a interpretação dos alunos. As aulas são ministradas usando livro didático, quadro e giz.”
“Utilizamos livros em papel, disponibilizados pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) do governo federal”, diz Bia da E.E. Afonso Pena Junior. Livros didáticos, que nem sempre estão alinhados com a necessidade do professor, embora eles sejam “mais um para complementar o que o professor precisa”, acrescenta.
O livro como o principal material didático na escola e em toda a rede de ensino é também enfatizado por Roseni, da E.E. Assis Resende. “Os livros didáticos trazem conteúdos atualizados e ótimas orientações para auxiliar no trabalho dos professores”, acrescenta Rosenéia da E.M. Conjurados. “Em sala de aula, são usados basicamente livros impressos, caderno, quadro e giz.”
Redação e tabuada
As diretoras também destacam o papel da redação em sala de aula como fator fundamental do ensino. “Todos os alunos fazem redação; inclusive, no Novo Ensino Médio é disciplina separada. Fazemos simulado de ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) no 3° ano e cobramos redação”, conta Virgínia da E.M. Paula Assis.
“Há muita redação, até porque redação é um dos pontos fortes do ENEM”, reforça Bia, da E.E. Afonso Pena Junior. “Enfim, ainda estamos na era do texto escrito a mão”, complementa Roseni da E.E. Assis Resende. “Ainda usamos escrever a mão, tanto na produção de textos diversos, como textos literários (poesias, crônicas), resenhas, dissertação e textos publicitários”.
As redações em língua portuguesa têm “o objetivo de estimular a escrita, a criatividade e a criticidade, bem como o uso do parágrafo, pontuação e coesão”, reforça Rosenéia, da E.M. Conjurados.
No ensino da matemática, a E.M. Paula Assis ainda usa a velha e boa tabuada, além de jogos pedagógicos não virtuais, diz Virgínia. “A gente utiliza bastante a tabuada tradicional e eu, particularmente, acho que é necessário utilizar”, acrescenta Bia, da E.E. Afonso Pena Junior. Mas a escola procura ensinar muito com material concreto e também com os jogos digitais.
Na E.E. Assis Resende, em teoria, os alunos já chegam dominando a tabuada, explica Roseni. “Aqueles que ainda não consolidaram tal conhecimento, no Assis vão aprender através de atividades diversificadas.” Um professor usa, por exemplo, Geogebra “para ajudar os alunos na visualização e experimentação dos conteúdos matemáticos”. Além disso, procura “levar os alunos a uma compreensão de tabuada sem ser por meio de ´decorar´”; e ainda utiliza de materiais manipuláveis no ensino de frações “para que os alunos tenham noção das partes e do que elas representam em um todo”.
“Utilizamos o quadro, o livro didático, apostilas, tabuada, material concreto de geometria e listas de exercícios do método tradicional do ensino-aprendizagem da matemática”, resume Roseni. “E, numa perspectiva inovadora e pensando na construção do conhecimento matemático, temos valorizado as vivências do aluno no seu dia-a-dia.” Assim, a escola utiliza recursos didáticos, como jogos, livros literários, artes plásticas, computador, revistas edata-show(projetor) na Educação Matemática.
Da mesma forma, a E.M. Conjurados utiliza livros impressos, caderno, quadro, giz e jogos pedagógicos no ensino da matemática, diz Rosenéia. “A tabuada é introduzida no 3º ano do Ensino Fundamental, mas no 2º ano já começam a introduzir os conceitos matemáticos preparatórios para a multiplicação como, por exemplo, dobro, triplo…”
*Há algum país europeu a retirar os computadores das escolas? (CNN Portugal, 15/06/2023).
Veja também: O papel do computador