“O que vem salvando o artesanato de estanho é a Igreja Católica”. Assim reagiu o artesão Célio Luiz Giarola, da Ophicina Pewter Arte em Estanhos, ao responder a uma pergunta sobre o impacto da crise econômica no setor em 2015. E pelo visto não será muito diferente este ano.
A linha litúrgica e religiosa de peças confeccionadas por artesãos de estanho, em São João del-Rei, é formada em geral por cálices, patenas, âmbulas, conjunto de galhetas, ostensórios, jarros, castiçais, lavabo etc.
No ramo há 14 anos, Célio fabrica peças litúrgicas e artigos de uso e decoração, tendo o estanho como matéria-prima. O artesão entrou no segmento religioso em 2010 quando o mercado de estanho estava em baixa, empurrado pela crise financeira. “A crise de 2009 derrubou muita gente”.
Foi então que surgiu a oportunidade, aproveitada por Célio e outros artesãos do estanho. “A gente viu que esse ramo começava a aquecer, estava tendo boa saída em outras firmas.”
José Anselmo de Sousa, da Estanhos Santa Clara, é mais antigo no ramo e vende peças artesanais para igrejas há cerca de 20 anos. “Mas foi a partir de 2009 que as igrejas passaram a usar tudo em estanho, substituindo as peças de latão ou cobre banhadas em ouro e prata”.
Atualmente, 80% da linha de produtos da Santa Clara são peças religiosas feitas de estanho, conta José Anselmo. “O estanho é um produto nobre – não dá zinabre ou ferrugem –, é mais fácil de manter e mais barato.” A linha de produtos da empresa inclui presentes e decoração.
Na Faemam Estanhos – há mais de 27 anos no mercado - cerca de 25% das vendas são de peças da linha litúrgica, segundo seu representante Luiz Cláudio Gomes. Os clientes são paróquias, livrarias e distribuidores do ramo em todo o país.
A empresa produz ainda peças de adornos e utilitárias para o cotidiano, além de uma linha para eventos e comemorações, como troféus.
Mercado. A matéria-prima utilizada pelos artesãos é originária da região amazônica. O estanho chega fundido em lingotes a São João del-Rei, onde é refinado principalmente pela Melt, mas também por pequenas empresas. A empresa fornece o estanho “grau A”, sem quaisquer impurezas, explica José Anselmo.
Na comercialização, as empresas do setor - além das lojas locais frequentadas por turistas - vendem peças artesanais litúrgicas para o Brasil inteiro. No atacado, em geral trabalham com lojas e distribuidores, enquanto no varejo atendem solicitações de paróquias.
José Anselmo recebe pedidos que variam de duas ou três peças (paróquias, principalmente do Nordeste) a 100 peças (lojas que revendem ou distribuem). Geralmente, os interessados consultam o site e fazem as encomendas por telefone ou e-mail, com o pagamento na forma de depósito bancário ou duplicatas (via cobrança bancária). Ele tem a intenção de introduzir no futuro a venda pela internet.
A maior parte dos compradores de Célio é formada de lojistas dos vários estados (cerca de 100 peças por mês), mas ele fornece também pequenas quantidades (duas a seis peças) para paróquias. As vendas são feitas na loja virtual do site ou por telefone com o pagamento via boleto bancário. O envio é feito por meio de transportadora ou, no caso de paróquias, pelo correio.
“Temos como clientes deste ramo paróquias, livrarias e distribuidores em todo o país”, informa Luiz Claúdio. A Faemam mantém ainda duas lojas em São João del-Rei e uma em Tiradentes.
Além disso, é comum que as lojas recebam a visita de padres de outras regiões do estado e do país, que aproveitam a viagem para conhecer a cidade. “Esse mercado não teve crise em 2015 e este ano já estamos na correria de novo”, conclui animado Célio Giarola.