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Sesquicentenário (150 anos) de nascimento de Santos Dumont

27 de Setembro de 2023, por João Magalhães

Por circunstâncias pessoais, este texto, que era para sair na edição de agosto, sai agora nesta edição. Antes tarde do que nunca.

Minha admiração por Alberto Santos (por parte da mãe) Dumont (por parte do pai) é muito antiga e duradoura. Começou nos antigos anos do curso primário no Grupo Escolar Assis Resende com a professora D. Maria Ivone Sousa, que falava dele com patriotismo, realçado por ele ser mineiro e nosso vizinho de cidade, uma vez que nascera em Palmira, atualmente Santos Dumont, em homenagem a seu munícipe de fama mundial.

Essa admiração, quase culto, foi aumentando cada vez mais por leituras e visitas e até um aspecto familiar. Quando ele morou em São Paulo capital, quem engomava suas camisas eram duas tias-avós de minha esposa. A informação vem dela.

Das aulas de literatura infanto-juvenil para o 4º ano do magistério no Colégio Stella Maris/SP, falando sobre Júlio Verne, que alguns críticos acham que era um paranormal, tal a capacidade de prever o futuro. Exemplos: suas “Cinco Semanas em Balão”,“20.000 Léguas Submarinas”, “Capitão Nemo” (do submarino  náutilus) entre outras, li que Júlio Verne era o escritor predileto de Santos Dumont, desde sua alfabetização.

Quando do seu centenário de nascimento em 1973, percebi, pelos livros lidos, sua genialidade para a mecânica desde a tenra idade. Conforme um dos seus biógrafos, “Com apenas 12 anos de idade já tinha permissão paterna para dirigir as locomotivas Baldwin que puxavam os trens de transporte de café, nas linhas férreas assentadas entre os cafeeiros”.

A visita à fazenda Cabangu (hoje museu), onde Alberto Santos Dumont nasceu aos 20 de julho de 1873, Estação de Rocha, Distrito de João Ayres em Minas Gerais, onde seu pai Henrique Dumont, engenheiro que era, se instalara para construir um trecho da Estrada de Ferro D. Pedro II, mais tarde cidade de Palmira, hoje, Santos Dumont e a visita à “Encantada”, casa que ele construiu no morro do Encanto, em Petrópolis (atualmente museu, mantido pela prefeitura), mostram bem sua genialidade criativa e muito de sua personalidade.

Verdadeiro “Júlio Verne” brasileiro. Como um jovem, como ele podia imaginar e projetar tantas coisas que no futuro se tornariam realidades no nosso dia a dia? Isto no final do século dezenove e início do século vinte!!

A dirigibilidade dos balões, o avião, o hidroavião, o helicóptero, uma catapulta para salvar os náufragos (museu do Ipiranga/SP), um motor portátil para auxiliar os esquiadores, que apresentou resultados positivos nas experiências feitas na Suíça, o relógio de pulso etc.!

Quanto à sua personalidade, convém destacar sua simplicidade e o desapego. Embora, na época, fosse um ídolo mundial, multipremiado pelas criações, influenciando até na moda parisiense, a celebridade nunca lhe subiu à cabeça. Embora rico, sobretudo por herança familiar, jamais foi apegado ao dinheiro, às suas propriedades etc.

Esta coluna destaca sempre os grandes humanistas e Santos Dumont foi sem dúvida um deles. Melhor citar mais um de seus biógrafos: “Ele não corria atrás dos prêmios, pois visava a um ideal mais alto: a navegabilidade no espaço. Ele desejava ser útil à humanidade, no campo de sua vocação, contribuindo sem vantagens pecuniárias para a realização do voo pelo homem. Isso pode ser observado em todas as fases de sua vida aeronáutica, em que o desprendimento e o idealismo estiveram sempre presentes.”

A prova disso é a declaração dele à imprensa quando se inscreveu para o prêmio DEUTSCH para competir, pois o dinheiro do prêmio seria doado aos mecânicos que ajudavam e aos pobres de Paris. Ganhando, ele assim o fez.

Outra marca de seu humanismo é a depressão profunda que o atingiu ao assistir ao avião, criado por ele e sua paixão, ser usado como terrível arma de guerra.

De novo, um dos seus biógrafos: “A guerra de 1914-1918 abalou tremendamente o seu sistema nervoso; Santos Dumont acusava-se como único culpado da guerra aérea, dos acidentes aeronáuticos que ocorriam; enfim, de tudo o que fosse negativo para a aviação. Revoltava-se, portanto, o criador contra sua criação. O sofrimento advindo deixou-lhe um estigma naquela boníssima alma.

Na revolução de 1932, quando brasileiros lutaram contra brasileiros, ele não pôde resistir mais. Seu desaparecimento trágico ocorreu em 23 de julho de 1932, em Guarujá/SP. Vivera, intensamente, 59 anos.”

É o que penso. E você?

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