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Um novo ano

26 de Janeiro de 2023, por Evaldo Balbino

Calendários são criações humanas. Deus está fora do tempo e não precisa de demarcações. Mesmo assim delimitamos o sagrado, delineamos suas possíveis faces. E como são belas nossas representações, mesmo sendo imperfeitas! Nem passado nem presente nem futuro – nada disso existe para um eterno desde sempre existindo e continuamente vivendo. Nós, no entanto, somos escravos do tempo. Precisamos de organização porque em tudo, mesmo que inconscientemente, vemos apenas um caos, uma ausência de explicação e, portanto, de entendimento. Nada compreendendo, vamos criando formas e fôrmas, formando configurações que possam nos salvar.

Assim é o dia 01 de janeiro de cada ano. Feliz Ano Novo! – dizem. Boas Festas! – as pessoas ao nosso entorno desejam, por mero ritual ou de fato com sentimento verdadeiro. O mundo ao redor é vasto, e tantos são os desejos de vida – longa, apaziguada e com saúde.

Há os que desejam dinheiro, muito dinheiro, para si e/ou para os outros. Como se gosta de brincar: dinheiro não é problema, é solução. Brincadeiras à parte, sabemos muito bem que dinheiro sem saúde e sem paz não adianta. Pode ser a rainha ou o rei de um reino qualquer, cujas vidas são vidinhas mesmo como a de todo mundo, mas não deixando de ser importantes. Toda existência é admirável. Pode ser a vida real, de sangue nobre e tudo o mais, de brasão e ouro guardado a sete chaves em cofre luxuoso. Sabemos, e como bem sabemos, para usar aqui um chavão, que dinheiro não traz felicidade. Outra brincadeira: dinheiro não traz felicidade, manda comprá-la. Que comprar que nada! Temos a consciência de que não é bem assim.

Primeiramente, nos atravessa a certeza de que a felicidade não existe. Não existe como uma permanência, uma constante no existir. O que temos são momentos alegres e tristes, os dois sentimentos coexistindo ou se alternando. Dentro do espectro entre alegria e tristeza, vivemos. Certa vez Tônia Carrero foi indagada, numa entrevista, se era feliz. “Sim, diversas vezes ao dia” – ela respondeu com a profunda convicção do que estou falando.

Em segundo lugar, falemos dos momentos felizes. Eles podem até ser comprados. Mas sem dinheiro, tais momentos podem existir e de fato acontecem. Falo de bastante dinheiro, porque para se ter um pouco de dignidade nesta vida faz falta uma cota decente desse bendito ser monetário. O acontecimento da alegria, pois, não depende de materialidades.

Voltemos aos calendários, ao nosso em específico. Agora um Ano Novo, um eterno recomeçar da existência para quem está neste plano físico. Para além de nossas marcações temporais, vivemos. E vivemos esse para além principalmente quando estamos no plano espiritual. Aqui, ainda, aqui em nossa vida vidinha tão boa, vemos todo ano, na virada do dia 31 de dezembro para o dia 01 de janeiro, a possibilidade do recomeço. Daí almejarmos, para nós e para todos, um ano feliz. Necessitamos sonhar com isso.

O ano de 2022, especificamente no meu caso, foi muito denso. Eivado de perdas, quedou-se bastante vazio. Vazio de seres que eu amava e amarei sempre. Venho aprendendo a caminhar sem minha mãe, sem minha mana caçula e sem meu irmão que contava com 08 anos a mais do que eu. Aprender as perdas é lição difícil, porém inevitável. Mergulhado no vazio, busco encontrar nele o tudo, pois os meus continuam comigo, acredito, e porque fui testemunha de que eles precisavam descansar do fardo que estavam carregando. Todos, em nosso corpo físico, temos o momento certo para deixar o fardo quando ele pesa em demasia.

2022 foi também para mim, no curso que segue, um tempo de conquistas, de avanços, no plano pessoal e social. Estou crescendo, todos nós estamos. Eis, portanto, a prova de que vivemos entre alegrias e tristezas, uma coisa equilibrando-se com a outra, mesmo que às vezes a balança penda mais para um lado e contra a nossa vontade.

Vivamos, então, o nosso tempo! Os nossos tempos sentidos das formas mais variadas e possíveis. Vivamos a porta que se nos abre: este 2023 que nos chega e nos encontra prontos para continuar, apesar de todo o cansaço. Viver é necessário.

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