O que verdadeiramente importa para a análise da Conjuração Mineira, em sua estreita ligação com os acontecimentos que culminaram na Independência do Brasil, é a compreensão do seu sentido histórico. Qual o traço de união existente entre o revolucionário Joaquim José da Silva Xavier, os poetas Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa, o Padre Toledo? Todos sonharam com um país mais próspero e soberano.  

Na ordem do dia, estava a luta pela construção da Nação brasileira. Essa a característica fundamental do movimento de 1789 em Minas Gerais. E por que Minas? Porque em suas terras se formou, pela primeira vez entre nós, um mercado interno, colocando o brasileiro de Goiás em contato com o brasileiro do Rio de Janeiro e este com o brasileiro da Bahia. E por aí vamos. Surgia assim um sentimento de brasilidade que a cultura tão bem expressava. Por aqui, a cultura saía na frente, como que se antecipando ao Estado Nacional. Todo o poder à sociedade civil, tal poderia ser a palavra de ordem da Conjuração Mineira.

Os revolucionários de 1789 se moviam em um contexto marcado pela irrupção do ideário burguês no Ocidente. Eram os tempos da Revolução Americana e das transformações revolucionárias na França. Com a seguinte diferença, que dificultava um pouco as coisas: a Revolução Burguesa nos trópicos se processava em um ambiente colonial-escravista. 

Mesmo assim, a Conjuração de 1789 colocou questões que só se resolveriam de fato mais de trinta anos depois (e esse é o caso da Independência, em 1822). Ou, ainda, abordou lutas que culminariam na Abolição da Escravatura e na Proclamação da República, um século mais tarde!

A Conjuração Mineira se antecipou historicamente. Possui inegáveis traços inovadores. É necessário ressaltar isso. E foi, também, o máximo de consciência possível de sua época. Ou seja, o Brasil antes do Brasil.

 

*Historiador e autor, pela Aquarius Produções Culturais, da obra O caminho do alferes Tiradentes, uma edição comemorativa ao Bicentenário da Independência.