José Melo: histórico defensor e promotor do patrimônio de Santa Maria

“Tudo farei para o estreitamento da ligação entre as cidades de Resende Costa e Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, pelas razões históricas que as ligam.”


Perfil

José Venâncio de Resende1

José Melo, defensor e promotor do patrimônio de Santa Maria

Incansável, consciente, criativo e perseverante. Assim é o professor José de Andrade Melo, um exímio mestre na arte de unir atividades esportivas, culturais e ambientais. Nascido em 01/08/1962, em Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, Açores, em paralelo ao ensino desenvolve, há muitos anos, uma intensa atividade como voluntário nas áreas desportiva, ambiental e de bem-estar animal, além de ter várias preocupações sobre a sua ilha, de que muito se orgulha e ama: “As pessoas vêm aqui à procura do que é original, único e diferente; por isso, o patrimônio, tanto natural como cultural, deve ser bem preservado e divulgado. É o nosso ADN e a identidade que nos marca e diferencia!”

Docente licenciado pela Escola Superior de Educação de Leiria, desde 1986/87 José Melo é professor de Estudo do Meio Ambiente, Português e Matemática no 1º Ciclo (crianças até os 12 anos). Antes, desempenhou o cargo de diretor de escola e de coordenador de núcleo escolar, durante mais de 20 anos. Foi docente de Educação Física durante três anos, no Externato de Santa Maria (2º e 3º ciclos), e ainda membro do Conselho Pedagógico e da Assembleia de Escola, além de pertencer às equipes de elaboração dos projetos Educativo e Curricular e do Regulamento Interno da Escola Básica e Secundária de Santa Maria.

Na área ambiental, é qualificado como formador superior de Educação Ambiental pela Universidade do Minho e Direção Regional de Educação. Também possui os cursos de Implementação de Percursos Pedestres e de Guia de Percursos de Interpretação Ambiental, administrados pela Federação Portuguesa de Montanhismo e pela Associação “Amigos dos Açores”. É membro dos Conselhos Consultivos do Paleoparque de Santa Maria e do Parque Natural da Ilha e Júri do Programa Ecofreguesias.

Foi o pioneiro na organização de percursos pedestres, na ilha, e em campanhas de conservação da natureza (por exemplo, a Campanha “SOS-Cagarro”), bem como em atividades eco-cívicas e de educação ambiental. São exemplos: os Programas “Eco-Escolas” e “Bandeira Azul a Europa”, limpeza de praias, de ribeiras e proteção de vegetação endêmica.

No desporto, é autor de três roteiros pedestres, do livro “Figuras do Desporto Mariense” (Gala do Desporto Mariense); também é co-autor dos livros “Vila do Porto” (Publiçor) e “Lugares a Visitar em Portugal” (Seleções Reader’s Digest) e de panfletos turísticos. Escreve regularmente para o jornal “O Baluarte”, da ilha, e também para revistas e outros jornais dos Açores. Ainda participa de programas de rádio e profere palestras sobre ambiente e patrimônio.

José Melo foi treinador da seleção de juvenis da ilha, da equipe sênior do Clube Asas do Atlântico e da equipe de veteranos do Clube ANA. No atletismo, foi campeão de ilha e regional de juvenis e juniores, nos 80 e 100 metros. No futebol, foi jogador do Asas do Atlântico, do Gonçalo Velho e Marienses, em Santa Maria, e do União Sportiva e União Micaelense, na ilha de S.Miguel. Foi ainda um dos organizadores da Gala do Desporto Mariense e o criador da primeira equipe de Trail Run da ilha.

 

Voluntariado

José Melo é o mais destacado ativista de proteção da natureza, do patrimônio e da defesa dos animais na ilha, exercendo suas atividades voluntárias com grupos escolares, comunidade em geral e turistas. Nessas ações, representa duas instituições. “Sou guia turístico ligado ao patrimônio cultural e natural de Santa Maria, desenvolvendo o projeto ´Pedestrianismo, Cultura e Ambiente de Mãos Dadas´, há dez temporadas.” Essa atividade está vinculada ao Clube dos Amigos e Defensores do Patrimônio de Santa Maria e ao Grupo Desportivo do Gonçalo Velho (o mais antigo de Santa Maria e o segundo dos Açores).

No Clube dos Amigos, o trabalho é voltado para defender e promover o patrimônio (natureza, cultura e edificações históricas). Já no Grupo Desportivo, o objetivo é duplo: promover o desporto e a saúde e aproveitar as caminhadas para dar a conhecer as maiores riquezas ambientais e patrimoniais da ilha; ou seja, “juntam-se as atividades esportivas à vertente cultural e ambiental”.

Nas caminhadas, há uma atividade chamada eco-cívica (limpeza de praias e do litoral marinho), conta José Melo. “Apanhamos lixo que vem de longe, até da América Central, normalmente plásticos. São centenas de quilos de lixo depositado no oceano por embarcações, através das ribeiras do continente europeu, proveniente da atividade piscatória (cordas, restos de redes etc.) e das correntes marítimas, nomeadamente do golfo do México.”

José Melo ainda é representante de Santa Maria na Associação dos Amigos dos Açores e lidera o Grupo de Voluntários na Defesa dos Animais, do qual é fundador. No âmbito estudantil, trabalha com grupos de alunos de Santa Maria (além da sede e outra extensão em Vila do Porto, a escola tem edifícios nas freguesias de Santo Espírito, São Pedro e Aeroporto) e com associações juvenis das ilhas dos Açores. E ainda atende grupos profissionais e turistas nacionais e estrangeiros (17 nacionalidades nos últimos 10 anos).

 

Representação política

Há cinco mandatos, José Melo é deputado da Assembleia Municipal de Vila do Porto, que tem funções fiscalizadora e deliberativa. Também é membro do Conselho de Ilha, formado por deputados municipais, delegados sindicais, associações agrícolas, ambientais e de comerciantes, presidente da Câmara Municipal, três deputados regionais eleitos por Santa Maria e associações de igualdade de gênero e de outras forças vivas da ilha. “Na minha opinião, falta representante das associações culturais e esportivas, mas para isso teria que ser revista a lei regional dos Açores.”

De caráter consultivo, o Conselho de Ilha dá pareceres sobre leis e documentos de âmbito regional e outros assuntos específicos. “Pode ainda apresentar votos de protesto e reivindicações sobre assuntos de interesse público da ilha”, acrescenta José Melo. 

Entre as maiores preocupações de José Melo, está a necessidade de melhoria das acessibilidades, principalmente os transportes marítimos de passageiros e cargas. “O Governo descriminou a ilha com o corte do transporte de passageiros e há escassez e irregularidade no transporte de cargas.” Também faltam estratégia de turismo para Santa Maria e um plano de proteção da casa típica mariense, “arquitetura sui generis no contexto da ilha; um ícone da ilha que está a ser destruído ou adulterado. Já disse isso várias vezes na Assembleia Municipal e pedi para constar em ata, e também tenho escrito artigos no jornal “O Baluarte”: Cada casa típica que se permite adulterar ou destruir é um atrativo a menos para se visitar a ilha”.

José Melo relembra sua visita ao Brasil, em 2003, “à procura das cidades que são patrimônio histórico da humanidade, como Ouro Preto, das grandes fazendas de café e das antigas minas de ouro. Em Tiradentes e Congonhas, vi marcas da arquitetura da casa típica de Santa Maria”. Nessa época, ele ainda não tinha conhecimento de João de Resende Costa, de sua descendência e da cidade que levou o nome do seu neto. “Tudo farei para o estreitamento da ligação entre a cidade de Resende Costa e Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, pelas razões históricas que as ligam.”, compromete-se José Melo.

Ainda com relação ao patrimônio, outra preocupação de José Melo é com o abandono das antigas fortificações (séculos 16 e 17) de defesa da ilha contra os piratas e os corsários e com o “desprezo pelos moinhos de vento e de água (azenhas) que outrora foram vitais para a sobrevivência da população; é uma ofensa à memória coletiva pelo que representaram e um desperdício porque poderiam ser um atrativo para os turistas”.

Na área ambiental, as maiores preocupações são com a recuperação do geossítio do Barreiro da Faneca, com a gestão de resíduos, com a proteção do Monumento Natural da Pedreira do Campo e das jazidas de fósseis marinhos, com a recuperação dos currais de vinha e com a proteção da Estrelinha-de-Santa Maria, ave exclusiva da ilha e a menor da Europa.

Por fim, José Melo manifestou-se preocupado com o decréscimo demográfico ou despovoamento de Santa Maria (a população da ilha caiu de mais de 10 mil habitantes na década de 1960 para 5.414, que é a população atual, de acordo com o censo de 2021).    

Comentários

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    Que legal! Isso é importante! Os Reszendes são história, tanto em Portugal, como no Brasil. E deve ser registrado.


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