Portas que viram janelas


Cultura

João Magalhães0

O escritor Mário Márcio de Quadros (centro) com os editores da Coleção lageana, Rosalvo Pinto e Elaine Martins e a ilustradora Luísa Bacelar Resende (dir.)

Professor Mário Márcio de Quadros lança em Resende Costa seu primeiro livro, pela amiRCo / Coleção Lageana

Nos anos de trabalho com literatura para criança, lecionando a matéria para o 4º ano do curso normal (Magistério) do Colégio “Stella Maris” de São Paulo (especialização na pré-escola), a prática e os estágios com as normalistas em “Poesia e Criança” nos mostraram que o texto poético que mais motiva a criança é o poema que tem uma estimulante imagética, musicalidade e ritmo contagiante e poder de encantamento. Que prima pela dinâmica, agilidade, sonoridade e substantivação.

Na linguagem poundiana (Ezra Pound: Abc da Literatura), trabalha bem afanopeia, a melopeia, a logopeia. E também de Octávio Paz: “A poesia é antes de tudo uma arte verbal rítmica” (in “Soror Juana Ines de La Cruz”).

Foi isto que senti de imediato após rápida leitura de um original, anônimo como de praxe, o título instigante “Portas que viram janelas” enviado pelos editores da Coleção Lageana da AmiRCo de Resende Costa, pedindo um parecer para publicação ou não.

A leitura mais detalhada me perfilou, além de um excelente versejador, tecelão de palavras, um poeta telúrico que transporta qualquer pessoa criada nos antigos sítios aqui de nossa região para o mundo encantado das roças, dos quintais, dos pomares, do labor dos enxadeiros, dos tiradores de leite, das tecedeiras, dos carros de boi, do debulhar do milho, do bater feijão, dos pássaros, dos insetos, do moer cana, dos tachos de melado, das rapaduras, do tomar leite direto das maminhas da vaca, das festas do campo, das rezas, dos jogos nas vendas... E muito, muito mais.

Foi como entrar na porta da sala da casa onde fui criado e de lá contemplar as paisagens de minha infância e depois postar-me, janela por janela, olhando a horta, as bananeiras, as paineiras, a fonte, a engenhoca de moer cana do meu Tijuco!

E foi concentrando-me no público infantil que analisei o texto, ressalvando o que penso: todo texto que movimenta a criança agrada também o público adulto. E justifiquei o parecer amplamente favorável: a Lageana publicaria, como publicou agora, um belo poema e, novidade: excelente para a criança.

Excelente pelas visões, imagens, figuras, paisagens, fauna, flora, capelas, moinhos, casas, alimentos...

Excelente pela musicalidade orquestrada, pela beleza e diversificação das rimas, pela batida das aliterações. (“Tem tralha, tem trilha, tem troça, tem tanque, tem traque”), pelo refrão das “portas que viram janelas”, “das portas de taramelas”, pela toada das quadrasetc.

Excelente pela operacionalidade. O professor pode jogralizar o texto com as crianças, a criança pode ilustrá-lo, pode fazer seu próprio poema, inspirado nos versos, motiva uma visita para ver in loco o que o poema marcou e bem mais.

 

Parabéns Mário Márcio! Parabéns igualmente à jovem Luísa Bacelar Resende, pela beleza das ilustrações. O breve posfácio de José Olímpio de Magalhães também contribui muito pelo teor informativo e oportunidade da reflexão.

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