Um tear manual para retalhos de tecidos, no museu de Resende


Cultura

José Venâncio de Resende0

Antigo tear manual em exposição no Museu Municipal de Resende. Foto José Venâncio

Um antigo tear manual, utilizado para tecer mantas (colchas) de algodão e retalhos de tecidos usados e novos, encontra-se em exposição no Museu Municipal de Resende, no norte de Portugal. Trata-se de uma peça artesanal inteiramente confeccionada em madeira.

É difícil saber com precisão a data de fabricação deste tipo de tear, explica padre Joaquim Correia Duarte, especialista em Resende (família e cidade). “Esse e outros eram muito usados pelas tecedeiras desta região e do país, desde remotas eras. De minha recordação, em meados do século passado, em todas as freguesias deste concelho havia uma, duas ou mais tecedeiras que faziam, por encomenda, ´mantas de farrapos´ para as camas, colchas de linho e algodão (algumas muito decoradas e cheias de beleza e arte) e toalhas de mesa”. 

Não se encontram mais tecedeiras deste tipo de manta em Resende. Mas a estagiária de informática do Museu, Antônia Maria de Almeida Lourenço Machado, ainda tem na sua casa duas cobertas antigas, feitas com retalhos de tecidos. Ela utiliza estas mantas como cobertura para o sofá ou como tapete.

Para padre Joaquim, o tear pode ter sido levado por emigrantes do norte de Portugal para os Açores e daí para o Brasil, ou mesmo diretamente do norte de Portugal para Minas Gerais. A principal atividade econômica de Resende Costa é justamente a confecção de produtos artesanais no tear manual, desde tapetinhos a colchas de casal.

 

Capelinha. Um chafariz e uma capelinha abandonada, do século 18, são relíquias que ainda restam do antigo Paço (ou Palácio) de Resende. Padre Joaquim acredita que a capelinha, sem estilo bem definido, tenha sido dedicada a Santo Antônio pelo seu construtor - o primeiro conde de Resende, Antônio José de Castro -, que tinha o mesmo nome do santo.

O Paço (do latim palatium) era uma vila da época em que os romanos dominaram a Península Ibérica. Posteriormente, essas terras foram conquistadas pelos povos germânicos originários da região onde é a atual Alemanha.  

Existem diferentes versões sobre a origem de Resende, mas padre Joaquim considera mais consistente a versão de que um conquistador germânico (visigótico ou suevo) tenha se apoderado da vila romana ou palácio. É provável que este senhor tivesse o nome de Redisindus, o que teria resultado em Vila Redisindi.

Depois de longo período de guerras (conquistas e reconquistas), envolvendo mouros e cristãos, nos finais do século 10 os Gascos (importante família de Entre-Douro-e-Minho),ascendentes de Egas Moniz de Ribadouro, teriam recuperado em definitivo a região. Foi assim que o Paço – ou Vila Redisindi - fora parar às mãos de Egas Moniz. Com a vitória na Batalha de S. Mamede (contra as tropas do conde galego Fernão Peres de Trava, que tentava apoderar-se do governo do Condado Portucalense), por volta de 1130, D. Afonso Henriques instituiu a grande “Honra de Resende” em favor de Egas Moniz, como reconhecimento da sua lealdade àquele jovem que seria o primeiro rei de Portugal.

Resende foi uma das mais importantes “Honras” (senhorio privilegiado de fidalgos) do Reino, até finais do século 15, explica padre Joaquim. “O espaço geográfico da Honra, de acordo com as Inquirições de D. Afonso III (1258) onde são enumeradas todas as suas vilas e lugares, abrangia as atuais freguesias de Resende e Felgueiras e grande parte da freguesia de Cárquere. Nesta área enorme, era o senhor e os funcionários por ele nomeados que administravam a justiça e recebiam os impostos do povo.”

 

Descendentes. Os descendentes do filho mais velho de Egas Moniz (era este o costume da época) mantiveram a posse do Paço e da “Honra de Resende” até o final do século 15, quando morreu Vasco Martins de Resende – II, em Julho de 1473, sem descendentes diretos, relata padre Joaquim. “E andando a discutir em tribunal a posse da Honra, os herdeiros (sobrinhos) da viúva do falecido, D. Maria de Castro, o rei D. Manuel I aproveitou a situação para criar um novo concelho no lugar da antiga Honra, assinando uma Carta de Foral, em 16 de Julho de 1514.” Dessa forma, a arrecadação de direitos para a Coroa portuguesa deixava de pertencer aos antigos donos da Honra.   

“Pela primeira vez na história desta terra de Resende, deixou então o povo de servir o senhor da terra para começar a ter uma administração própria e independente”, conclui padre Joaquim. A partir daí, Resende passou a ter órgãos próprios para a sua administração, ficando assim, desde então até hoje, a usufruir de autonomia e independência na sua vida social e econômica.

 

Um dos herdeiros de D. Maria era Antônio José de Castro, que alguns séculos depois recuperaria o título de Resende pelas mãos do rei D. José. 

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