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100 ANOS da Escola Estadual Assis Resende

16 de Abril de 2019, por Edésio Lara

Primeira turma de formandos do Grupo Escolar Assis Resende em 1920

Neste ano, nossa Escola Estadual Assis Resende, localizada na Praça Rosa Penido, completa 100 anos de fundação. Apesar de o decreto que criou o Grupo Escolar ser de 1912, mesmo ano de emancipação do município, o prédio só foi inaugurado em 21 de julho de 1919. Foram necessários sete anos para que o edifício ficasse pronto, pois faltaram os recursos necessários para sua construção. Agora é hora de festejar. É hora de recuperar, através de imagens, depoimentos, dados estatísticos e documentos diversos, fatos ocorridos no âmbito dessa escola que abrigou e alfabetizou quase todos os resende-costenses ao longo de um século. Eu sou um deles. Nela cursei os quatro primeiros anos de grupo (assim chamávamos os quatro anos iniciais do atual Ensino Fundamental) e o ginásio. Não posso me esquecer de que, para cursar o ginásio, frequentei um ano de admissão, curso preparatório oferecido pelo saudoso professor Geraldo Sebastião Chaves, na parte de baixo do sobrado do Osório Chaves, nos Quatro Cantos – prédio que foi demolido e, no local, anos depois, foi construído o Supermercado Sobrado.

Daqueles anos iniciais, deparei-me com uma fotografia que está no salão da escola. Uma fotografia linda, de 1920, registra o corpo docente de cinco professoras e grupo alunos constituído de cinco meninas e cinco meninos, além de um padre, o diretor da escola e o inspetor de ensino. Quem me fez voltar o olhar para esta foto foi a professora de apoio Regina Aparecida de Sousa. Atrás do quadro, que contém a foto de16,5 x 12,0 centímetros e sem identificação do fotógrafo, está escrito: 1ª turma de formandos. Em pé, no sentido horário estão: Padre Ovídio, D. Adelaide Vale, Flordelice da Silva, José Augusto Rezende, D. Matilde Rios, D. Maria José Rodrigues, D. Dulce Lara e Coronel João de Souza Maia.

Assentados, também no sentido horário: Francisca (Quiquita), filha do Joaquim de Melo; Alzira Lourdes; Elvira (Vivi) Gomes, Aurélio Coelho, José Jacinto (Zizi Lara); Antônio Procópio (alfaiate); José Macedo (Juquita) e Francisco (Chico da Florença).  

Dona Eunice de Sousa Gomes, ex-professora e ex-diretora da escola, me disse que padre Ovídio, de família da cidade, foi o primeiro sacerdote nascido em Resende Costa a deixar a batina. Outro homem é o professor José Augusto de Rezende. Ele deu posse às primeiras professoras Matilde Rios, Maria José Rodrigues e Ambrosina Pellucio. Na ata de posse das três professoras, o diretor registrou: “Villa Rezende Costa, 4 de julho de 1919. O diretor do grupo, José Augusto de Rezende”. E na ponta dos que estão em pé, o Coronel João de Sousa Maia, que veio a ser o inspetor escolar.

Enquanto os rapazes brancos calçavam borzeguins, Chico da Florença, de cor negra, apresentou-se para o fotógrafo com os pés descalços. Andar descalço era comum, mas vestir-se bem e usar sapatos para uma fotografia, não. A falta dos calçados nos pés do menino é registro claro das dificuldades financeiras, da falta de recursos da família para lhe comprar os calçados para aquele momento festivo.

A postura, no entanto, e roupa também eram as mesmas dos demais colegas e muito bem acabada. Parecia sinalizar o futuro que aguardava o pobre menino de tornar-se alfaiate. Ele cresceu, constituiu família ao se casar com Dona Nilza para ter quatro filhos: Veneranda, Justiniano, Lalica e Iêda. Segundo Agenor Gomes Neto, que conheceu bem o Chico da Florença, ele era muito inteligente e tinha uma letra (caligrafia) inigualável, muito bonita. Por esse motivo, o Chico sempre esteve no cartório de registro civil de seu pai, auxiliando-o na escrita dos livros de registro. Na idade adulta, tornou-se Juiz de Paz em Resende Costa.

Conversando com os amigos Lico (filho do senhor Ananias) e com o Iraci (filho do Ivan Barbosa), eles, que conheceram bem o Chico da Florença, me contaram casos sobre a vida desse homem simples e bem humorado. Chico da Florença gostava de acordar mais tarde, trabalhar com “aquela calma” que lhe era peculiar e de bater uma boa prosa com os amigos no meio da tarde. Adorava ler e frequentar o fórum da cidade, lugar em que podia manter contato com muitos conhecidos. Tornou-se alfaiate e, com aquela calma citada acima, os seus fregueses tinham que fazer suas encomendas com muita antecedência. Quem passava pela Rua José Jacinto 121 – a que liga a Matriz ao cemitério da cidade – podia vê-lo perto da janela cortando panos e costurando os muitos ternos que tinha de entregar, principalmente antes da Semana Santa.

Ao longo do ano, pretendo, nesta coluna, me dedicar a fatos e pessoas que estudaram nessa prestigiosa escola de nossa cidade.

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