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Escola Assis Resende: uma herança familiar

14 de Maio de 2019, por Edésio Lara

A aluna Mirtes Coelho (Foto arquivo particular)

Dona Matilde, dona Vivi, dona Ondina e dona Helena, todas elas deram aulas para a dona Mirtes Coelho de Lima, 94 anos, que nasceu em primeiro de março de 1925, seis anos após a fundação do então Grupo Escolar Assis Resende. Foi para a escola primária quando completou sete anos de idade, para ser aluna das primeiras professoras nomeadas pelo professor e primeiro diretor do educandário, José Augusto de Rezende. Em 19 de janeiro de 1932, dona Mirtes recebeu a carteira e, no dia seguinte, foi matriculada no primeiro anno do curso na classe da professora Helena Baia da Fonseca. Ao registrar a filiação, a caderneta escolar impressa não tinha espaço para o lançamento do nome da mãe. Nela consta nacionalidade, naturalidade – Resende Costa –, filiação: Francisco Coelho e profissão do pae: lavrador. Quem assinou a carteirinha de aluna foi a diretora Ana Rocha. Não havia uma linha, um espaço para que o nome da mãe também fosse anotado. Uma pena.

A escola Assis Resende teve, ao ser criada, três homens à frente do seu comando: um diretor, um inspetor escolar e um sacerdote que, mesmo não pertencendo ao grupo de educadores, estava sempre por perto, presente em tudo. É preciso registrar que, na virada do século XIX para o XX, homens de importância nas vilas e cidades, além de outros afazeres, costumavam atuar como “professores das primeiras letras” até a fundação de escolas públicas. Desde então, como é o caso da nossa Assis Resende, na segunda década do século XX, a função passou a ser cumprida pelas mulheres.

O esposo de dona Mirtes, João de Sousa Lima, por sua vez, foi alunno da Escola pública rural e mista de Conceição de Curralinho (atual Curralinho dos Paulas), município de Resende Costa. Datada de 3 de janeiro de 1926, nela está escrito: Anno do curso: 1º - professora Rosa Soares Penido. Não nos custa chamar a atenção aqui para dois detalhes: escola rural e mista e a professora, que hoje tem seu nome perpetuado na praça onde se localiza a Escola Estadual Assis Resende, na sede do município. Fato curioso é que, apesar de mista também, na minha época – década de 1960 – no Assis Resende, o nosso recreio (período de descanso, brincadeiras e merenda) era dividido. Os meninos ficavam do lado esquerdo e as meninas à direita, para quem está de frente para o prédio da escola.

Dona Mirtes, irmã de dona Marizica (Maria Auxiliadora Coelho Reis), também professora e mãe do nosso pároco Fábio Rômulo Reis, se recorda das professoras que teve e com admiração e respeito por elas, antes de dizer: “Eu tomei bomba duas vezes no primeiro ano, nada entrava na minha cabeça. Eu aprendi pouco. Eu achava muito difícil, tive muita dificuldade. Fazia muitas cópias, pois não tinha professores fora (particulares) para ajudar. Diferente de hoje, a gente cantava, rezava todo dia. Era tudo muito bom e eu gostava de desenhar e até tinha nota boa.”

Ao citar nomes de muitos colegas, disse com gosto de “Maria José Severino, uma pretinha, era inteligente que só vendo. Na matemática, então, só vendo.” Para brincar na escola, o que mais gostava era de roda. Brincar de roda (dançar de mãos dadas e em círculo) e cantar eram das diversões que mais admirava, além de fazer tricô, que aprendeu com dona Odete.  

Sentada ao seu lado, a neta de dona Mirtes, Geovanna Cristina Lima Gonçalves, 11 anos, aluna da 6ª série, se lembra de ouvir a avó dizer que, no passado, diferente de agora, os alunos ficavam menos tempo na escola. A garota, muito ativa, revelou que “a escola é uma maravilha e que tem oito professores. Eles são muito educados e, quando têm de chamar atenção, não ficam enrolando.” Segundo ela, as matérias com as quais tem mais facilidade e gosto são Ciências, em primeiro lugar, e depois, Língua Portuguesa e Artes. A maior dificuldade: História. O que mais a incomoda está relacionado à infraestrutura: cadeiras quebradas ou a falta delas.

Então, eu perguntei à Geovanna: “Se você fosse a diretora da escola, o que faria de imediato?” Ela respondeu: “Ah, eu colocaria mais aulas, aulas de dança, por exemplo, porque eu gosto muito de dançar.”  

Maria Auxiliadora Coelho Reis, filha de dona Mirtes e mãe da Geovanna, falou das emoções que cercam seu trabalho de cantineira na escola, onde sua avó Dulce Lara e sua tia Marizica atuaram como professoras, sua mãe estudou, uma filha se formou no ensino médio e onde atualmente estuda sua filha caçula Geovana. A Escola Estadual Assis Resende, que completará 100 anos em julho, conta em todas essas décadas com a presença de membros da família Coelho de Lima. “O Assis Resende faz parte da minha vida, está na raiz mesmo!”, disse Maria Auxiliadora.

A história de vida dessa família não é similar à de tantas outras da nossa cidade?

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