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A cidade e os seus parklets

27 de Setembro de 2023, por Edésio Lara

Thomas Hoving (1931-2009), um executivo ousado e criativo, foi diretor do maravilhoso Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque (EUA), entre os anos de 1967 e 1977. Dois anos antes de assumir suas atividades no museu, ele recebeu o convite de John Vliet Lindsay, prefeito da cidade, para ser o administrador dos parques de Nova Iorque.  No cargo, ele teve uma ideia brilhante: criar espaços que expandissem as calçadas e, com isso, proporcionar ambientes de convivência para os transeuntes. Esses espaços passaram a ser conhecidos como parklets (miniparques). A ideia de Thomas Hoving deu tão certo que começou a ser copiada por outros administradores municipais de cidades espalhadas pelo mundo afora.

Os parklets podem ter diferentes formatos, desde que sejam abertos para a calçada. Isso permite que seus usuários tenham uma visão ampla dos espaços ao seu redor. Neles pode haver mesas, bancos, lixeiras, guarda-sóis, floreiras e estacionamento de bicicletas, por exemplo, dependendo do seu tamanho. São espaços públicos adequados para leituras, bate-papos, descanso e distração enquanto se observa o lugar e todo o movimento no seu entorno. Já há parklets que possuem até Wi-Fi, a fim de facilitarem o acesso à internet para quem deles faz uso.

No Brasil, a instalação deles não demorou a acontecer. Eles estão em vias públicas de movimento constante. Em Belo Horizonte/MG, os primeiros surgiram na Savassi, região muito frequentada por causa do comércio local. A criação desses espaços bonitos e aconchegantes influencia positivamente todos os cidadãos. É, ainda, um convite para pessoas andarem a pé. E é também lugar ideal para aqueles que preferem ficar sentados, esperando por outros que circulam entre lojas fazendo compras. E o comércio local se beneficia com a colocação deles.  

Em cidades grandes, como é o caso de São Paulo e Porto Alegre, além de outras, há regulamento para expansão do passeio público. Fica o solicitante, após aprovação de cada prefeitura, a análise de projeto e consequente autorização de sua instalação, lembrando que o parklet nem sempre pode ser usado como ponto comercial de quem o instalou. Os benefícios para o responsável pela instalação dele advêm da vitalidade, da diversidade proposta dos seus projetos arquitetônicos que tornam esses ambientes muito agradáveis.

Seguindo a tendência de grandes centros, pequenas cidades optaram também por promover a instalação do parklet em seus espaços públicos. Foi o que aconteceu com Resende Costa. No mês de agosto passado, os moradores da cidade e os turistas viram ser construídos 8 deles na Av. Alfredo Penido, chamada por muitas pessoas por Avenida do Artesanato. Revitalizada, ela agora conta com 8 parklets. Eles estão na mesma altura das calçadas, o que facilita o acesso a eles por pessoas com deficiência (PcD) ou cadeirantes. E enquanto eles eram colocados, já havia pessoas fazendo uso deles, bem como de outras que olhavam, curiosas, sem saber ao certo o que estava acontecendo.

Enquanto isso, surgiram os que não aprovam a ideia. Nas redes sociais, houve quem protestou. Alguns falam em desperdício, dinheiro público (nosso) jogado fora. E que os espaços expandidos causarão acidentes, atrapalharão o trânsito de veículos e o comércio local. E que o material que está sendo utilizado, além de não ser de qualidade, é feio. 

Isso é natural, porém havemos de concordar com o seguinte: o projeto arquitetônico foi amplamente discutido, com vídeos colocados na Internet, mostrando o que estava por vir. A Câmara Municipal, composta por nove vereadores que nos representam ante o Poder Executivo Municipal, também analisou tudo e aceitou a proposta que lhe foi apresentada.

Há, portanto, um bloco que pensa nos pedestres, nas pessoas que precisam de um espaço para um breve descanso. Esse grupo que apoia entende que nós todos precisamos repensar nossos modos de circular com veículos pela avenida, respeitar os transeuntes e dar preferência a eles e, claro, dirigir com cuidado. Por isso, foram colocadas mais elevatórias (que também servem como redutores de velocidade), a fim de dar mais segurança aos que necessitam atravessar a avenida de um lado para outro.

O último fim de semana prolongado de 7 de setembro, quando a cidade estava super cheia de veículos e pessoas, não houve engarrafamentos, nem acidentes ou contratempos por causa dos parklets. Houve, sim, pessoas fazendo bom uso deles. Tomara que seja sempre assim!

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