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Comunicações que nos são transmitidas pelos alto-falantes da igreja Matriz

28 de Junho de 2023, por Edésio Lara

Os mais jovens, que têm acesso fácil a um aparelho celular (smartphone) com número absurdo de funções, talvez nem saibam como se davam as comunicações entre pessoas até cinco décadas atrás. Enquanto escrevo este texto, tenho ao lado do meu notebook um celular ligado e eu acompanhando o jogo entre São Paulo x Grêmio pela série A do Campeonato Brasileiro de futebol, neste domingo, 4 de junho. Uma ação dessa, meio século antes, seria pura ficção científica.

Tudo mudou muito, e, em tempo, desde as primeiras invenções relacionadas a equipamentos de comunicação. O microfone foi inventado pelo alemão Emil Berlinerem 1877. Dez anos depois (1887), o telefone foi criado por Alexander Graham Bell, nos Estados Unidos da América. Portanto, nada disso é tão velho quanto parece. Já no finalzinho do século XIX, em 1896, consta que o italiano Guglielmo Marconi inventou o rádio. As três invenções tornaram-se importantíssimas para mudar de vez a maneira como os humanos passaram a se comunicar uns com outros de maneira mais direta, rápida. As vantagens, para todos nós, desses inventos são incalculáveis.

De posse de um microfone e outros equipamentos adequados para reprodução e amplificação da voz humana, qualquer pessoa passou a ter condição de se comunicar com outras em ambientes diversos, independentes de eles serem abertos ou não. Aos poucos, desde que criado, em ginásios e estádios esportivos, escolas, comércio e igrejas, por exemplo, o microfone nunca mais deixou de ser usado.

Séculos atrás, XVIII e início do XIX, principalmente, quando esses equipamentos ainda não existiam e havia necessidade de chamar a atenção do povo a fim de comunicar algum fato de importância, era comum o emprego de bandos, pequenos grupos de homens que, montados a cavalo e portando bandeiras, usando cornetas e tambores, buscavam, com o som produzido pelos instrumentos, chamar a atenção e reunir pessoas para ouvir o que tinham para informar. Muitas vezes, governantes faziam uso desses grupos para tal fim, já que não havia outra forma de transmitir alguma notícia de maneira rápida para a comunidade. Aos poucos, esses serviços foram sendo substituídos por outras formas de comunicação, que incluíam o uso de autofalantes e rádios, por exemplo.

As igrejas também viram que transmitir avisos através dos alto-falantes instalados no alto de suas torres passou a ser interessante tanto para elas quanto para os seus fiéis. Anúncios de missas, procissões e outros acontecimentos de interesse dos paroquiamos passaram a ser muito utilizados. Entre essas comunicações, as de falecimento e de horários de enterros tornaram-se comuns. E para esse tipo de informação, sempre se fez uso de uma música fúnebre. Em Resende Costa, por longo tempo, a que se ouvia era a “Marcha da Paixão”, música cuja autoria é atribuída ao são-joanense Ireno Batista Lopes. A música, ao ser tocada, fazia com que um silêncio se instalasse na cidade para que a mensagem pudesse ser escutada por todos. Certa vez, um padre que aqui chegou, achando que a música era muito triste, optou por trocá-la por outra. Escolheu, então, a “Cantilena”, uma composição de Heitor Villa-Lobos. A melodia, que de fúnebre não tem nada, pelo menos entre nós passou a ter esse caráter.

Pouco tempo atrás, foi a vez de essa música ser abandonada e dar lugar para “Exéquias”, uma canção do famoso compositor e intérprete Padre Zezinho. Agora essa música não será mais ouvida, já que o Conselho Paroquial (como apareceu no facebook) decidiu que anúncios fúnebres não serão mais comunicados através dos alto-falantes da igreja Matriz.

A reação negativa de muitas pessoas foi imediata. Interrompeu-se um serviço de utilidade pública e de tradição em nossa cidade. Uma internauta disse que eles deverão ser realizados através de um automóvel a circular pela cidade. Outra quis justificar essa mudança, dizendo que a cidade cresceu.

Nossa Resende Costa cresceu sim, mas nem tanto. O serviço que prestava à comunidade de comunicar o falecimento de pessoas do município, os horários de velório e sepultamento, vai fazer falta. Se a Paróquia insistir na suspensão dos anúncios fúnebres, apagará uma das tradições da nossa cidade, que bem a distingue de outras tantas espalhadas pelo país.

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