Voltar a todos os posts

Considerações acerca do Carnaval: não deveríamos tentar realizá-lo no Parque do Campo?

29 de Marco de 2023, por Edésio Lara

No início da década de 1940, foi que, podemos dizer, nasceu o Carnaval resende-costense. A contragosto e com forte crítica da Igreja Católica e de setores da sociedade local, alguns jovens se atreveram a sair fantasiados, tocar alguns instrumentos musicais, cantar e dançar. Mais tarde, bailes carnavalescos começaram a ser realizados no Teatro Municipal com músicas interpretadas por instrumentistas da banda de música local.  Além disso, havia os blocos carnavalescos que desfilavam pela Rua Gonçalves Pinto (que chamamos de avenida), o que dava um brilho especial à festa.

No século passado, sambas e marchas carnavalescas eram aguardados por todos e com certa antecedência. Era preciso ouvi-los através do rádio, decorá-los para serem cantados pelos foliões. Eram canções com letras e melodias simples, que facilmente ficavam gravadas na memória do povo. Isso funcionou tão bem que até hoje, depois de décadas, essas músicas ainda fazem parte do nosso repertório. E a primeira canção carnavalesca a fazer sucesso foi composta por uma mulher, Chiquinha Gonzaga, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Numa época em que a participação de mulheres se apresentando como compositoras e instrumentistas era quase nula, ela, em 1899, compôs “Ô Abre Alas”, obra que conhecemos e ainda cantamos no Carnaval.

Para refletir um pouco acerca do nosso Carnaval, comecemos pelo baile carnavalesco, que é bom dizer, não era para todos. O espaço pequeno não comportava todos que lá queriam entrar. Por sorte dos organizadores, muitos jovens, até meados da década de 1970, eram barrados na porta do Teatro Municipal por serem menores de idade. E havia aqueles que, por imposição dos pais, só podiam ficar na rua até as 22h.

É fácil perceber mudanças ocorridas desde aquela época na maneira de realizar o Carnaval em Resende Costa. A cidade cresceu, os dois blocos carnavalescos que desfilavam na avenida desapareceram. Os bailes no Teatro deixaram de ser realizados quando a festa passou a ser toda ela feita na rua. Aos poucos, foram surgindo os blocos destinados a promover uma festa com muitos dias de antecedência das datas oficiais do Carnaval. E foi um sucesso. Esses blocos, que surgiram quase que espontaneamente, mantiveram-se firmes até antes da pandemia. Verificou-se também, nesse período, certo esvaziamento da cidade durante os dias oficiais da folia, quando muitos optavam por aproveitar a festa em cidades vizinhas. Notou-se, então, que algo precisava ser feito a fim de tornar nosso Carnaval melhor, mais atrativo... Enfim, fazer com que foliões se sentissem motivados a permanecer na cidade entre o sábado e a terça-feira.

Algumas ações foram colocadas em prática, como a entrada em cena do disk jockey (DJ), colocação de arquibancadas e tendas para maior conforto dos foliões, banheiros químicos e até contratação de seguranças particulares. Ambientes distintos foram criados para atender os que apreciam funk e pagode, por exemplo, e outro somente com sambas e marchinhas. Porém, uma coisa é certa: não dá para promover um momento de Carnaval para as crianças, oferecendo-lhes um repertório que nada tem a ver com elas. O descaso para com as meninas e meninos é imenso e vem de longa data. Certo dia, sem músicos para tocar e cantar para elas, o prefeito municipal precisou, às pressas, providenciar uma caixa de som para, com celular, colocar música para as crianças. Além do mais, crianças devem ouvir músicas escritas especialmente para elas, jamais funk, pagode ou outros gêneros que lhes são até inadequados.

Por fim, é preciso oferecer aos foliões os banheiros químicos desde o primeiro dia de festa, que ocorre já a partir de uns dez dias antes do sábado de Carnaval. Caso contrário, nossas ruas e becos continuarão a ser mictórios a céu aberto, da forma como aconteceu recentemente. Além disso, o desmonte de arquibancadas, barracas e toldos precisa ser mais rápido, terminada a festa, a fim de desobstruir a área central da cidade.

Penso que passou da hora de tentarmos promover o Carnaval no Parque do Campo, que tem estrutura muito mais adequada para a realização de festas para grande público como essa.

Finalmente, não é só com investimento maior feito pela Prefeitura Municipal que se tem garantia de melhoria da festa. Da mesma forma que não é deixando por conta de empresários que se tem certeza da contração de boas bandas para abrilhantar a folia. E a realização de eventos em bairros, da forma como ocorreu em 2019, deveria ter sido mantida.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário