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Memórias de ex-soldado do Exército Brasileiro

27 de Marco de 2024, por Edésio Lara

Foi há 50 anos, no dia 15 de março de 1974, quando, depois de convocado, iniciei minha atividade de soldado no 11º Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro – 4ª Região Militar – sediado em São João del-Rei/MG. Naquele ano, o presidente da República era o General Emílio Garrastazu Médici, que estava no último ano do mandato, quando o governador do nosso estado era Rondon Pacheco, eleito de forma indireta pela Assembleia Legislativa. Tínhamos, além do nosso ordenado, alimentação, todo o fardamento e dormitório. Além disso, nós que estudávamos à noite tínhamos autorização do alto comando para chegar ao batalhão após as 22h. Aquele ano foi muito importante não só para mim, mas também para todos os colegas de farda, não tenho dúvida.

Naquela época, uma equipe do batalhão deixava São João del-Rei para percorrer cidades vizinhas a fim de selecionar jovens que pudessem servir ao exército por um período de 10 meses. De Resende Costa, fui um dos escolhidos para iniciar na carreira militar como recruta (Reco). Em março daquele ano, teve início, portanto, uma série de treinamentos e de trabalhos destinados a nos preparar para atuar em defesa da pátria. Coube-me trabalhar com o morteiro 60 mm, além do fuzil automático leve (FAL) e, em alguns momentos, a pistola 45 Taurus. Saí 10 meses e um dia depois (15/01/75), qualificado como soldado municiador.

As lições que tínhamos eram muitas e as obrigações também.  A primeira que recebemos foi no dia de nossa apresentação. Chegamos ao batalhão em dia chuvoso. Nós, da 1ª Companhia de Fuzileiros, fomos levados até a avenida para retornarmos ao batalhão subindo por uma rampa barrenta, extremamente escorregadia. A dificuldade em subi-la só foi resolvida depois de começarmos a nos ajudar uns aos outros. Ali estava o primeiro recado para todos: sozinhos, éramos frágeis; juntos, tornávamo-nos fortes. Fomos, desde então, convidados a atuar juntos e de forma coesa com os demais colegas de farda. Sob o comando do Tenente-Coronel Sidônio Barroso Dias, nos deparamos com algo bastante sério no Exército: ter responsabilidade, respeitar o outro, ser disciplinado e obediente àquilo que os superiores determinam e orgulhar-se de prestar o serviço militar.

Quando chegamos à 1ª Companhia, ficamos conhecendo nosso comandante: Tenente Homero de Sousa Rosa*. Homem muito bem preparado para a função, chamava a atenção pelo porte físico e disposição para comandar a equipe. Tinha como característica a maneira como impunha disciplina à tropa com autoridade e respeito ao grupo. Militar nato, impunha disciplina sem a necessidade de humilhar ou agredir verbalmente qualquer dos seus comandados. O respeito que tinha por nós era correspondido. Isso o fazia ter consigo nosso empenho, a dedicação e o entusiasmo para realizarmos tarefas que nos eram delegadas. Não tínhamos medo dele, mas admiração.

Particularmente, minha relação com o tenente Homero foi ótima. Geralmente, ele se aproximava de mim e, com um tapa no ombro, me cumprimentava: “E aí, dr. Edésio?” E foi assim que atravessamos aqueles meses na caserna, nos acampamentos ou nos desfiles militares. Quando ele soube que eu iria “dar baixa”, isto é, deixar o Exército, chamou minha mãe e, diante de mim, perguntou por que estava indo embora. Naquele momento, já não era possível tomar outra decisão. Poderia ter tentado prestar serviço na banda de música, tocando requinta, mas a timidez não permitiu que eu me candidatasse. De São João del-Rei fui direto para Belo Horizonte, levando comigo tudo o que aprendi no Exército, as boas lembranças dos colegas e, principalmente, do Tenente Homero de Sousa Rosa, que contribuiu muito para a minha formação como ser humano. Saí agradecido, levando comigo tudo de bom que aprendi ali.

 

*Homero de Sousa Rosa, com a patente de coronel, faleceu em Brasília/DF no dia 26 de dezembro de 2017.

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