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Os 100 anos de vida de dona Cecília

25 de Outubro de 2022, por Edésio Lara

Dona Cecília de Oliveira Ramos completará 100 anos de idade no próximo dia primeiro de novembro

Ela é uma senhora de estatura mediana, adora um lenço na cabeça e passa boa parte do tempo sentada no sofá da casa da filha Terezinha e de terço enrolado na mão direita. Católica, faz orações durante o dia todo. Com Roberto Ribeiro, (Roberto da Micaela), e muitas pessoas que vão visitá-la, bate uma boa prosa, relembrando acontecimentos e se inteirando de tudo o que fazem seus familiares, principalmente os netos, bisnetos e tataranetos. Lúcida, tem uma memória de dar inveja. Segundo o seu neto Jonas (o Teco), geralmente ela o adverte sobre algo que deve ou deixou de fazer. Assim é dona Cecília de Oliveira Ramos, que está pronta para festejar seus 100 anos de idade no próximo dia primeiro de novembro.

Dona Cecília é natural de Passa Tempo/MG. Desde pequena, juntamente com a única irmã que teve, foi criada pelos avós Antônio e Claudelina, depois que o pai se separou e a família e a mãe foram morar em Belo Horizonte. Desde o início, sua vida não foi fácil. O avô a colocou para trabalhar ainda pequena na roça, ajudando-o a semear e a colher tudo o que plantavam. Era obrigada a cuidar da casa, das galinhas e dos porcos que criavam. O avô, segundo ela, era um homem difícil, bravo; e a avó, ao contrário, mais dócil e delicada com as netas.

Sempre quis namorar, mas qualquer contato com um rapaz era sinal de problema: o avô sempre colocava empecilho, o que a deixava bastante chateada. Certo dia, conheceu um moço, chegado da Bahia para trabalhar em uma festa de rodeio em Belo Horizonte e que reunia fazendeiros de bastantes cidades mineiras. E de lá ele foi convidado para prestar serviços na fazenda do senhor Moacir, em Passa Tempo. Ele, nascido na divisa dos estados de Minas Gerias e Bahia, onde fica Guanhães, apaixonou-se por ela e nunca mais voltou à sua cidade natal, muito menos reviu seus familiares. Rapidamente, e às escondidas, se casaram na igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória, de Passa Tempo, em junho de 1940. Ela, com dezoito anos; e ele, com vinte e cinco. O avô, ao tomar conhecimento do casamento, quis matá-los. “Ele saiu de revólver em punho nos procurando. Ele sempre quis que eu ficasse na roça trabalhando, que não namorasse, não me casasse com ninguém”.

Trabalhando duro na fazenda, logo foram transferidos para Resende Costa, vindo para a Fazenda do Pinhão, alugada que foi pelo senhor Moacir. Depois se transferiram para o Curralinho do Andrade, acompanhando o patrão, até se estabelecerem definitivamente no Ribeirão de Santo Antônio, onde possui uma casa que fica em frente à escola do povoado. “Eu e meu marido sempre trabalhamos muito. Ele era retireiro e eu cuidava da roça e das crianças, guiava carros de boi, fazia de tudo mesmo. Nossa vida era muito difícil, a gente ganhava (dinheiro) muito pouco. Fiquei viúva depois de trinta e cinco anos casada com ele”.

A vida de dona Cecília tornou-se mais difícil quando, aos setenta e dois de idade, sofreu um acidente no trabalho. “Estava na roça, meu chinelo ficou agarrado em um galho e eu caí. Quebrei minha perna, mas, mesmo assim, continuei trabalhando. Então comecei a mexer com artesanato”. Mãe de sete filhos (cinco já faleceram), certa vez um médico de Desterro de Entre Rios aconselhou-a a parar de fumar. “Eu fumava cigarro de palha para espantar os mosquitos, pernilongos. Desde que larguei o cigarro, passei a cheirar rapé e nunca mais parei”. Ao ser perguntada se além do cigarro, gostava de tomar vinho, por exemplo, respondeu firme e sorrindo: “Vinho, não. Tomava mesmo era pinga, todo dia. Uma antes do almoço e outra antes da janta”. E esse costume de tomar uma pinguinha para abrir o apetite ela o manteve até completar noventa de seis anos de idade.

Atualmente, dona Cecília fala sempre da casa que ainda possui no Ribeirão, lugar de que gosta muito. Sai pouco de casa. Porém, não recusa um convite de algum neto para matar porco na roça. Imediatamente pede seu avental e se prepara para cortar o toucinho, relembrando as inúmeras vezes em que se dedicou a esta e tantas outras atividades no Catimbau, na fazenda do Prestes, do Ademar Aarão, além de outras. Atualmente, quietinha em casa, não se cansa de dizer que está bem. “Estou com a cabeça muito boa. Posso morrer tranquila porque sempre fui honesta, não tenho inimizades e não devo um centavo a ninguém”.

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