Padre Joso vive!


Homenagem Especial

Lucas Lara *0

fotoPadre Josué Francisco da Natividade. Nascimento, 31 de outubro de 1921. Falecimento, 18 de novembro de 2023 (foto arquivo familiar)

No último dia 18 de novembro, cumpriu sua missão, aos 102 anos, Padre Josué Francisco da Natividade, sdb. Meu tio-avô Pe. Joso (como sempre conhecido) teve uma linda trajetória em sua longa e frutífera vida. Bonito pensar que Pe. Joso faleceu num sábado. Dia que pela tradição e carisma salesiano é dedicado “àquela que tudo fez”. O sábado é um dia mariano por excelência e nosso padre resende-costense tinha uma profunda devoção à Virgem Maria, Auxiliadora dos Cristãos.

Pe. Joso nasceu em Resende Costa (MG) no ano de 1921. Era filho de meus bisavós Zezué e Dona Chiquita. Com seus 102 anos de vida, 82 como Salesiano de Dom Bosco, estava prestes a completar 73 anos de vida sacerdotal. Após sua ordenação em 1950, passou por Pará de Minas, Rio de Janeiro e Araxá, até retornar para sua comunidade em Niterói (RJ), em 1957, onde permaneceu até 2023. Além da Filosofia e Teologia, era igualmente formado em Psicologia, Pedagogia, Português, História e Francês.

Padre Josué foi uma figura importante para a história dos salesianos do Brasil. Era o mais idoso da Inspetoria Salesiana São João Bosco, fazendo parte de toda a sua história, uma vez que foi ordenado apenas três anos depois de sua fundação. Da mesma maneira, personagem marcante para Niterói, possuindo uma legião de ex-alunos. Lecionou por mais de quarenta anos. Além do Colégio e das atividades pastorais na Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora, desenvolveu diversas atividades assistenciais em bairros e comunidades niteroiense. Um de seus grandes legados foi o Memorial Histórico do Colégio Salesiano Santa Rosa, ofício pelo qual dedicou boa parte de sua vida.

 

“Quando se sentir feliz, lembre-se de mim” (Pe. Joso)

Pe. Joso será eternizado nos corações de tantos que conviveram com ele. Por isso, se faz presente e vive. Natasha Pinheiros foi sua cuidadora nos últimos 5 anos. Segundo ela, Pe. Joso foi além de um paciente em sua vida. Ela diz: “Com o tempo aprendi amar, cuidar e se tornou como um membro muito importante da minha família. Era um verdadeiro amigo, um pai, um avô. Sentirei falta do seu sorriso, das suas músicas e, principalmente, da sua companhia”. Natasha relatou para mim algumas frases que Pe. Joso sempre a dizia, entre elas: “quando se sentir feliz, lembre-se de mim”. Certamente, sempre que a felicidade vier, lembraremos dele. Afinal, a alegria sempre foi seu traço mais notável.

Sua despedida foi singela e marcante. Os sinos do Rosário anunciavam sua partida, lugar onde passou sua infância. Os jovens aguardando sua chegada. As notas seguras da Orquestra Mater Dei ressoando pela acústica tão elogiada por Pe. Joso da Igreja do Rosário. O salmo cantado encomendado há anos para sua missa de exéquias. A homenagem robusta da banda de música Santa Cecília, sempre admirada pelo salesiano. A chuva torrencial, tão apreciada em vida, na hora de seu cortejo. A presença firme daqueles que, a partir de agora, recebem a missão de eternizar a memória em amor de Padre Josué.

 

Couve e taioba

Cedo aqui um espaço para Stela Vale, prima querida, que diz: “Pe. Joso, para mim, foi a materialização do amor, da humildade e dos laços de família. Guardo na lembrança o carinho com que nossa avó o esperava, cheia de saudades, quando ele estava para chegar, assim como seus pais, minha mãe e tios. Ah! Amor foi o que ele sempre recebeu de toda a família. E como ele fez jus a esse amor! Vindo a Resende Costa, sua prioridade era visitar os familiares. Às vezes, almoçava conosco, pedindo que preparássemos os pratos mais simples que o fizessem se lembrar de sua mãe, de sua infância, principalmente taioba e couve. Seu velório retratou sua personalidade, pois foi marcado pela presença de pessoas simples, amigos e familiares. Da eternidade, com seu sorriso maroto, deve ter gostado da banda de música, pois era de seu feitio, assim como da Orquestra. Pessoas disseram: ‘Faltaram muitos! Por quê?’ Não! Não faltaram. Quem ele amava e os que o amaram verdadeiramente estiveram presentes com ele. Sua falta, seu vazio... Ah! Grandes demais. Mas ele será lembrado por todo o sempre com um amor infinito.”

 

Preservar a história para quem virá depois

Ainda partilhando depoimentos, as próximas palavras são de Denise Capello Taraciuk, que trabalhou por 42 anos com Pe. Joso no Memorial Histórico do Colégio Santa Rosa: “Pe. Joso foi um grande amigo, conselheiro, orientador espiritual, enfim, uma pessoa admirável. Tinha muita sabedoria, inteligência e carisma. Amava o que fazia. Um verdadeiro discípulo de Dom Bosco. Exercia um grande fascínio entre os jovens. Seus alunos abriam mão do recreio e enchiam a sala do Memorial de alegria salesiana. Era um professor exigente na sala de aula e um grande amigo fora dela. O que mais sentirei falta é das nossas conversas sobre diversos assuntos. Era um apaixonado pela Bíblia, por assuntos referentes à Segunda Guerra, nos quais era especialista e assuntos da atualidade. Gostava de estar bem informado, lia jornais diariamente, gostava de literatura, às vezes lia dois livros ao mesmo tempo.  Era um homem à frente do seu tempo. Tinha um senso de humor invejável. Como bom mineiro, gostava de contar ‘causos’. Não deixava pergunta sem resposta. Uma pessoa como Pe. Joso é inesquecível, seus alunos que o digam. Eu falava para ele que não morreria jamais. Quem o conheceu viverá com sua lembrança na mente e no coração. O legado que deixará é a preservação da história do Colégio Salesiano Santa Rosa, primeira casa salesiana do Brasil. Local onde trabalhou a maior parte da sua vida. Se hoje podemos contar essa história, com riqueza documental, devemos ao seu empenho em não permitir o descarte desse material. Tive o prazer de poder ajudá-lo nessa empreitada. O sentimento que tenho em relação ao Pe. Joso é de respeito, admiração e o mais importante de todos que é a gratidão.”

Por fim, em nome da família, agradeço a todos que participaram da despedida de Pe. Joso. Ao Grupo de Jovens Shalom, Coral e Orquestra Mater Dei e Banda Santa Cecília, pelas homenagens. À Inspetoria Salesiana São João Bosco, na pessoa de Pe. José Ricardo, sdb, pelo empenho e presença amiga. E em especial, gratidão à Paróquia Nossa Senhora da Penha de França, na pessoa de Pe. Marcos, pelo carinho e disponibilidade. Firmes na fé, lembramos o que diz as Constituições da Sociedade de São Francisco de Sales: “para o salesiano, a morte é iluminada pela esperança de entrar na alegria do seu Senhor” (C 54).

 

*Sobrinho-neto de Pe. Joso. Chefe de Turismo de Resende Costa. Professor de Filosofia, gestor de pessoas, pedagogo e psicólogo.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário