De olho na cidade

Resende Costa e o Censo Demográfico do Brasil de 2022

26 de Julho de 2023, por Edésio Lara 0

Ano passado foi realizado o Censo 2022 no país pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Censo aconteceu com atraso por dois motivos. O primeiro foi por causa da pandemia de Covid-19. O segundo se deu devido à resistência feita pela Presidência da República naquela época contra a realização desse trabalho. Foi preciso o Supremo Tribunal Federal (STF) entrar em ação para obrigar o governo federal a destinar verba necessária para a realização do Censo.

Pode ser que haja pessoas que vejam a necessidade de sua realização. Porém, o Censo é fundamental para que as autoridades tenham um estudo que lhes indique o perfil completo e amplo da população brasileira. A pesquisa revela o número de habitantes do território nacional espalhados pelos 5.556 municípios do Brasil, mais o arquipélago de Fernando de Noronha, mais o Distrito Federal. Afinal, como vivem as pessoas e quais são suas características?

Esse diagnóstico é de grande importância. É por meio dele que as autoridades ficam sabendo das necessidades do povo e de que maneira podem desenvolver políticas públicas, direcionar recursos financeiros para áreas da educação, saúde, segurança pública e infraestrutura, por exemplo. Trata-se, portanto, de trabalho sério feito pelo IBGE, que enviou seus pesquisadores para todos os cantos deste Brasil com o objetivo de entrevistar pessoas e levantar dados fundamentais para a pesquisa. Durante o período de realização das entrevistas, houve quem se esquivou delas, como também os que, voluntariamente, buscaram incentivar amigos, parentes e vizinhos a atenderem o chamado feito pelo IBGE de que os entrevistadores fossem recebidos em suas residências.

Durante o ano, depois de informar o que nos foi solicitado, ficamos a aguardar com expectativa seus resultados. Um deles diz respeito ao número de habitantes que têm nossas cidades, o modelo de família dos brasileiros com suas condições financeiras, número médio de filhos por casal, formação acadêmica, religiosidade, de empregados e desempregados e por aí vai.

Resende Costa possui, de acordo com os resultados divulgados no último dia 28 de junho, 11.230 habitantes. Os dados, se comparados com os de 2010, data da realização do penúltimo Censo, há doze anos, revelam que Minas Gerais cresceu 4,8% e o país, 6,45%. Resende Costa ocupa atualmente a 319ª posição no estado, que possui 853 cidades. Portanto, há em Minas Gerais, 534 cidades menores que a nossa. Ela, portanto, não é tão pequena quanto parece.

Quem vê Resende Costa atualmente e a conheceu na época do Censo de 2010, pode achar esses números estranhos. Nesse período, surgiram novos loteamentos, o número de novas residências aumentou muito. O setor de serviços ampliou bastante e o do comércio também. Para esses setores, o crescimento deve ter sido muito superior, se comparado com o que diz respeito à população. 

É justo que a cidade tenha recebido pessoas de outras localidades que vêm para se estabelecerem aqui como comerciantes, por exemplo. Na contramão desse movimento, há os que se vão da cidade em busca de empregos que aqui não encontram e para os quais se especializaram. Nesse vai e vem de gente, podemos registrar que muitos resende-costenses que estavam fora há décadas, retornam depois de encerrar suas atividades profissionais noutros lugares. Aposentados, preferem sossego e custo de vida menor do que em grandes cidades.

Outros números revelados neste mês de julho são surpreendentes e um deles chamou muito a atenção. Trata-se do número de cabeças de bois que o país possui: 226 milhões. Isso mesmo! Supera em muito o número de 203.062,512 brasileiros revelado pelo Censo de 2022. Um amigo, durante a 42ª Exposição Agropecuária de Resende Costa, encerrada no último dia 16 (que temos o costume de chamar de Festa do Campo), entusiasmado com o desfile de animais e maquinário utilizado por sitiantes e fazendeiros do nosso município, me disse: “Salve o agronegócio de Resende Costa, ele é tão importante quanto o artesanato para a nossa cidade”.

Ao citarmos aqui esse dado, justificamos a importância dessas pesquisas. Para Resende Costa, seus números e índices de crescimento são como retrato da sociedade local. Servem, portanto, para nos conhecermos bem, cuidar daquilo que precisa ser aperfeiçoado, melhorado para todos.

Comunicações que nos são transmitidas pelos alto-falantes da igreja Matriz

28 de Junho de 2023, por Edésio Lara 0

Os mais jovens, que têm acesso fácil a um aparelho celular (smartphone) com número absurdo de funções, talvez nem saibam como se davam as comunicações entre pessoas até cinco décadas atrás. Enquanto escrevo este texto, tenho ao lado do meu notebook um celular ligado e eu acompanhando o jogo entre São Paulo x Grêmio pela série A do Campeonato Brasileiro de futebol, neste domingo, 4 de junho. Uma ação dessa, meio século antes, seria pura ficção científica.

Tudo mudou muito, e, em tempo, desde as primeiras invenções relacionadas a equipamentos de comunicação. O microfone foi inventado pelo alemão Emil Berlinerem 1877. Dez anos depois (1887), o telefone foi criado por Alexander Graham Bell, nos Estados Unidos da América. Portanto, nada disso é tão velho quanto parece. Já no finalzinho do século XIX, em 1896, consta que o italiano Guglielmo Marconi inventou o rádio. As três invenções tornaram-se importantíssimas para mudar de vez a maneira como os humanos passaram a se comunicar uns com outros de maneira mais direta, rápida. As vantagens, para todos nós, desses inventos são incalculáveis.

De posse de um microfone e outros equipamentos adequados para reprodução e amplificação da voz humana, qualquer pessoa passou a ter condição de se comunicar com outras em ambientes diversos, independentes de eles serem abertos ou não. Aos poucos, desde que criado, em ginásios e estádios esportivos, escolas, comércio e igrejas, por exemplo, o microfone nunca mais deixou de ser usado.

Séculos atrás, XVIII e início do XIX, principalmente, quando esses equipamentos ainda não existiam e havia necessidade de chamar a atenção do povo a fim de comunicar algum fato de importância, era comum o emprego de bandos, pequenos grupos de homens que, montados a cavalo e portando bandeiras, usando cornetas e tambores, buscavam, com o som produzido pelos instrumentos, chamar a atenção e reunir pessoas para ouvir o que tinham para informar. Muitas vezes, governantes faziam uso desses grupos para tal fim, já que não havia outra forma de transmitir alguma notícia de maneira rápida para a comunidade. Aos poucos, esses serviços foram sendo substituídos por outras formas de comunicação, que incluíam o uso de autofalantes e rádios, por exemplo.

As igrejas também viram que transmitir avisos através dos alto-falantes instalados no alto de suas torres passou a ser interessante tanto para elas quanto para os seus fiéis. Anúncios de missas, procissões e outros acontecimentos de interesse dos paroquiamos passaram a ser muito utilizados. Entre essas comunicações, as de falecimento e de horários de enterros tornaram-se comuns. E para esse tipo de informação, sempre se fez uso de uma música fúnebre. Em Resende Costa, por longo tempo, a que se ouvia era a “Marcha da Paixão”, música cuja autoria é atribuída ao são-joanense Ireno Batista Lopes. A música, ao ser tocada, fazia com que um silêncio se instalasse na cidade para que a mensagem pudesse ser escutada por todos. Certa vez, um padre que aqui chegou, achando que a música era muito triste, optou por trocá-la por outra. Escolheu, então, a “Cantilena”, uma composição de Heitor Villa-Lobos. A melodia, que de fúnebre não tem nada, pelo menos entre nós passou a ter esse caráter.

Pouco tempo atrás, foi a vez de essa música ser abandonada e dar lugar para “Exéquias”, uma canção do famoso compositor e intérprete Padre Zezinho. Agora essa música não será mais ouvida, já que o Conselho Paroquial (como apareceu no facebook) decidiu que anúncios fúnebres não serão mais comunicados através dos alto-falantes da igreja Matriz.

A reação negativa de muitas pessoas foi imediata. Interrompeu-se um serviço de utilidade pública e de tradição em nossa cidade. Uma internauta disse que eles deverão ser realizados através de um automóvel a circular pela cidade. Outra quis justificar essa mudança, dizendo que a cidade cresceu.

Nossa Resende Costa cresceu sim, mas nem tanto. O serviço que prestava à comunidade de comunicar o falecimento de pessoas do município, os horários de velório e sepultamento, vai fazer falta. Se a Paróquia insistir na suspensão dos anúncios fúnebres, apagará uma das tradições da nossa cidade, que bem a distingue de outras tantas espalhadas pelo país.

Nova sede da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer da Prefeitura Municipal de Resende Costa

24 de Maio de 2023, por Edésio Lara 0

Autoridades municipais e filhos de dona Terezinha Lara em frente à porta de entrada da nova sede da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer (Foto Cássi

No último dia 5 de maio, a Prefeitura Municipal promoveu a inauguração da nova sede da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer de Resende Costa. A casa, localizada na Av. Ministro Gabriel Passos, nº 8, bonita e muito bem decorada para o evento, naquela manhã ensolarada e de céu azul, recebeu o prefeito municipal, seu vice, vereadores, educadores, além de outras autoridades da cidade. É preciso destacar que a equipe responsável pela Secretaria, formada por oito mulheres, cuidou de convidar professoras da rede municipal de ensino e quatro mestres que, em gestões passadas, ocuparam a chefia da Secretaria, atualmente a cargo da historiadora e também professora, Dra. Paula Chaves.

A nova sede, localizada ao lado da Escola Estadual Assis Resende, deixou para trás um espaço físico limitado, incapaz de oferecer melhores condições de trabalho para a equipe e de atendimento ao público.

O edifício da nova sede tem sua história. Construída no início da década de 1920, o casarão ocupava espaço de mais de 1000 m² e somente possuía como vizinho o prédio da Escola Estadual Assis Resende. Quem aprecia fotos antigas, sabe do quão espaçosas eram as áreas privadas e logradouros naquela época. A cidade, até poucos anos atrás (1912), antes da construção do sobrado, era uma vila que pertencia ao município de Tiradentes. O desenvolvimento, portanto, tomou impulso com a eleição de prefeito municipal e câmara de vereadores responsáveis pela gestão administrativa da cidade, após sua emancipação.

Ao longo de um século, o casarão que agora abriga a Secretaria pertenceu à minha família. Nele moraram meus avós maternos, Joaquim Pinto Lara e Heloísa Macedo Lara. O casal, como de costume na época, teve muitos filhos, que ali nasceram e foram criados. Desses filhos, três estão vivos: Gonçalo, Isabel e Lúcia. Após a morte de meus avós, o imóvel passou a pertencer aos meus pais, Geraldo Melo (1925-1984) e Terezinha Macedo Lara Melo (1926-2012). Ali moramos durante décadas, até eu e meus irmãos decidirmos colocá-lo à venda, sempre interessados em que ele fosse anexado à Escola Estadual Assis Resende. Víamos ali a chance de a escola ampliar seu espaço e passar a atender novas demandas que um prédio muito antigo já não dava conta de oferecer. O governo do estado chegou a propor a compra, porém, depois de tudo acertado entre as partes e faltando uma semana para a assinatura dos papéis, desistiu do negócio. A partir desse momento, a prefeitura começou a analisar a possibilidade de adquiri-lo. E assim o fez. Em dezembro de 2021, a compra foi efetuada.

No dia da inauguração da nova sede da Secretaria de Educação, representando meus irmãos e demais membros da família Lara, pude relembrar e relatar momentos ricos, repletos de atividades desenvolvidas naquele espaço. Meu avô, sapateiro e dono do Cartório de Registro de Imóveis que funcionava na parte de baixo da casa, fazia dele, também, ponto de encontro com amigos, enquanto minha avó cuidava do lar e das crianças. No quintal havia um grande pomar, privada seca, caixa d’água, criação de porcos e galinhas. Nele, também, assavam-se biscoitos no grande forno a lenha e produziam-se doces e vinhos de laranja. Nada muito diferente de outras casas do município.  De precário, a falta de fornecimento de água encanada e tratada: era preciso buscá-la em uma das fontes existentes. Também a luz elétrica, muito ruim, que só melhorou com a chegada da Cemig ao município em 1962.

Na parte central da casa, além de quartos, sala e cozinha e um banheiro, ficava o arquivo da banda de música, da orquestra e do coral, que tinham o nome de Santa Cecília. Esses grupos musicais de nossa cidade eram dirigidos pelo meu avô, que atuava como maestro, compositor, instrumentista e cantor; e minha avó, como violinista e cantora. Na sala jogava-se truco, falava-se de política e planejavam-se bailes, que aconteciam em residências de amigos, e imensas serenatas que ocorriam com frequência na cidade.

Esse foi, portanto, um lugar alegre, cheio de vida, repleto de muitos prazeres que eram compartilhados com demais parentes e amigos da família. Em minha fala, durante a festa de inauguração, disse que, de certa forma, a casa ainda nos pertence, já que fazemos parte da comunidade que dela agora é proprietária. O espaço leva o nome de minha mãe: Terezinha Lara, visto que na cidade atuou como professora primária no Assis Resende, professora e diretora da Escola Municipal Conjurados Resende Costa, além de musicista com atuação marcante como organista da Matriz de Nossa Senhora da Penha de França e participante do Coro e Orquestra Santa Cecília, atuando como cantora, regente e violinista. 

 E que o espírito fraterno de cordialidade, amizade e bons trabalhos permaneça para sempre no Espaço Terezinha Lara.

A Semana Santa depois da pandemia

26 de Abril de 2023, por Edésio Lara 0

Ao longo dos vinte anos de circulação do Jornal das Lajes, celebrados neste ano, a Semana Santa sempre foi abordada por vários colunistas deste jornal. A religiosidade do povo, as belas cerimônias realizadas durante a Quaresma e a Páscoa sempre foram bem cuidadas pelo povo. É um dos momentos mais aguardados pelos religiosos a cada ano, sejam eles da cidade ou de outros lugares, que para cá vêm acompanhá-la.

Trazida pelos religiosos portugueses no século XVII, a celebração da Paixão e Morte de Jesus Cristo se espalhou pela Colônia, sendo representada em todas as vilas desde meados daquele século. Ao longo do tempo, a festa cresceu em todos os aspectos, com participação de figurantes, andores, participação ativa de associações, irmandades, orquestras, bandas de música e corais. A construção de igrejas, dos passinhos, colocação de sinos e inclusão das imagens de Nossa Senhora das Dores, de Jesus Cristo e, também a do Senhor morto, foram dando forma às cerimônias que ainda hoje apreciamos na cidade.

A Semana Santa, pela importância que tem para os cristãos, tornou-se fato social e cultural de extrema importância. O envolvimento da comunidade sempre foi intenso, com pessoas de todas as camadas da sociedade participando ativamente da preparação e da realização de cerimônias desse grandioso espetáculo litúrgico.

Quando a pandemia do coronavírus fez com que suspendêssemos todas as atividades cívicas, escolares, religiosas, entre outras, ficamos em dúvida sobre como seria nossa vida pós-pandemia. Será que tudo voltaria ao normal, como era antes? Durante dois anos, realizamos a Semana Santa, com missas, vias-sacras e outras cerimônias, porém fechadas aos fiéis. Por outro lado, transmitidas ao vivo para todos pela internet, principalmente.

Pois, desde ano passado, com quase tudo voltando ao normal, apesar de certas restrições, eventos como a Semana Santa deram mostra de que voltariam a acontecer dentro e fora das igrejas, sem grandes perdas. Pelo contrário, durante a pandemia, buscamos aprender como utilizar recursos disponíveis na internet para melhorar nossas comunicações, aproximar ainda mais os religiosos em torno dos eventos programados pela Igreja ao longo do ano.

O que notamos durante esse período foi um investimento maior na utilização de mídias sociais. Publicar na internet o calendário e programa da Semana Santa, além do material impresso, tornou-se necessidade.

Ela nos permite assistir à missa, acompanhar o que acontece em nossa paróquia, ou em outra, sem que saiamos do conforto das nossas casas. A paróquia de Resende Costa, ao usar o Facebook e o Instagram em suas cerimônias e comunicações de interesse dos paroquianos, sem abandonar muito do que tem como tradição, deu passos à frente, modernizou-se.

Se nos debruçarmos sobre a programação das cerimônias, veremos que cada cidade possui algo que a distingue das demais, exceto no que diz respeito ao que acontece entre Quinta-Feira e Sábado Santo. O Tríduo Pascal é único, para ele não se admite qualquer alteração. Porém, algumas cerimônias não são realizadas em todos os lugares. O Ofício de Trevas, que dura duas horas e meia, como é realizado na Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em São João del-Rei, é exemplo. Para ele, há a necessidade de orquestra e coro capazes de executar repertório criado especificamente para o momento e nem todas as cidades dispõem de grupos musicais em condições de assumir essa tarefa. É preciso notar que outras cerimônias que haviam sido extintas aos poucos vão sendo recuperadas. Entre elas, podemos incluir a Encomendação de Almas, que, desde 2013, voltou a ser realizada em Resende Costa, pelo Coral Mater Dei, em alguns dias específicos durante a Quaresma.  

Para as cerimônias paralitúrgicas, no entanto, não há rigor quanto a dias e horários para sua realização. São as procissões de Ramos, de Depósito, Rasouras e Vias-Sacras, que podem acontecer de acordo com o que pretendem seus organizadores. De certa forma, visando ao brilho maior da encenação do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo, os católicos não se cansam de fazer da sua Semana Santa um ritual cada vez mais brilhante e participativo.

Considerações acerca do Carnaval: não deveríamos tentar realizá-lo no Parque do Campo?

29 de Marco de 2023, por Edésio Lara 0

No início da década de 1940, foi que, podemos dizer, nasceu o Carnaval resende-costense. A contragosto e com forte crítica da Igreja Católica e de setores da sociedade local, alguns jovens se atreveram a sair fantasiados, tocar alguns instrumentos musicais, cantar e dançar. Mais tarde, bailes carnavalescos começaram a ser realizados no Teatro Municipal com músicas interpretadas por instrumentistas da banda de música local.  Além disso, havia os blocos carnavalescos que desfilavam pela Rua Gonçalves Pinto (que chamamos de avenida), o que dava um brilho especial à festa.

No século passado, sambas e marchas carnavalescas eram aguardados por todos e com certa antecedência. Era preciso ouvi-los através do rádio, decorá-los para serem cantados pelos foliões. Eram canções com letras e melodias simples, que facilmente ficavam gravadas na memória do povo. Isso funcionou tão bem que até hoje, depois de décadas, essas músicas ainda fazem parte do nosso repertório. E a primeira canção carnavalesca a fazer sucesso foi composta por uma mulher, Chiquinha Gonzaga, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Numa época em que a participação de mulheres se apresentando como compositoras e instrumentistas era quase nula, ela, em 1899, compôs “Ô Abre Alas”, obra que conhecemos e ainda cantamos no Carnaval.

Para refletir um pouco acerca do nosso Carnaval, comecemos pelo baile carnavalesco, que é bom dizer, não era para todos. O espaço pequeno não comportava todos que lá queriam entrar. Por sorte dos organizadores, muitos jovens, até meados da década de 1970, eram barrados na porta do Teatro Municipal por serem menores de idade. E havia aqueles que, por imposição dos pais, só podiam ficar na rua até as 22h.

É fácil perceber mudanças ocorridas desde aquela época na maneira de realizar o Carnaval em Resende Costa. A cidade cresceu, os dois blocos carnavalescos que desfilavam na avenida desapareceram. Os bailes no Teatro deixaram de ser realizados quando a festa passou a ser toda ela feita na rua. Aos poucos, foram surgindo os blocos destinados a promover uma festa com muitos dias de antecedência das datas oficiais do Carnaval. E foi um sucesso. Esses blocos, que surgiram quase que espontaneamente, mantiveram-se firmes até antes da pandemia. Verificou-se também, nesse período, certo esvaziamento da cidade durante os dias oficiais da folia, quando muitos optavam por aproveitar a festa em cidades vizinhas. Notou-se, então, que algo precisava ser feito a fim de tornar nosso Carnaval melhor, mais atrativo... Enfim, fazer com que foliões se sentissem motivados a permanecer na cidade entre o sábado e a terça-feira.

Algumas ações foram colocadas em prática, como a entrada em cena do disk jockey (DJ), colocação de arquibancadas e tendas para maior conforto dos foliões, banheiros químicos e até contratação de seguranças particulares. Ambientes distintos foram criados para atender os que apreciam funk e pagode, por exemplo, e outro somente com sambas e marchinhas. Porém, uma coisa é certa: não dá para promover um momento de Carnaval para as crianças, oferecendo-lhes um repertório que nada tem a ver com elas. O descaso para com as meninas e meninos é imenso e vem de longa data. Certo dia, sem músicos para tocar e cantar para elas, o prefeito municipal precisou, às pressas, providenciar uma caixa de som para, com celular, colocar música para as crianças. Além do mais, crianças devem ouvir músicas escritas especialmente para elas, jamais funk, pagode ou outros gêneros que lhes são até inadequados.

Por fim, é preciso oferecer aos foliões os banheiros químicos desde o primeiro dia de festa, que ocorre já a partir de uns dez dias antes do sábado de Carnaval. Caso contrário, nossas ruas e becos continuarão a ser mictórios a céu aberto, da forma como aconteceu recentemente. Além disso, o desmonte de arquibancadas, barracas e toldos precisa ser mais rápido, terminada a festa, a fim de desobstruir a área central da cidade.

Penso que passou da hora de tentarmos promover o Carnaval no Parque do Campo, que tem estrutura muito mais adequada para a realização de festas para grande público como essa.

Finalmente, não é só com investimento maior feito pela Prefeitura Municipal que se tem garantia de melhoria da festa. Da mesma forma que não é deixando por conta de empresários que se tem certeza da contração de boas bandas para abrilhantar a folia. E a realização de eventos em bairros, da forma como ocorreu em 2019, deveria ter sido mantida.