Os pedestres e o trânsito de veículos automotores em Resende Costa
31 de Julho de 2024, por Edésio Lara 0

Foto histórica do antigo Quatro Cantos, no centro de Resende Costa (foto arquivo amiRCo)
Resende Costa, depois de ter-se emancipado de Tiradentes em 1912, era muito pequena e pelas suas vias circulavam homens montados a cavalo ou carros de bois em suas poucas ruas, transportando de tudo: gêneros alimentícios, madeira, móveis e, principalmente, o que os donos de sítios e fazendas produziam em suas lavouras. Não havia automóveis, motocicletas ou bicicletas. Andava-se, portanto, a cavalo ou a pé. Ruas calçadas, nem pensar: era chão escorregadio em tempos de chuva ou seco e empoeirado noutras épocas. Não havia serviços que atualmente nem imaginamos ficar sem eles: água encanada, luz elétrica, rede de esgoto, gás em botijões, telefones ou automóveis. Água era buscada nas minas em latas. O fogão a lenha, a iluminação feita com lamparinas e a privada seca completavam o cenário do que se tinha para viver em casas pequenas e com poucos cômodos.
Certos confortos para a população – ainda diminuta – foram conquistados aos poucos, atendendo primeiramente aos que residiam no centro da cidade. Uma das melhorias foi o calçamento da antiga Rua Presidente Vargas, atual Av. Monsenhor Nelson. Isso se deu por volta de 1940, quando pedras mais arredondadas foram utilizadas para a pavimentação do local, segundo Agenor Gomes Neto / Agenorzinho (1935-2021) em suas memórias ainda a serem publicadas. Segundo ele, em frente ao Grêmio (residência erigida em 1927) havia “apenas um lance de grandes e tortuosas pedras, mal colocadas, numa pequena depressão, com certeza, para evitar acúmulo de água pluvial.” A partir dali, nos Quatro Cantos, iniciou-se um trabalho de calçamento de outras ruas, feitas com pedras arredondadas, até a instalação de paralelepípedos, tal como ainda temos nas ruas José Jacinto, Moreira da Rocha, além de outras poucas que resistem bravamente à intenção de sua troca por asfalto.
Segundo descrição feita pelo citado memorialista, causavam admiração os primeiros automóveis e motocicletas a circularem na cidade entre os anos de 1940/45. Pouquíssima gente possuía um veículo desses, como um Ford/29 ou uma motocicleta. Vê-se que, poucas décadas atrás, a circulação de automóveis, caminhões e motocicletas na cidade era muito pequena, nada parecido com o que se vê na cidade atualmente.
Resende Costa cresceu, vendo serviços que não existiam antes e agora sendo ofertados. Acompanhou todo esse desenvolvimento o aumento expressivo de veículos automotores circulando por muitas das suas antigas e estreitas ruas, abertas antigamente para receberem carros de bois ou homens montados em seus cavalos. Agora, motoristas enfrentam dificuldades em circular ou estacionar seus automóveis em vias públicas da cidade, a qual possui uma frota de veículos automotores muito grande.
Todo o crescimento, acompanhado do desenvolvimento da cidade, implica na urgente modernização da sinalização do trânsito, implantação de mão única em determinadas vias, bem como na colocação de passagens elevadas capazes de garantir, para os pedestres, travessia segura de um lado para o outro. Torna-se, portanto, necessário que ficarmos atentos à sinalização e respeitá-la. E é nesse ponto que que precisamos melhorar e muito.
A última intervenção realizada pela Prefeitura Municipal foi a de traçar linhas brancas em vários lugares. Elas indicam que, nesses pontos, deve-se dar preferência para o pedestre, que precisa atravessar de um lado para o outro com segurança. Mas o que tem acontecido? Muitos motoristas e motociclistas pouca ou nenhuma atenção têm dado a elas. Muitos estacionam seus veículos sobre as ditas faixas. Passam direto e em alta velocidade, mesmo vendo que há pessoas precisando atravessar a rua. Não lhes dão preferência. Há entre essas pedestres pessoas idosas, crianças ou outras com dificuldades de locomoção que correm sério risco de serem atropeladas.
É verdade que há entre pedestres aqueles que pouca atenção dão a isso: circulam sem se preocuparem com o trânsito de veículos. Da parte dos motoristas, em pequeno número ainda, há os que diminuem a velocidade, param seus veículos e dão sinal para que pessoas possam atravessar a rua com segurança. Essa preferência dada aos pedestres é sempre respondida com sinal de agradecimento e um sorriso, vindo principalmente das crianças que ainda mandam um “muito obrigado”. É sinal de que existe educação para o trânsito dada pelos pais e, provavelmente, dentro das nossas escolas também.
O Mês Mariano para os católicos resende-costenses
26 de Junho de 2024, por Edésio Lara 0
Maio se foi. Ficou no passado mais um Mês Mariano, muito caro para os católicos. A cada ano, principalmente nesse mês, rezas e festas se intensificam em honra a Nossa Senhora. No dia 13, celebramos o dia de Nossa Senhora de Fátima e, no dia 24, o de Nossa Senhora Auxiliadora. As Nossas Senhoras são muitas. A nossa padroeira é Nossa Senhora da Penha de França. Nossa Senhora Aparecida é a padroeira do nosso país. Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Pilar, Nossa Senhora da Boa Morte, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Boa Viagem têm dias certos no calendário para serem louvadas.
Todas essas e muitas outras são representadas em pinturas ou esculturas por artistas em inúmeros países, desde os primeiros séculos da Era Cristã. Nosso conterrâneo e escultor Valcides Mairinque Arvelos, já falecido, foi quem esculpiu a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem – padroeira da capital mineira –, cuja bela obra pode ser vista na rodoviária de Belo Horizonte, onde está para ser apreciada pelos que por lá circulam e fazem suas orações. De toda forma, não há um mês sequer, dentro do calendário litúrgico, sem uma santa reconhecida pela Igreja Católica pelos seus milagres e para as quais os fiéis dirigem orações solicitando sua intercessão junto ao Pai para que Ele nos ajude, perdoe nossos pecados e nos receba nos céus quando da nossa morte.
O mês de maio é especial. Durante os seus trinta e um dias, os religiosos não se cansam de festejar, de louvar a Rainha do Céu com cantos e orações. Não por acaso, é que foi criado nesse mês o Dia das Mães, que comemoramos no segundo domingo do mês. Veneramos Nossa Senhora e festejamos as mamães que temos. O Mês Mariano foi instituído há muito tempo sem, no entanto, termos certeza de quando foi. Há estudiosos que dizem que tudo teve início no século XII. E não era em maio, mas no mês de agosto, tal como era feito no Oriente. Também não por acaso, é no dia 15 de agosto que se celebra a Assunção de Nossa Senhora. Essa data cristã soleniza a assunção da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo, aos céus. E, de toda forma, os católicos, há muito tempo optaram por dedicar um mês inteiro para louvar Nossa Senhora. A adoção do mês de maio, em princípio, tem a ver com o mês que está em plena primavera na Europa. A beleza da estação do ano, do clima e das flores, contribuiu para que maio se tornasse o mês em que os católicos se dedicariam em homenagear a santa.
Minha relação com a Igreja Católica se iniciou ainda no ventre da minha mãe. Filha de músicos, ela também se incumbiu de participar ativamente das cerimônias dentro da igreja, ora tocando o harmônio – que infelizmente não são mais usados – ora tocando seu violino, cantando ou regendo o coro. Ainda criança, comecei a participar mais das atividades na Matriz, atuando como coroinha, quando nosso pároco era o estimado Padre Nelson Rodrigues Ferreira. Ajudava missas às 6h, à noite e em fins de semana. Adorava viajar com o padre para as celebrações realizadas nos povoados da cidade. Vi quando o padre começou a celebrar missas falando mais em português e de frente para a assembleia, como decidido pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Eu me encantei, desde aquela época, com as coroações de Nossa Senhora, quando, sob apoio das famílias e da equipe de catequese, colocávamos o véu, a palma, o terço, as flores e a coroa em Nossa Senhora, mãe de Jesus Cristo e de todos nós. A alegria era geral e a participação nas coroações, festiva e intensa.
Nota-se que, com o passar do tempo, essas cerimônias vão sofrendo modificações, cancelamentos, variando entre paróquias, mesmo pertencendo à mesma diocese. Essas mudanças ocorrem, pois não são um dogma. Tudo pode variar de acordo com o desejo das pessoas, ou com o apoio ou não do pároco. Digo isso, já que não é possível colocar sob a responsabilidade dos padres tais decisões. De toda forma, incomoda bastante ver o que era tradição ir aos poucos sendo mudado ou simplesmente cancelado, excluído de práticas muito comuns para nós.
Neste ano, tentei assistir a uma coroação na Matriz e, ao fim do mês, percebi que não houve nenhuma. Soube que aconteceu uma na igreja de Nossa Senhora de Fátima no fim do mês e outra realizada por catequistas no mesmo local. Será que as coroações de Nossa Senhora da Penha de França tornar-se-ão coisas do passado? Penso que poderiam ocorrer em todas as capelas e, por que não, em residências, como aconteciam noutras épocas.
DESCUIDOS COM O LIXO e com a natureza
21 de Maio de 2024, por Edésio Lara 0

Apesar de proibido, pessoas insistem no péssimo hábito de jogar lixo nas margens das estradas, poluindo a natureza
Mês passado tratei aqui, nesta coluna, da questão envolvendo os cães vira-latas que percorrem nossas ruas, sempre dependendo de quem lhes dê o que comer e beber. Alguns se mostram fortes, limpos, sem que saibamos quem os acolhem, dando-lhes atenção como se morassem em suas casas. Outros nem tanta sorte têm, perambulam com seus corpos machucados, feridas expostas, magros e famintos. Esses, sim, viram latas atrás do que comer em latões de lixo ou sacolas plásticas colocadas nas ruas em dias e horários não recomendados pelos que cuidam da coleta e descarte em local apropriado. O foco nem era tanto os cães, mas os que teimam em não colaborar ao deixar o lixo na rua – seja ele reciclável ou orgânico –mesmo cientes que não é dia de coleta feita por equipe da prefeitura municipal.
Agora, o objetivo é outro. Trato daquilo que é descartável e que até sua coleta pelos lixeiros torna-se difícil. São eletrodomésticos, colchões, móveis e sucatas de forma geral. Incluem-se aí caixas de remédio e óleos, em geral, que demandam coleta especial por serem prejudiciais ao meio ambiente e à nossa saúde. Calçados e roupas geralmente não são incluídos na lista, visto que esses vão parar nos brechós, que os vendem a preço baixo ou entidades que auxiliam os mais pobres, doando-lhes o que outros já não calçam nem vestem mais. Por fim, podemos acrescentar os retalhos. Logo eles, tão valorosos e necessários para o trabalho de centenas de artesãos resende-costenses, quando não podem ser aproveitados, vão parar no lixo.
O retalho – descartado pela indústria têxtil – é o principal produto para nosso artesanato. Dependemos da sua oferta para gerar trabalho e produção de lindas colchas, belos tapetes, caminhosdemesa tecidos pelos nossos talentosos artesãos. Há aqueles que buscam esses retalhos nas fábricas e os vendem a quem tece. Depois, entram aquelas pessoas para, com suas mãos ágeis, produzir os rolinhos que vão parar nos teares de muitas residências do nosso município até se tornarem peça a ser vendida em residências, lojas ou encaminhadas para muitos lugares pelos Correios. Como se vê, muito do que já não serve para um, tem serventia para outro.
Em caminhadas que fazemos dentro do nosso município, notamos, de forma geral, o zelo que sitiantes e fazendeiros têm com estradas, córregos, riachos que cortam suas propriedades. De parte do grupo de caminhadas que temos – e posso dizer o mesmo dos ciclistas– há o cuidado de não jogarmos garrafas plásticas e papéis no chão. Temos grupos de apoio que recolhem aquilo que deve ser deixado na lixeira e não na natureza. E ficamos contrariados quando nos deparamos com situações que retratam o desrespeito à sinalização e à recomendação de que é “proibido jogar lixo”.
Fomos a pé, recentemente, ao povoado de Ramos. Ele fica próximo a Resende Costa, mas pertence a Ritápolis. Ainda em terra resende-costense, nós nos deparamos com uma cena triste. Em dois pontos da estrada, avistam-se duas placas de “proibido jogar lixo neste local”. No entanto, bem debaixo das placas, muita sujeira: colchões velhos, sofás e, notadamente, tecido recortado. Pareciam restos de retalhos, entre outros panos, que deveriam ter sido encaminhados para aterro sanitário. Além do mais, da forma como foram deixados em vala que segue junto à estrada, todo o monte de sujeira torna-se combustível para causar enorme incêndio. Incêndio que, ao passar para as árvores e toda a vegetação tão seca nesta época do ano, pode gerar grande estrago e prejuízo gigantesco a quem mora nas redondezas.
Vivemos momentos difíceis, com temperaturas altas, escassez de água e irregularidades nas épocas de chuva. Resultado de tudo isso: incêndios, grandes enchentes, coisas a que estamos nos acostumando a ver constantemente, tal como acontece neste momento no sul do país. Poluir ambientes, desmatar florestas é o que devemos combater. Cuidar do lixo é uma das medidas de sustentabilidade e preservação do meio ambiente. Precisamos mudar nosso jeito de ser, fazer a nossa parte a fim de zelar pela nossa cidade e pela vida do planeta.
Vida de vira-lata em RC
24 de Abril de 2024, por Edésio Lara 0

Lixo espalhado na calçada da rua José Jacinto, centro de Resende Costa
Os vira-latas são cães sem raça definida. Não basta o cruzamento de dois cães com raças diferentes – e com pedigree – para se ter um filhote de raça. Ele será sempre um vira-lata. Enquanto há aqueles muito dóceis, como os da raça maltês ou pug, existem os que são violentos, muito perigosos, tais como os rottweilers, os filas brasileiros ou os pitbulls. Dos pitbulls, por exemplo, é comum termos notícias de acidentes graves que levam à morte pessoas que são atacadas por eles. O último, que repercutiu muito, ocorreu no dia 5, em Saquarema, estado do Rio de Janeiro, quando a professora e escritora Roseana Murray (73 anos) foi atacada por três animais que lhe arrancaram um braço, uma orelha e dilaceraram outro braço, deixando-a em estado de saúde grave.
Não basta você querer ter um animal de raça, é preciso ter condições financeiras para adquirir um e preparo, disposição para cuidar bem dele. Seus filhotes custam caro e mantê-los é preciso desembolsar um bom dinheiro com alimentação, lojas de produtos e artigos para cachorros, além de despesas em clínicas veterinárias. O mesmo nem sempre ocorre com os vira-latas. E eles são, em grande número, criados em residências ou soltos pelas ruas, muitas vezes abandonados – e de forma covarde – pelos seus donos. Enquanto a prefeitura municipal e grupo de voluntários buscam dar tratamento a esses animais, aplicando vacinas ou promovendo castrações, há aqueles que, isoladamente, oferecem ração e água deixadas em frente às suas casas.
É comum ouvir pessoas dizendo ser testemunhas de visitantes que vêm a Resende Costa e aqui abandonam seus animais. Se isso ocorre ou não, uma coisa é certa: eles perambulam pela cidade, correm atrás de automóveis e motocicletas, aprontam uma barulheira e brigas quando há entre eles uma cadela no cio. A sujeira que fazem se espalha pelas ruas e praças. Na praça Dr. Costa Pinto – a mais frequentada e no centro da cidade – eles deixam fezes e urina, o que incomoda aqueles que querem ficar sentados em seus bancos. Crianças que gostam de brincar ali frequentemente levam para casa, na sola dos seus calçados, os excrementos lá deixados pelos animais.
Retirá-los das ruas para deixá-los em canil municipal não é possível porque a cidade não possui um. As pessoas que têm por costume recolhê-los para lhes dar tratamento adequado têm seus limites, não conseguem adotar os muitos que circulam pela cidade. Portanto, esses animais, sem dono, sofrem muito devido ao abandono, fome, agressões e lesões não curadas.
O cão vira-lata, fazendo jus ao título que tem, vai virar latas, rasgar sacolas plásticas na busca de alimentos. Aí surge outro problema: a sujeira que se vê no centro da cidade, principalmente com o lixo esparramado pelo chão. Aqueles que deixam o lixo depositado em latões, notadamente nos sábados e domingos, fazem da segunda-feira uma cena feia, difícil de ser bem-vista. Aquela imagem de cidade limpa, que tem dos seus moradores o cuidado de varrerem a frente da casa, fica manchada. Os que saem cedo na segunda-feira para trabalhar, realizar uma caminhada, ir para uma academia de ginástica ou para a escola, se deparam com a cena triste de tamanha imundície. Quem passa pela igreja do Rosário, rua José Jacinto, Avenida Ministro Gabriel Passos sabe bem do que estou relatando, já que os vira-latas estiveram por ali atrás de ossos, restos de sanduíches e de todo tipo de comida jogada no lixo de forma inadequada. A culpa é dos cachorros?
Por outro lado, há boas ações que precisam ser copiadas. Uma delas é o que faz quem sai para passear com seu cãozinho e leva um saquinho plástico para recolher as fezes dos bichinhos para dispensá-las em local adequado. Isso é muito diferente de abrir o portão e deixá-los defecar na rua. É diferente de permitir que eles sujem locais que muita gente usa para fazer exercícios, como no caso do campo de futebol do Expedicionários. O que é possível fazer? Penso que seja conscientizar, fiscalizar, promover ações que visem à solução desse problema.
Temos um grupo que realiza caminhadas periódicas no município: o Caminhantes das Lajes. Nunca, nunca mesmo, em nossas saídas, algum vira-lata deixou de nos seguir. Os que vão conosco são bem tratados por nós, que fazemos questão de trazê-los de volta para a cidade.
Memórias de ex-soldado do Exército Brasileiro
27 de Marco de 2024, por Edésio Lara 0
Foi há 50 anos, no dia 15 de março de 1974, quando, depois de convocado, iniciei minha atividade de soldado no 11º Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro – 4ª Região Militar – sediado em São João del-Rei/MG. Naquele ano, o presidente da República era o General Emílio Garrastazu Médici, que estava no último ano do mandato, quando o governador do nosso estado era Rondon Pacheco, eleito de forma indireta pela Assembleia Legislativa. Tínhamos, além do nosso ordenado, alimentação, todo o fardamento e dormitório. Além disso, nós que estudávamos à noite tínhamos autorização do alto comando para chegar ao batalhão após as 22h. Aquele ano foi muito importante não só para mim, mas também para todos os colegas de farda, não tenho dúvida.
Naquela época, uma equipe do batalhão deixava São João del-Rei para percorrer cidades vizinhas a fim de selecionar jovens que pudessem servir ao exército por um período de 10 meses. De Resende Costa, fui um dos escolhidos para iniciar na carreira militar como recruta (Reco). Em março daquele ano, teve início, portanto, uma série de treinamentos e de trabalhos destinados a nos preparar para atuar em defesa da pátria. Coube-me trabalhar com o morteiro 60 mm, além do fuzil automático leve (FAL) e, em alguns momentos, a pistola 45 Taurus. Saí 10 meses e um dia depois (15/01/75), qualificado como soldado municiador.
As lições que tínhamos eram muitas e as obrigações também. A primeira que recebemos foi no dia de nossa apresentação. Chegamos ao batalhão em dia chuvoso. Nós, da 1ª Companhia de Fuzileiros, fomos levados até a avenida para retornarmos ao batalhão subindo por uma rampa barrenta, extremamente escorregadia. A dificuldade em subi-la só foi resolvida depois de começarmos a nos ajudar uns aos outros. Ali estava o primeiro recado para todos: sozinhos, éramos frágeis; juntos, tornávamo-nos fortes. Fomos, desde então, convidados a atuar juntos e de forma coesa com os demais colegas de farda. Sob o comando do Tenente-Coronel Sidônio Barroso Dias, nos deparamos com algo bastante sério no Exército: ter responsabilidade, respeitar o outro, ser disciplinado e obediente àquilo que os superiores determinam e orgulhar-se de prestar o serviço militar.
Quando chegamos à 1ª Companhia, ficamos conhecendo nosso comandante: Tenente Homero de Sousa Rosa*. Homem muito bem preparado para a função, chamava a atenção pelo porte físico e disposição para comandar a equipe. Tinha como característica a maneira como impunha disciplina à tropa com autoridade e respeito ao grupo. Militar nato, impunha disciplina sem a necessidade de humilhar ou agredir verbalmente qualquer dos seus comandados. O respeito que tinha por nós era correspondido. Isso o fazia ter consigo nosso empenho, a dedicação e o entusiasmo para realizarmos tarefas que nos eram delegadas. Não tínhamos medo dele, mas admiração.
Particularmente, minha relação com o tenente Homero foi ótima. Geralmente, ele se aproximava de mim e, com um tapa no ombro, me cumprimentava: “E aí, dr. Edésio?” E foi assim que atravessamos aqueles meses na caserna, nos acampamentos ou nos desfiles militares. Quando ele soube que eu iria “dar baixa”, isto é, deixar o Exército, chamou minha mãe e, diante de mim, perguntou por que estava indo embora. Naquele momento, já não era possível tomar outra decisão. Poderia ter tentado prestar serviço na banda de música, tocando requinta, mas a timidez não permitiu que eu me candidatasse. De São João del-Rei fui direto para Belo Horizonte, levando comigo tudo o que aprendi no Exército, as boas lembranças dos colegas e, principalmente, do Tenente Homero de Sousa Rosa, que contribuiu muito para a minha formação como ser humano. Saí agradecido, levando comigo tudo de bom que aprendi ali.
*Homero de Sousa Rosa, com a patente de coronel, faleceu em Brasília/DF no dia 26 de dezembro de 2017.