O cartão, a aposta e o jogo que ninguém quer jogar
30 de Abril de 2025, por Vanuza Resende 0
No Brasil, o futebol já foi chamado de muitas coisas: arte, religião, escola de samba em chuteira. Mas ultimamente anda merecendo outro título, menos poético: enredo de série policial.
A bola mal rola e, de repente, o cartão amarelo não é só um aviso do juiz — é uma senha para alguém lucrar no submundo das apostas. O mais novo personagem dessa novela é Bruno Henrique, atacante do Flamengo, indiciado pela Polícia Federal por supostamente forçar um amarelo no jogo contra o Santos, lá no Brasileirão de 2023. Dizem que o lance renderia um trocado — mas, convenhamos, no mundo das apostas ilegais, o trocado de um vira o carro novo de outro.
Em troca de mensagens com o irmão Wander, que também é alvo da Polícia Federal, a clareza de um bom investimento: “O tio você está com 2 cartão no brasileiro?” Em resposta, o atacante escreveu: “Sim”. Wander segue: “Quando [o] pessoal mandar tomar o 3 liga nós hein kkkk”, Bruno Henrique responde: “Contra o Santos”. Wander: “29 de outubro”, “Será que você vai aguentar ficar até lá sem cartão kkkkkk”. Bruno Henrique: “Não vou reclamar”, “Só se eu entrar forte em alguém”. Wander então responde: “Boua já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso”.
Agora, cá entre nós: forçar um cartão, no Brasil, é quase arte milenar. Quem nunca viu um jogador chutando a bola pra longe aos 47 do segundo tempo, só pra “limpar” a barra antes de um clássico? Mas o problema, dessa vez, é que a motivação teria saído do vestiário direto pra conta de um apostador esperto, com a bênção de um irmão no WhatsApp e uma odd generosa piscando na tela do celular.
O futebol brasileiro, que já conviveu com gramados esburacados, arbitragens duvidosas e dirigentes criativos, agora precisa enfrentar a nova moda: a manipulação digitalizada. Esqueça o juiz comprado da década de 90. Agora é tudo mais sutil, mais limpo, mais difícil de pegar. Tudo estampado nas placas de propaganda do estádio, nas chamadas do rádio, da TV, e na propaganda do celular.
Enquanto você lucra a sua cervejinha no fim de semana assistindo ao seu time na TV, com sua aposta simples, seu entendimento de torcedor e um pouco de sorte, tem quem consegue nas apostas os melhores dos investimentos.
Talvez seja hora de pensar no quanto estamos dispostos a deixar que a lógica das apostas dite o ritmo do esporte. Porque se o drible, o gol e o cartão amarelo virarem só mercadoria em um mercado invisível, o que sobra do jogo?
O hexa, o 50º título e a supremacia alvinegra em um Mineiro sem azul na final
26 de Marco de 2025, por Vanuza Resende 0

Pôster Atlético campeão mineiro (foto Jornal Estado de Minas)
O Atlético é campeão mineiro. De novo. Pela sexta vez consecutiva. Pela quinquagésima vez na história. Já virou rotina, quase que um ritual: o Galo entra no campeonato estadual, dá aquela espiada nos rivais, sente a temperatura e, quando vê, já está levantando a taça. Dessa vez, o roteiro até teve um pequeno plot twist, um fiapo de emoção ali no segundo jogo da final. Mas, sejamos sinceros, alguém realmente achou que o América ia estragar a festa?
O Coelho até tentou. Fez o que pôde. Inclusive, fez um gol! Servindo aquele famoso “água no chopp” para a Massa, que já estava com o grito de campeão engatilhado. Mas, cá entre nós, era só uma gotinha, nada que fizesse a cerveja perder o gás. O Atlético administrou, cozinhou e, sem maiores sustos, confirmou o título.
E o Cruzeiro? Bem… ficou só olhando de longe. Foi eliminado antes mesmo de ter a chance de dar um pouco mais de graça ao campeonato. E aí o Mineiro, que poderia ter tido mais dois clássicos entre Atlético e Cruzeiro, ficou sem aquele tempero especial.
O torcedor atleticano, que já estava acostumado a vencer o rival na final, teve que se contentar com um título sem esse ingrediente. Mas sejamos honestos: depois de seis títulos seguidos, cinquenta no total, e um adversário que não consegue sequer chegar até a decisão, será que o torcedor sente falta mesmo? Ou já está curtindo esse novo hábito de ver o Atlético desfilar soberano no futebol mineiro?
Seja como for, a taça é do Galo. O hexa está na conta. O número 50 na prateleira. E a pergunta que fica no ar é: tem alguém aí para impedir o sétimo?
Deu a lógica de novo: clássico não segue a lógica
25 de Fevereiro de 2025, por Vanuza Resende 0
Se existe uma regra no futebol que nunca falha é a de que clássico não tem lógica. E, para quem duvida disso, basta olhar para o primeiro Cruzeiro x Atlético oficial de 2025, disputado no dia 9 de fevereiro. O Cruzeiro, jogando com o Mineirão lotado, com reforços de peso e um Atlético ainda tentando remontar seu elenco, tinha um ligeiro favoritismo. Aí o jogo começou... e, bem, deu a lógica: o favorito não venceu.
O torcedor celeste até pode dizer que a expulsão do Gabigol mudou tudo. E de fato complicou. Mas e a marcação? E a falha, mais uma, do Cássio? Mas sejamos justos: o problema não foi a defesa. Foi a lógica.
E se tem algo que clássico adora é pregar peças. O Cruzeiro chegou embalado, empurrado por 60 mil torcedores: parecia que tinha um roteiro pronto para a vitória. O Atlético, por outro lado, perdeu peças importantes no elenco e chegou como quem não queria nada. E a gente sabe como essa história costuma terminar. O azarão vira valente, o favorito – ainda que, nesse caso, sem um amplo favoritismo - se complica e a imprevisibilidade entra em campo para mostrar que estatística e análise tática ficam pequenas diante da mística dos grandes jogos.
Aliás, isso não é novidade. Quem não se lembra de 2011? O Atlético tinha tudo para rebaixar o Cruzeiro e dar o troco de anos de gozação. Mas, como se fosse obra de algum espírito zombeteiro do futebol, o Cruzeiro não só escapou, como meteu 6 a 1 no maior rival. Ou, então, em 2013, quando o time azul fez uma campanha de almanaque e, mesmo assim, apanhou nos confrontos diretos contra o Galo. Ou seja, favoritismo em clássico vale tanto quanto promessa de político em época de eleição.
A verdade é que clássico bom é assim: cheio de reviravoltas, sem roteiro definido e capaz de deixar qualquer torcedor com o coração na boca. Quem tenta prever o resultado acaba refém da decepção – ou da surpresa. Porque no futebol a lógica pode até existir, mas, quando se trata de Cruzeiro x Atlético, ela costuma ser apenas um detalhe.
O que nos resta? Simples: menos lógicas, mais clássicos. Porque, no fim das contas, é isso que faz desse duelo um dos maiores do Brasil!
Gabigol no Cruzeiro: as coisas mudam, meu amigo!
22 de Janeiro de 2025, por Vanuza Resende 0
Olha, eu não sei vocês, mas eu ainda estou tentando digerir a frase: “Gabigol é jogador do Cruzeiro”. Se você, cruzeirense, achou que ver Ronaldo Fenômeno anunciando ser o “dono” do clube já era surreal, imagina agora com Gabriel Barbosa vestindo a camisa azul! Pois é, meu amigo, a vida tem dessas. Inclusive, acho que se Ronaldo não tivesse feito acordo com o Pedrinho, não estaríamos vendo esse camisa 9.
Por onde começar? Gabigol, o “príncipe do Maracanã”, agora vai ter que conquistar a torcida no Mineirão. E, convenhamos, não é uma tarefa fácil com a bola rolando. Aqui em Minas, o povo é mais quieto. A pressão é diferente. A festa fácil ficou só mesmo com a apresentação do tal Gabriel de 28 anos.
Brincadeiras à parte, a chegada de Gabigol é uma jogada de mestre do Cruzeiro. Depois de um 2024 turbulento, com altos e baixos no Brasileirão, a diretoria parece ter entendido que precisava de algo grande para 2025. E grande não só no talento – Gabigol é um dos melhores atacantes do país –, inclusive, no impacto. O Cruzeiro quer, de novo, ser protagonista e, com Gabigol na linha de frente, é possível imaginar um Mineirão lotado, camisas azuis com o número 9 estampado e até aquele velho sonho de Libertadores voltando à pauta.
E o Atlético nisso tudo?
Ah, o Atlético… O Galo está olhando essa história de longe, com um sorriso de canto de boca e a desconfiança que o mineiro domina. Afinal, a torcida torce para que as desconfianças sejam concretizadas.
O Atlético está naquela fase de reconstrução controlada. Depois de conquistar o Brasileirão em 2021, veio a ressaca. Mas 2024 mostrou que o time ainda tem lenha para queimar, com boas campanhas na Copa do Brasil e na Libertadores. O elenco é sólido, o técnico tem a confiança da torcida (pelo menos, até a próxima sequência de três derrotas). E por falar em torcida, a massa atleticana está sempre pronta para ser o 12º jogador, e o 13º, se precisar.
Rivalidade à flor da pele
Agora, vamos combinar: se Gabigol no Cruzeiro já é um prato cheio para memes, o duelo entre ele e Hulk nos clássicos de 2025 vai ser um banquete completo. Você consegue imaginar a cena? Hulk pegando a bola no meio de campo, trombando com zagueiro e indo pra cima; do outro lado, Gabigol provocando, pedindo pênalti e dando aquela encarada clássica. É rivalidade na essência, e isso só faz bem para o futebol mineiro.
Mas, claro, todo cruzeirense já está preocupado: “Será que Gabigol vai ‘resolver’ ou vai ser só mais um nome de peso que não engrena?”. É uma dúvida justa. O histórico recente mostra que nem sempre as grandes estrelas brilham como o esperado por aqui. E, no caso do Atlético, o desafio será manter a consistência e não depender apenas de Hulk.
Perspectivas para 2025
A verdade é que o ano promete muito para Cruzeiro e Atlético. Enquanto o Galo busca retomar o protagonismo, o Cruzeiro tenta provar que a reestruturação pós-série B deu certo. Gabigol é um símbolo dessa aposta no futuro, mas ele precisará de um elenco ao seu redor para fazer a diferença. Dudu parece estar pronto.
E nós, torcedores, já sabemos o que fazer: abrir o coração e os olhos. Porque 2025 tem tudo para ser um desses anos em que o futebol mineiro possa se manter como assunto no boteco, na fila do pão e nos noticiários esportivos nacionais na luta pela quebra da hegemonia no eixo Rio – São Paulo/São Paulo-Rio.
Então, se eu fosse você, já ia marcando na agenda: Cruzeiro x Atlético, primeiro clássico do ano. Quem sabe Gabigol não decide o jogo? Ou talvez seja Hulk... Ou, vai saber, um zagueiro desconhecido mete um gol contra e vira herói improvável. Porque no futebol, como na vida, tudo pode acontecer – até Gabigol jogando de azul.
Fim de temporada: futebol, drama e redenções
25 de Dezembro de 2024, por Vanuza Resende 0
Ah, o futebol... Sempre uma montanha-russa de emoções. Chegamos ao fim de 2024 e, como num samba bem tocado, o ano teve seus altos, baixos, uns tropeços e conquistas gloriosas. Vamos à resenha?
Começando pela dupla mineira, que neste ano misturou tragédia e comédia como novela das oito. O Cruzeiro, meus amigos, fez um arroz com feijão bem temperado: garantiu vaga na Sul-Americana, mas deixou a Libertadores passando de ladinho. Sabe aquele famoso “quase”? Pois é, foi a Raposa tentando se acertar, mas sem brilho suficiente no tapete azul e branco estendido. Pelo menos o time não esboçou perigo de Série B e chegou a uma final depois de ter visto quase o próprio final. Tá que o torcedor celeste é exigente e queria mais, mas, só de respirar aliviado, a temporada 2024 teve de bom tamanho.
Enquanto isso, o Atlético foi protagonista de uma temporada que mais parecia um drama shakespeariano. Eu até colocaria a culpa no calendário, mas teve time que mostrou que não importa o número de jogos e competições: consegue fazer o que tem que ser feito. Atlético esteve em duas finais. E nas principais finais disputadas pelos clubes brasileiros. E como eu disse nesta coluna no mês passado, só perde final quem disputa. Mas não precisava perder as duas, e precisava menos ainda chegar à última rodada com aquele friozinho na barriga típico de quem dança na beira do precipício? O risco de rebaixamento foi real e a massa atleticana precisou ficar com o terço na mão. Não precisava disso! Mas precisava de um título, né?
Agora, mudando o tom, que tal falar de redenção? O Botafogo, aquele mesmo que muitos diziam ser o “eterno cavalo paraguaio”, resolveu calar todo mundo. Não só ganhou o Campeonato Brasileiro com autoridade, como também levou a Libertadores! Pois é, meu amigo, o Glorioso saiu da fila, abriu a geladeira e desceu a taça com gosto. Lá no Rio, o clima é de festa eterna. Afinal, quem diria que o “time que nunca vai” fosse tão longe?
Entre os outros gigantes, o Palmeiras fez um ano consistente, mas ficou com aquele gosto amargo de “quase” em todas as competições. O Flamengo, que sempre entra com a pompa de favorito, caiu em momentos decisivos e viu sua torcida questionar o elenco milionário. E o Corinthians? Ah, o Timão só agradece por ter evitado o pior depois de um segundo turno digno de campeão. E promete dar as caras com mais força no ano que vem.
A temporada de 2024 foi isso: reviravoltas, zebras, times se reinventando e outros tentando não se perder mais ainda. Agora é esperar 2025 chegar com suas novas promessas e dramas. Até lá é aguentar dança das cadeiras dos comandantes, anúncios que só acontecem na internet e não vingam, disputa de quem afinal tá montando o time mais competitivo! Ah, o futebol...