Entre o sagrado e o profano

Reflexões sobre o primeiro discurso do Papa Leão XIV

28 de Maio de 2025, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0

O discurso inaugural do Papa Leão XIV representa um marco de continuidade e inovação no horizonte da Igreja Católica. Inspirado por uma espiritualidade agostiniana e reverberando a herança de Papa Francisco, Leão XIV apresenta uma visão que reafirma a missão da Igreja como promotora da paz, da unidade e do diálogo.

Nos primeiros momentos de seu pontificado, Leão XIV enfatizou temas centrais no papado de Francisco: a construção de pontes de diálogo e a atenção preferencial aos mais vulneráveis. A expressão “paz desarmada, uma paz desarmadora” sintetiza a essência de uma Igreja que busca promover a reconciliação sem imposições, mas por meio de um testemunho fiel ao Evangelho.

O reconhecimento do legado de Francisco no discurso de Leão XIV é inequívoco. Ao afirmar “Ainda conservamos em nossos ouvidos aquela voz frágil, mas sempre corajosa do Papa Francisco”, Leão XIV se posiciona como herdeiro de uma tradição de reforma pastoral que privilegia a proximidade e a misericórdia.

A autodeclaração de Leão XIV como “um filho de Santo Agostinho” evidencia uma espiritualidade centrada na busca pela verdade, na comunhão fraterna e na caridade. As palavras de Agostinho, citadas no discurso (“Convosco sou cristão, e para vós bispo”), reforçam a ideia de um pastor que caminha junto com seu rebanho, compartilhando as dores e esperanças do povo de Deus.

Leão XIV destacou-se, enquanto Cardeal Prevost, por sua moderação e discrição, características que fortalecem sua capacidade de liderar em tempos de polarização. Em ocasiões recentes, ele questionou a interpretação equivocada do vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, sobre o conceito de ordo amoris em Agostinho, reafirmando que a ordenação do amor é um chamado à harmonia das afeições e à busca pela verdadeira caridade cristã.

A vida comum, enfatizada nas Constituições da Ordem de Santo Agostinho (OSA), inspira uma visão eclesial em que a fraternidade reflete o mistério trinitário. Nesse sentido, Leão XIV implicitamente se compromete a cultivar uma Igreja sinodal, onde todos são chamados a contribuir para a construção de uma comunidade de fé.

Espera-se que Leão XIV mantenha e aprofunde iniciativas de Francisco, como a promoção de uma ecologia integral, a abertura ao diálogo inter-religioso e o combate às desigualdades sociais. Sua experiência como bispo em Chiclayo, no Peru - uma diocese marcada por desafios sociais e econômicos - sugere que ele traz ao papado uma sensibilidade aguçada às questões que afligem as periferias do mundo.

Entretanto, Leão XIV também enfrenta desafios significativos: a crescente polarização interna na Igreja, a urgência de reformas estruturais e a necessidade de responder a crises globais, como conflitos armados e mudanças climáticas. Ao mencionar a necessidade de “construir pontes e promover a sinodalidade”, indica que ele buscará enfrentar tais desafios por meio de um processo de escuta e discernimento.

No discurso inicial, o apelo de Leão XIV para que a Igreja seja “sempre aberta a receber [...] todos aqueles que precisam da nossa caridade” ressoa com o chamado de Francisco para uma Igreja “em saída”. Essa visão exige coragem para desafiar confortos institucionais e enfrentar as dores do mundo com compaixão e justiça.

Sua ênfase na construção de pontes “com o diálogo, com o encontro” reflete um compromisso com uma diplomacia espiritual que visa superar divisões. A convicção de que “a humanidade necessita de pontes” reafirma o papel da Igreja como mediadora em um mundo fragmentado.

O Papa Leão XIV inicia seu pontificado com uma mensagem de esperança e continuidade, profundamente enraizada na espiritualidade agostiniana e na herança pastoral de Francisco. Sua visão de uma Igreja sinodal, missionária e fraterna traz alento para um mundo em busca de paz e unidade. Como sucessor de Pedro, Leão XIV está chamado a ser um construtor de pontes, promovendo o diálogo e a caridade em um mundo que anseia por reconciliação e solidariedade.

 

Referência:

<https://agostinianos.org.br/agostinianos/ordem/apresentacao/fundamento-finalidade-e-pertenca>. Acesso em: 08 mai. 2025. 

<https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2025/05/08/0299/00524.html>. Acesso em: 08 mai. 2025.

Influencers católicos e a crise do chão paroquial

30 de Abril de 2025, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0

Nos últimos anos, assistimos ao crescimento vertiginoso da presença católica nas redes sociais. Padres, freis, leigos e religiosas com carisma comunicativo tornaram-se verdadeiros influencers, com milhões de seguidores e uma capacidade impressionante de mobilizar afetos, opiniões e... doações. À primeira vista, esse fenômeno parece uma bênção. A fé católica ganha visibilidade, o conteúdo religioso circula com facilidade e muitos se aproximam da Igreja por meio de um clique. No entanto, por trás dessa aparência entusiástica, há uma realidade pastoral e econômica que merece uma reflexão urgente.

Muitos fiéis, tocados por esses “ministérios midiáticos”, acabam desviando sua atenção - e seus recursos - da comunidade paroquial à qual pertencem. É cada vez mais comum ouvir a frase: “Não vou doar para a paróquia, prefiro ajudar o Padre X do YouTube (Instagram, Facebook etc.)”. Assim, a doação que deveria sustentar o “chão” que o fiel pisa - sua igreja local, sua paróquia, seu pároco - acaba sendo enviada a outro canto do país, onde vive e atua um influencer religioso que, muitas vezes, sequer conhece o doador.

Não se trata de desmerecer o trabalho evangelizador feito por essas figuras públicas. Há neles zelo, criatividade e dedicação que, sem dúvida, ajudam muitos a reencontrar o caminho da fé. O problema está em transformar o vínculo digital em substituto do vínculo comunitário, e o culto à personalidade em substituto da vida paroquial.

Muitas paróquias hoje enfrentam sérias dificuldades financeiras. Párocos lidam com contas de luz e água atrasadas, telhados prestes a ruir, obras inacabadas e estruturas deterioradas. A ausência de contribuições regulares, aliada à perda do senso de pertença, compromete a missão da Igreja em seu espaço concreto e encarnado. Quando uma igreja desaba - no sentido literal ou figurado - muitos se perguntam o que houve. A resposta, embora complexa, passa por esse esvaziamento silencioso do compromisso comunitário.

Além disso, há o impacto espiritual. Quantas vezes os fiéis deixam de ouvir seu pároco, rejeitam a catequese da comunidade ou resistem à orientação pastoral porque o “Frei Y” disse algo diferente em uma live? Substitui-se a autoridade pastoral concreta por uma voz distante, que fala sem conhecer a realidade local, sem partilhar os sofrimentos, os desafios e as alegrias daquele povo. Isso gera confusão, fragmentação e enfraquece a comunhão eclesial.

Não adianta culpar o Estado nem esperar por soluções externas se muitos dentro da própria Igreja abandonam seu papel. A paróquia é, antes de tudo, uma casa espiritual, um espaço de encontro, um campo de missão. É ali que se batiza, se confessa, se casa, se enterra, se cuida dos pobres, se visita os doentes. Nada - nem mesmo os carismas mais midiáticos - pode substituir a importância dessa presença viva e próxima.

É urgente que repensemos nossas prioridades. Evangelizar no digital é importante, mas sem esquecer que a Igreja é feita de pessoas reais, em lugares reais, com necessidades reais. O pároco que luta para manter sua comunidade viva merece o nosso apoio, nossas orações e, sim, nossa contribuição material.

Afinal, se queremos templos firmes e comunidades vivas, precisamos começar pelo chão que pisamos.

Entre o deserto e a democracia: Moisés e Tancredo Neves, líderes que deixaram um legado maior que o destino

26 de Marco de 2025, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0

A história da humanidade é repleta de figuras que, em diferentes contextos e épocas, assumiram o papel de líderes em busca de uma “terra prometida”. Dois desses personagens, embora separados por milênios e contextos completamente distintos, compartilham uma trajetória marcante: Tancredo Neves, político brasileiro, e Moisés, líder bíblico. Ambos lutaram incansavelmente por um ideal de liberdade e justiça, mas, de maneiras distintas, não conseguiram ver concretizado o sonho pelo qual tanto batalharam. 

Moisés é uma figura central na tradição judaico-cristã. Sua história, narrada no livro do Êxodo, conta como ele foi escolhido por Deus para libertar o povo hebreu da escravidão no Egito. Guiado por uma missão divina, Moisés enfrentou o faraó, realizou milagres e conduziu seu povo através do deserto em direção à Terra Prometida, Canaã. No entanto, apesar de sua dedicação e liderança, Moisés não pôde entrar na terra que tanto almejava. Segundo a narrativa bíblica, ele foi impedido de fazê-lo devido a um ato de desobediência a Deus, quando feriu uma rocha para obter água, em vez de falar com ela, como havia sido ordenado (Nm 20, 7-12). Moisés morreu no Monte Nebo, avistando a Terra Prometida de longe, mas sem nela pisar (Dt 34, 1-5).

Sua história é frequentemente interpretada como um símbolo da luta pela liberdade e da importância de seguir um propósito maior, mesmo que o objetivo final não seja alcançado pessoalmente. Moisés representa a ideia de que a jornada e o legado são tão importantes quanto o destino.

Tancredo Neves, por sua vez, foi um político brasileiro que emergiu como figura central no processo de redemocratização do Brasil após o regime militar (1964-1985). Conhecido por sua habilidade política e discurso conciliador, Tancredo foi eleito Presidente da República em 1985, pelo Colégio Eleitoral, como representante da Aliança Democrática. Sua eleição simbolizou a esperança de um novo começo para o país, marcado pela restauração da democracia e pela superação de anos de autoritarismo.

No entanto, em um trágico desfecho, Tancredo adoeceu gravemente na véspera de sua posse e faleceu em 21 de abril de 1985, sem nunca ter assumido o cargo. Sua morte chocou o país e deixou um sentimento de luto e frustração, já que ele era visto como o líder capaz de conduzir o Brasil em sua transição para a democracia. Assim como Moisés, Tancredo lutou por uma “terra prometida” - no caso, um Brasil livre e democrático -, mas não pôde ver seu sonho plenamente realizado.

Apesar das diferenças históricas e culturais, as trajetórias de Moisés e Tancredo Neves apresentam paralelos. Ambos foram líderes carismáticos que assumiram a responsabilidade de guiar seu povo em momentos de transição e crise. Moisés liderou os hebreus para fora do Egito, enquanto Tancredo simbolizou a esperança de um Brasil livre da opressão militar. Ambos enfrentaram desafios e foram vistos como figuras quase míticas, capazes de realizar o impossível.

Entretanto, o destino reservou a ambos um final amargo: Moisés não pôde entrar em Canaã, e Tancredo não pôde assumir a presidência. Esses desfechos nos levam a refletir sobre a natureza da liderança e do sacrifício. Será que o verdadeiro significado de suas lutas reside no destino final ou no legado que deixaram?

Moisés, embora não tenha entrado na Terra Prometida, consolidou-se como um símbolo de libertação e fé. Sua história inspirou gerações e continua a ser um exemplo de perseverança. Da mesma forma, Tancredo Neves, mesmo sem assumir a presidência, tornou-se um ícone da redemocratização brasileira. Sua morte não apagou o significado de sua luta, mas, ao contrário, reforçou a importância da democracia e da esperança.

As histórias de Moisés e Tancredo Neves nos lembram que a luta por um ideal nem sempre é recompensada com a realização pessoal do sonho. No entanto, o verdadeiro impacto de um líder pode transcender sua própria existência, inspirando outros a continuar. Moisés não entrou em Canaã, mas seu povo o fez. Tancredo não governou o Brasil, mas sua eleição abriu caminho para a consolidação da democracia.

Ambos nos ensinam que a “terra prometida” não é apenas um lugar físico ou um objetivo concreto, mas um símbolo de esperança e transformação. Suas vidas nos convidam a refletir sobre o poder da luta coletiva e o legado que deixamos para as gerações futuras. Afinal, como disse o poeta Mario Quintana, “eles passarão... eu passarinho”. Moisés e Tancredo podem não ter alcançado pessoalmente suas terras prometidas, mas suas lutas continuam nos guiando em direção a um futuro melhor.

Você também se sente culpado por descansar?

25 de Fevereiro de 2025, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0

Na sociedade contemporânea, existe um paradoxo curioso que permeia nossa relação com o tempo: quanto mais ferramentas temos para otimizar nossas tarefas, menos tempo parece nos sobrar. E quando finalmente encontramos um momento para descansar, somos assombrados por um sentimento peculiar de culpa, como se o próprio ato de pausar fosse uma transgressão contra nossa produtividade.

Esse fenômeno não é mera coincidência, mas sim o reflexo de uma cultura que transformou a produtividade constante em uma virtude moral. O capitalismo moderno, aliado às tecnologias que nos mantêm constantemente conectados, criou um ambiente onde o “fazer” se tornou mais valorizado que o “ser”. Nesse contexto, o descanso deixou de ser visto como uma necessidade biológica e passou a ser interpretado como um sinal de fraqueza ou, pior ainda, de preguiça.

O ritmo frenético de nossas vidas se assemelha a uma esteira em velocidade máxima, onde corremos incessantemente sem necessariamente chegar a algum lugar. Reuniões se sobrepõem a compromissos, notificações interrompem momentos de concentração e a lista de tarefas parece se multiplicar mesmo quando dormimos. Este ciclo vicioso nos condicionou a um estado de alerta permanente, onde o próprio cérebro se recusa a desacelerar.

Quando finalmente nos permitimos uma pausa, seja forçada por exaustão ou planejada, o sentimento de culpa emerge como um fantasma familiar. “Será que não estou esquecendo algo importante?”, “Deveria estar aproveitando este tempo para adiantar aquele projeto?”, “Os outros estão trabalhando enquanto descanso?” - São perguntas que ecoam em nossa mente, envenenando momentos que deveriam ser de recuperação e paz.

Esta culpa do descanso revela uma distorção profunda em nossa compreensão sobre produtividade e bem-estar. Ignoramos que o descanso não é apenas uma pausa no trabalho, mas um componente essencial para nossa criatividade, produtividade e saúde mental. Os momentos de pausa são fundamentais para a consolidação de memórias, processamento de experiências e regeneração física e mental.

A natureza nos oferece exemplos claros desta necessidade: as estações do ano alternam períodos de crescimento e repouso, os animais hibernam, e até mesmo o solo precisa de períodos de pousio para manter sua fertilidade. Por que, então, nos convencemos de que podemos funcionar em um estado perpétuo de atividade?

É urgente reconhecermos que essa “cultura da pressa constante” está nos adoecendo. O aumento nos casos de burnout, ansiedade e depressão é um sinal claro de que nosso modelo atual é insustentável. Precisamos reaprender a descansar sem culpa, compreendendo que o descanso não é um privilégio, mas uma necessidade fundamental.

A solução passa por uma mudança profunda de mentalidade. Precisamos desconstruir a ideia de que nosso valor está atrelado à nossa produtividade. O descanso precisa ser reintegrado em nossa rotina não como uma recompensa pelo trabalho, mas como parte integral de um ciclo saudável de vida.

Talvez seja hora de nos perguntarmos: quanto dessa pressa é realmente necessária? Quanto desse sentimento de culpa é realmente nosso, e quanto foi imposto por um sistema que prospera com nossa exaustão? O verdadeiro progresso talvez não esteja em fazer mais coisas em menos tempo, mas em recuperar nossa capacidade de existir plenamente no momento presente, seja ele de ação ou de repouso.

O desafio está posto: precisamos reaprender a desacelerar, a respirar, a contemplar. Precisamos redescobrir o valor do ócio, do descanso regenerador e da pausa consciente. Só assim poderemos romper com esse ciclo vicioso de aceleração constante e culpa, encontrando um ritmo de vida mais sustentável e humanizado.

O compositor musical como algoritmo de si mesmo

09 de Janeiro de 2025, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0

Na era digital em que vivemos, a inteligência artificial (IA) tem se tornado uma presença marcante em diversas áreas, incluindo a música. Desde a composição automática até a execução de performances complexas, a IA tem demonstrado capacidades impressionantes. No entanto, um debate interessante surge quando consideramos a relação entre compositores humanos e sistemas de IA: será que uma IA pode realmente prever ou substituir o processo criativo de um compositor?

A metáfora do compositor como um algoritmo de si mesmo sugere que ele é o autor das regras e do sistema pelo qual cria sua música. Essa visão implica que, assim como um algoritmo computacional segue um conjunto específico de instruções para alcançar um resultado, o compositor humano segue um processo interno único e altamente pessoal.

Cada compositor possui seu próprio conjunto de influências, experiências, conhecimentos musicais e técnicas que, juntos, formam um sistema complexo e dinâmico. Este sistema está em constante evolução, incorporando novas experiências e informações ao longo do tempo. Assim, o compositor não é um ser estático, mas sim um organismo criativo em constante desenvolvimento.

A criatividade humana é marcada por sua imprevisibilidade. Um compositor pode decidir mudar o tom de sua música no meio do processo criativo, incorporar elementos de um gênero diferente, ou mesmo romper completamente com as convenções musicais para criar algo inteiramente novo. Essa capacidade de inovação e surpresa é uma característica inerente ao ser humano, que uma IA, programada com dados preexistentes, encontra dificuldade em replicar.

As IAs de composição musical, são programadas para aprender padrões a partir de vastos conjuntos de dados musicais. Elas podem gerar composições que imitam estilos específicos ou combinam características de diferentes gêneros musicais. No entanto, essas composições ainda são produtos de um processo baseado em padrões, mais do que de uma criatividade genuína. A IA é excelente em reconhecer e replicar padrões, mas a verdadeira originalidade - a capacidade de criar algo que nunca foi ouvido antes - está fora de seu alcance.

O processo criativo humano é profundamente enraizado em emoções, experiências pessoais e intuições que não podem ser totalmente compreendidas ou reproduzidas por máquinas. A música composta por humanos muitas vezes reflete a complexidade da condição humana, abordando temas de amor, perda, esperança e desespero, de formas que ressoam profundamente com o ouvinte. Esta ressonância emocional é algo que uma IA, sem experiência emocional própria, não pode verdadeiramente alcançar.

Além disso, a liberdade de escolha e a capacidade de seguir ou romper com regras pré-estabelecidas são aspectos centrais do processo criativo humano. Um compositor pode, por exemplo, escolher ignorar a teoria musical convencional para expressar algo novo e pessoal. Essa liberdade criativa é algo que uma IA, limitada por suas instruções programáticas, não pode emular com total eficácia.

Embora as IAs possam ser treinadas para criar músicas que pareçam novas ou interessantes, elas são, no entanto, baseadas em um conjunto de dados e diretrizes previamente estabelecidos. As IAs não têm a capacidade de criar conceitos musicais verdadeiramente novos ou inovar de maneiras que vão além dos dados com os quais foram treinadas. Elas seguem regras lógicas e padrões previsíveis, enquanto o ser humano é capaz de se reinventar e quebrar essas mesmas regras, gerando algo inesperado.

Mesmo que uma IA consiga simular um estilo específico ou até mesmo criar algo que pareça autêntico a um ouvido humano, falta-lhe a intuição e a emoção subjacente que um compositor humano traz para sua arte. A experiência humana de vida, os altos e baixos emocionais, as epifanias momentâneas e até as dúvidas contribuem para uma expressão artística rica e variada que as máquinas não conseguem replicar.

Em um mundo onde a tecnologia continua a evoluir rapidamente, o papel do compositor humano como algoritmo de si mesmo destaca a singularidade do processo criativo humano. Enquanto as IAs podem ser ferramentas valiosas para auxiliar compositores ou inspirar novas ideias, elas não conseguem capturar a verdadeira essência da criatividade humana. O compositor humano permanece um elemento insubstituível na música, com uma capacidade inerente de inovar e surpreender de maneiras que nenhuma máquina pode prever ou substituir totalmente.

Portanto, enquanto a IA pode continuar a evoluir e a desempenhar papéis cada vez mais complexos na música, o toque humano - essa habilidade única de criar e inspirar - permanecerá no coração da composição musical. O compositor, em toda a sua complexidade e profundidade, continuará a ditar as regras e a explorar novos horizontes criativos, sempre além do alcance de qualquer algoritmo.