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Influencers católicos e a crise do chão paroquial

30 de Abril de 2025, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior

Nos últimos anos, assistimos ao crescimento vertiginoso da presença católica nas redes sociais. Padres, freis, leigos e religiosas com carisma comunicativo tornaram-se verdadeiros influencers, com milhões de seguidores e uma capacidade impressionante de mobilizar afetos, opiniões e... doações. À primeira vista, esse fenômeno parece uma bênção. A fé católica ganha visibilidade, o conteúdo religioso circula com facilidade e muitos se aproximam da Igreja por meio de um clique. No entanto, por trás dessa aparência entusiástica, há uma realidade pastoral e econômica que merece uma reflexão urgente.

Muitos fiéis, tocados por esses “ministérios midiáticos”, acabam desviando sua atenção - e seus recursos - da comunidade paroquial à qual pertencem. É cada vez mais comum ouvir a frase: “Não vou doar para a paróquia, prefiro ajudar o Padre X do YouTube (Instagram, Facebook etc.)”. Assim, a doação que deveria sustentar o “chão” que o fiel pisa - sua igreja local, sua paróquia, seu pároco - acaba sendo enviada a outro canto do país, onde vive e atua um influencer religioso que, muitas vezes, sequer conhece o doador.

Não se trata de desmerecer o trabalho evangelizador feito por essas figuras públicas. Há neles zelo, criatividade e dedicação que, sem dúvida, ajudam muitos a reencontrar o caminho da fé. O problema está em transformar o vínculo digital em substituto do vínculo comunitário, e o culto à personalidade em substituto da vida paroquial.

Muitas paróquias hoje enfrentam sérias dificuldades financeiras. Párocos lidam com contas de luz e água atrasadas, telhados prestes a ruir, obras inacabadas e estruturas deterioradas. A ausência de contribuições regulares, aliada à perda do senso de pertença, compromete a missão da Igreja em seu espaço concreto e encarnado. Quando uma igreja desaba - no sentido literal ou figurado - muitos se perguntam o que houve. A resposta, embora complexa, passa por esse esvaziamento silencioso do compromisso comunitário.

Além disso, há o impacto espiritual. Quantas vezes os fiéis deixam de ouvir seu pároco, rejeitam a catequese da comunidade ou resistem à orientação pastoral porque o “Frei Y” disse algo diferente em uma live? Substitui-se a autoridade pastoral concreta por uma voz distante, que fala sem conhecer a realidade local, sem partilhar os sofrimentos, os desafios e as alegrias daquele povo. Isso gera confusão, fragmentação e enfraquece a comunhão eclesial.

Não adianta culpar o Estado nem esperar por soluções externas se muitos dentro da própria Igreja abandonam seu papel. A paróquia é, antes de tudo, uma casa espiritual, um espaço de encontro, um campo de missão. É ali que se batiza, se confessa, se casa, se enterra, se cuida dos pobres, se visita os doentes. Nada - nem mesmo os carismas mais midiáticos - pode substituir a importância dessa presença viva e próxima.

É urgente que repensemos nossas prioridades. Evangelizar no digital é importante, mas sem esquecer que a Igreja é feita de pessoas reais, em lugares reais, com necessidades reais. O pároco que luta para manter sua comunidade viva merece o nosso apoio, nossas orações e, sim, nossa contribuição material.

Afinal, se queremos templos firmes e comunidades vivas, precisamos começar pelo chão que pisamos.

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