Nos últimos anos, assistimos ao crescimento vertiginoso da presença católica nas redes sociais. Padres, freis, leigos e religiosas com carisma comunicativo tornaram-se verdadeiros influencers, com milhões de seguidores e uma capacidade impressionante de mobilizar afetos, opiniões e... doações. À primeira vista, esse fenômeno parece uma bênção. A fé católica ganha visibilidade, o conteúdo religioso circula com facilidade e muitos se aproximam da Igreja por meio de um clique. No entanto, por trás dessa aparência entusiástica, há uma realidade pastoral e econômica que merece uma reflexão urgente.
Muitos fiéis, tocados por esses “ministérios midiáticos”, acabam desviando sua atenção - e seus recursos - da comunidade paroquial à qual pertencem. É cada vez mais comum ouvir a frase: “Não vou doar para a paróquia, prefiro ajudar o Padre X do YouTube (Instagram, Facebook etc.)”. Assim, a doação que deveria sustentar o “chão” que o fiel pisa - sua igreja local, sua paróquia, seu pároco - acaba sendo enviada a outro canto do país, onde vive e atua um influencer religioso que, muitas vezes, sequer conhece o doador.
Não se trata de desmerecer o trabalho evangelizador feito por essas figuras públicas. Há neles zelo, criatividade e dedicação que, sem dúvida, ajudam muitos a reencontrar o caminho da fé. O problema está em transformar o vínculo digital em substituto do vínculo comunitário, e o culto à personalidade em substituto da vida paroquial.
Muitas paróquias hoje enfrentam sérias dificuldades financeiras. Párocos lidam com contas de luz e água atrasadas, telhados prestes a ruir, obras inacabadas e estruturas deterioradas. A ausência de contribuições regulares, aliada à perda do senso de pertença, compromete a missão da Igreja em seu espaço concreto e encarnado. Quando uma igreja desaba - no sentido literal ou figurado - muitos se perguntam o que houve. A resposta, embora complexa, passa por esse esvaziamento silencioso do compromisso comunitário.
Além disso, há o impacto espiritual. Quantas vezes os fiéis deixam de ouvir seu pároco, rejeitam a catequese da comunidade ou resistem à orientação pastoral porque o “Frei Y” disse algo diferente em uma live? Substitui-se a autoridade pastoral concreta por uma voz distante, que fala sem conhecer a realidade local, sem partilhar os sofrimentos, os desafios e as alegrias daquele povo. Isso gera confusão, fragmentação e enfraquece a comunhão eclesial.
Não adianta culpar o Estado nem esperar por soluções externas se muitos dentro da própria Igreja abandonam seu papel. A paróquia é, antes de tudo, uma casa espiritual, um espaço de encontro, um campo de missão. É ali que se batiza, se confessa, se casa, se enterra, se cuida dos pobres, se visita os doentes. Nada - nem mesmo os carismas mais midiáticos - pode substituir a importância dessa presença viva e próxima.
É urgente que repensemos nossas prioridades. Evangelizar no digital é importante, mas sem esquecer que a Igreja é feita de pessoas reais, em lugares reais, com necessidades reais. O pároco que luta para manter sua comunidade viva merece o nosso apoio, nossas orações e, sim, nossa contribuição material.
Afinal, se queremos templos firmes e comunidades vivas, precisamos começar pelo chão que pisamos.