Trilha sonora

Milton na telona

30 de Abril de 2025, por Renato Ruas Pinto 0

Por esses dias, tive a oportunidade de assistir no cinema, na telona e com som de primeira como tem que ser, ao documentário “Milton Bituca Nascimento” (direção de Flávia Moraes). O filme mostra os bastidores da turnê de despedida de Milton, batizada de “A última sessão de música”, sobre a qual já escrevi aqui na ocasião do show de encerramento no Mineirão (leia em bit.ly/42dyZzC). Ao Milton Nascimento, um gênio da música cujos encantos superaram o território brasileiro, toda homenagem é merecida. E esse documentário, definitivamente, precisa ser visto por todos, fãs ou quem só conhece a obra do artista superficialmente. Ainda assim, acho que algumas oportunidades foram perdidas e creio que há espaço até para outro documentário que trate de alguns tópicos com mais profundidade.

O filme acompanha toda a movimentação do artista ao longo de uma estafante turnê com dezenas de shows ao redor do mundo, passando por Portugal, Inglaterra, Itália, Estados Unidos e, é claro, o Brasil. Enquanto percorre o trajeto, o filme conta com a competente narração de Fernanda Montenegro e vai sendo entrecortado por depoimentos. Alguns do próprio Milton, contando momentos de sua história e trajetória, alguns de pessoas próximas e uma série de depoimentos de músicos dos mais diversos estilos. Para quem não conhece o trabalho de Milton muito bem, os depoimentos dão ideia de sua grandeza e influência.

Entre os artistas brasileiros rendendo homenagens, temos nomes consagrados, como Chico Buarque, Ivan Lins, João Bosco e Caetano Veloso. E ainda há representantes de gerações mais novas, como Maria Gadu, Criolo e Djonga, que mostram que Milton continua a inspirar. Finalmente, grandes nomes do jazz, tais como Herbie Hancock, Stanley Clark e Pat Metheny, deixam claro como a música e harmonias inovadoras de Milton romperam fronteiras e conquistaram seguidores mundo afora. Para nós fãs, é muito legal ver toda essa nata da música brasileira e mundial se curvar para Milton.

O tom laudatório do documentário, porém, leva a algumas armadilhas. Entendo perfeitamente que o objetivo era ser um “filme de estrada”, mostrando o caminho percorrido por Milton em seu último giro como se estivesse seguindo sua imortal canção “Nos bailes da vida”. E não falta coragem para Milton expor na tela toda sua fragilidade física e saúde debilitada, o que é o aspecto mais humano e emocionante do filme. Por outro lado, a profusão de depoimentos de músicos de alto calibre transforma Milton em uma criatura quase divina e inatingível. Quero deixar claro que todo elogio ao Milton é merecido, porém isso praticamente transforma o filme em uma hagiografia, texto que conta a vida dos santos.

Com isso perdeu-se uma oportunidade de contar melhor de onde veio a música de Milton. Da sua infância em uma cidade do interior, onde só se tinha acesso às músicas via rádio, até chegar no Clube da Esquina, onde um caldo de influências criou algo original. Houve um caminho percorrido e pouco foi falado dele. E creio que o próprio Clube da Esquina teve pouquíssimo espaço e passou-se uma ideia de que seus artistas seriam meros coadjuvantes na carreira de Milton. Ainda que Milton tenha sido o grande expoente do Clube e, por já ter uma carreira consolidada na época, ter sido quem abriu o caminho da gravadora para os demais, a influência mútua e interação com Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e outros – além dos letristas Fernando Brant, Márcio Borges e Ronaldo Bastos, é claro – foi decisiva na construção da identidade de Milton como artista. Para quem quiser se aprofundar no assunto, recomendo dois excelentes livros: “Os Sonhos Não Envelhecem”, de Márcio Borges, e “A Música de Milton Nascimento”, de Chico Amaral.

Mesmo com esse reparo, o documentário é muito bonito e emocionante. Não só me levou às lágrimas durante todo o filme, mas também rendeu uma longa sessão de palmas ao seu final. Recomendo, para quem puder ver no cinema, pois o som faz bastante diferença. De todo modo, deve estar disponível em breve em algum streaming.

A beleza e a fúria da natureza

25 de Fevereiro de 2025, por Renato Ruas Pinto 0

As belezas que a natureza nos propicia são sempre fontes de inspiração e relaxamento. Mas a mesma natureza que encanta também traz medo e destruição. O documentário “À sombra do vulcão” (“Under the volcano”, no original) conta uma história interessante que mostra esses dois lados. No final dos anos 70, George Martin, o consagrado produtor dos Beatles, resolveu abrir um estúdio na pequena e empobrecida, mas paradisíaca, ilha de Montserrat, no Caribe. Pelo estúdio passaram artistas do quilate de Paul McCartney, Rolling Stones, Dire Straits, Elton John e The Police e discos notáveis foram gravados lá. A soma de discos que entraram para história, um lugar exótico e um desastre de proporções bíblicas são os ingredientes que dão o tom do ótimo documentário.

George Martin foi o produtor que levou os Beatles a explorar o máximo de seu potencial criativo e a fazer história. Em 1965 ele deixou de ser o responsável pelo selo Parlophone, ligado à EMI, e fundou sua própria companhia, a Associated Independent Recording (AIR), que contava com um estúdio de alta qualidade em Londres. Navegando de barco com a família no Caribe, conheceu Montserrat e fez uma casa na ilhota, que tem pouco mais de 100 quilômetros quadrados e uns 4.000 habitantes. Vislumbrou a ideia de montar um estúdio na ilha, com acomodações para os músicos e técnicos e que serviria como uma espécie de retiro para a produção dos trabalhos. A ilha era servida por voos comerciais apenas de aviões de pequeno porte e não dispunha de rede hoteleira. Assim, os envolvidos na produção eram obrigados a passar os dias totalmente concentrados no trabalho em estúdio.

Foram muitos os desafios para se montar, em um lugar remoto, um estúdio à altura dos melhores do mundo. Somente a joia da coroa do estúdio, uma sofisticada mesa de mixagem de 46 canais, pesava mais de uma tonelada e pode ser vista no filme sendo transportada precariamente sobre tambores de metal para ser colocada no local. Somem-se à mesa os equipamentos para gravação em fita em vários canais, amplificadores, pianos e teclados, microfones de alta qualidade e dá para se ter ideia da complexidade do empreendimento. Imagino que em uma ilha tão pobre não devia haver uma rede elétrica de qualidade, o que possivelmente obrigou a instalação de geradores e equipamentos necessários para gerarem um sinal elétrico potente e com a estabilidade requerida pelos eletrônicos sensíveis.

Superada a montagem, o desafio era não só convencer os artistas a se deslocarem para uma ilha distante, mas também conciliar suas concorridas agendas com um retiro pelo tempo que a gravação de um disco exigia. Além disso, ainda que o estúdio contasse com chefes de cozinha e funcionários totalmente à disposição dos músicos, provavelmente as instalações não estavam à altura do luxo a que esses clientes VIPs estavam acostumados. Ainda assim, as belezas naturais e o clima tropical eram um convite ao relaxamento.  Podem-se ver no documentário os artistas gravando trajando calção, camiseta e chinelos e com bronzeados de fazer inveja. Nos intervalos, ainda podiam se divertir velejando ou fazendo aulas de surf com os moradores da ilha.

Nos dez anos em que o estúdio operou, produziu discos dos mais diversos estilos. Do pop do Duran Duran ao heavy metal do Black Sabbath. Vários artistas passaram por lá e alguns várias vezes, como Elton John, que registrou três álbuns. No final dos anos 80, porém, o cenário da música estava mudando e empresários não viam com bons olhos essa dinâmica de retiro por vários dias, de modo que o estúdio foi desativado. Em 1995, uma boa parte da ilha foi devastada pela erupção de um vulcão. Isso criou uma zona de exclusão no território que forçou uma parte da população a ir embora. George Martin, inclusive, organizou um grande concerto beneficente para arrecadar fundos e que ficou registrado no show “Music for Montserrat”. Hoje as instalações do estúdio ainda estão lá, mas completamente abandonadas e virando ruínas. Se as paredes pudessem cantar, com certeza sairia música da melhor qualidade.

Grandes lançamentos

23 de Outubro de 2024, por Renato Ruas Pinto 0

Desde o começo desta coluna, eu afirmo que a nossa música brasileira segue criativa e empolgante. Por mais que saudosistas ou até nossas próprias memórias afetivas nos digam que “antigamente é que era bom”, a tese central que defendo aqui segue válida e vai sendo confirmada com lançamentos de ótimos trabalhos e com gratas descobertas de novos artistas. A arte é praticamente uma necessidade humana. Ela nos leva por caminhos interessantes ou misteriosos, nos aquecem, nos questionam e nos trazem conforto ou, vez por outra, um necessário desconforto para nos questionarmos ou refletirmos sobre o mundo. E enquanto houver artistas preocupados em nos trazer coisa nova e relevante, eu seguirei divulgando e recomendando.

Os artistas que trago desta vez não são novidades na coluna: Makely Ka e Pablo Castro. Os dois, juntos com Kristoff Silva, lançaram em 2003 o álbum “A Outra Cidade”, pedra fundamental do movimento que ficou conhecido como o “Reciclo Geral”, que já foi tema de outra coluna (leia em bit.ly/reciclogeral). Aquele disco, ainda que coletivo, já apontava que as trilhas musicais percorridas por Pablo e Makely eram bem distintas entre si e mostrava a qualidade e originalidade de ambos. De lá para cá, os dois seguiram seus caminhos e produziram ótimos discos, como o “Anterior”, de Pablo, ou o “Cavalo Motor”, de Makely. Agora eles voltam com mais dois excelentes trabalhos e que merecem audição atenta.

Makely Ka: Triste Entrópico (2024) – Makely apresenta mais um ótimo trabalho de uma carreira muito produtiva e diversificada, que passa até pelo instrumental, como foi o seu último álbum, “Rio Aberto”. Em um disco totalmente autoral, Makely assina letra e música de todas as faixas e mostra que não só é um músico de talento, mas também um poeta e letrista e tanto. As letras nesse álbum remetem, em grande parte, ao sertão e ao agreste, fazendo com que o disco converse com “Cavalo Motor”, onde Makely retratou o sertão de Guimarães Rosa, que ele percorreu bravamente de bicicleta. Criador de harmonias não convencionais, Makely tem uma sonoridade um tanto peculiar que casa a rítmica de suas melodias com os seus versos, de modo que as palavras ganham tal fluidez que faz com que elas soem como parte da percussão. E falando em percussão, tal como eu seus outros trabalhos, a base instrumental é enxuta, mas competente e arranjada com bom gosto.

Pablo Castro: O Riso e o Juízo (2024) – Há um intervalo razoável entre o segundo trabalho solo de Pablo e seu primeiro álbum, “Anterior”, de 2013. O artista, porém, esteve sempre na ativa e foi responsável, por exemplo, pela direção artística da turnê em que Lô Borges executou ao vivo, pela primeira vez, o seu álbum de estreia, conhecido como “o disco do tênis” (o show está disponível na íntegra no YouTube). A espera pelo segundo álbum valeu a pena e Pablo mostrou mais uma vez que é um compositor de melodias refinadas e um cancionista com todos os méritos. Sobre as canções, elas têm uma característica um tanto contraditória e difícil de se explicar. Suas melodias e harmonias passam longe do convencional e de serem fáceis, mas trazem uma leveza que quase flerta com uma sonoridade pop. O disco, de longa gestação, nos brinda com faixas muito bem produzidas e arranjadas e, mesmo na luta que enfrenta todo artista independente, Pablo não abriu mão do esmero em cada faixa.

Os dois lançamentos só reforçam a minha proposição do início do texto. Pablo e Makely são artistas extraordinários e que estão trazendo dois lançamentos com música original e relevante. Embora eles compartilhem um começo juntos, seus estilos são completamente distintos, o que só demonstra que nossa música continua diversa, rica e com artistas corajosos para seguirem em frente contra todos os obstáculos que o músico independente enfrenta. Há uma renovação enorme em nossa MPB, mas não espere ouvi-la em veículos de massa ou ler sobre seus trabalhos em grandes mídias. Busquem nas redes sociais e nas indicações de quem fala sobre música de verdade.

Os grupos vocais brasileiros

31 de Julho de 2024, por Renato Ruas Pinto 0

Houve um tempo em que grupos com ênfase nos vocais bem trabalhados em complexas harmonias foram mais comuns no Brasil. Lembre-se, por exemplo, dos tempos áureos dos festivais e de como a performance do MPB-4, com um arranjo magistral de Magro, integrante do grupo, abrilhantou “Roda viva”, de Chico Buarque. Pode-se dizer que o arranjo em quatro vozes se tornou praticamente indissociável da música. Além do MPB-4, podemos citar outros grupos que ficaram conhecidos, como Os Cariocas, o Quarteto em Cy, Trio Marayá e Os Diagonais.

Esses grupos obtiveram sucesso se apresentando sob a própria bandeira, mas a sua qualidade frequentemente os transformava em convidados de luxo em discos de grandes artistas. Com o tempo, foi ficando cada vez mais raro ver esse tipo de formação por motivos esperados: além do desafio de se reunir grandes vozes, o repertório é necessariamente complexo por conta dos arranjos. E para se fazer o arranjo, muitas vezes precisa-se de profissionais com formação em orquestração ou muita sensibilidade para casar mais vozes de maneira correta.

A complexidade desse tipo de trabalho só faz com que a minha admiração aumente por música feita assim, quando a voz humana se torna o instrumento principal. Por esses dias, tive a felicidade de assistir ao vivo um dos grupos mais tradicionais do país, o Boca Livre. Após um período de turbulência interna no grupo, eles voltaram e mostraram que seguem em forma e emocionando. Recentemente, foram premiados com o prestigiado prêmio Grammy de melhor álbum de Pop Latino, e uma das dicas de audição é justamente o quarteto. Para mostrar que, com todas as dificuldades que citei, o formato resiste, a outra dica é sobre o talentoso Trio Amaranto, que também sempre emociona com vocais incríveis. Não deixem de ouvir.

Boca Livre – “Rasgamundo” e “Parceiros/Pasieros”: o último lançamento do grupo é o álbum “Rasgamundo”. Seus membros assinam várias faixas em parcerias com nomes de peso, como Erasmo Carlos, Márcio Borges e Zeca Baleiro, e mostram a veia autoral. Também recomendo muito ouvir o álbum “Parceiros/Pasieros”, feito em conjunto com o renomado cantor e compositor panamenho Rubén Blades, autor das faixas. O disco é, na verdade, um “dois em um”, já que são dois álbuns, um com as músicas no original em espanhol e outro com versões em português. O álbum foi ganhador do prêmio principal do Grammy (não confundir com o Grammy Latino, que contempla só produções latino-americanas) de melhor álbum Pop Latino. Aliás, esse feito foi vergonhosamente ignorado pela grande mídia, que preferiu destacar o fato de que Anitta não ganhou o prêmio a que concorria no mesmo ano.

Trio Amaranto– “BenditoJazz” e “Amaranto 25 anos”: o trio das irmãs Flávia, Lúcia e Marina Ferraz está em atividade há mais de 25 anos, além de alguns anos atuando como “Flor de Cal”, antes da entrada de Marina no grupo. Como exige o formato, as três são donas de belas vozes e trabalham arranjos incríveis para o repertório de grandes clássicos da música brasileira e da internacional, além de composições próprias. No álbum “BenditoJazz” elas apresentam um interessante repertório de clássicos de Cole Porter e dos irmãos George e Ira Gershwin, acompanhadas do trio do competente baixista Kiko Mitre. O show da comemoração dos 25 anos do grupo não é um álbum, mas está disponível em ótima qualidade de áudio e vídeo no canal oficial do YouTube (@amarantooficial). Nele o trio apresenta um repertório complexo e riquíssimo, onde se pode conhecer a qualidade do trabalho. Além disso, elas possuem uma discografia possível de ser apreciada nas plataformas.

A voz humana é um instrumento e tanto e as possibilidades que a harmonia possibilita são surpreendentes. E quando grandes cantores e arranjadores se juntam para dar vida a uma canção, o resultado é sempre emocionante. É um tipo de trabalho, como dito acima, de alta complexidade e, logo, raro de ser encontrado, o que só aumenta a nossa satisfação e admiração quando podemos ouvir grupos que levam em frente essa tradição.

Fábrica de sucessos

26 de Junho de 2024, por Renato Ruas Pinto 0

Música é uma coisa que sempre me marcou muito. Sempre que ouço determinadas músicas, gostando ou não delas, imediatamente vêm à memória certos momentos porque eu estava ouvindo muito aquela canção na época ou porque ela estava na moda e tocava à exaustão no rádio, televisão ou festas. Por exemplo, eu não sou fã do Black Eyed Peas, mas os tenho ligados a dois momentos bacanas da minha vida por conta de suas músicas. A primeira é “Dont Phunk With My Heart”, que a banda emplacou nas paradas mundiais em 2005, exatamente nas semanas da minha primeira viagem à Europa. A segunda é “Big Girls Don’t Cry”, da carreira solo de Fergie, vocalista do grupo, e grande sucesso nos dias de outra viagem inesquecível, quando percorri o Caminho dos Diamantes, em 2007. É ouvir qualquer uma delas para reviver as viagens e seus bons momentos.

Esse pequeno exemplo mostra como um grande sucesso, ou hit, pode fazer parte de nossas vidas e de nossas memórias afetivas. Entretanto, emplacar nas paradas nunca foi tarefa simples no rádio e na TV ou nos tempos atuais do streaming. Mesmo sabendo que existem mecanismos nefastos, como o “jabá”, que consiste em pagar para rádios e disc-jóqueis promoverem as músicas artificialmente, levar uma canção para o topo da lista de execuções e gravá-las nas cabeças das pessoas demandam bem mais que dinheiro. Assim, não são muitos os artistas que conseguiram, ao longo da carreira, emplacar algum grande sucesso.

Entretanto, há alguns que parecem ter descoberto alguma fórmula mágica e se tornaram presença constante na música que chega até nós. E é justamente uma dupla de compositores que dominou as paradas no Brasil por vários anos que foi escolhida para ser o tema de um ótimo documentário disponível no Globoplay: Michael Sullivan e Paulo Massadas. O documentário “Retratos e Canções” mostra os caminhos que levaram a dupla a se tornar uma potência da indústria fonográfica nacional e a quem grandes artistas recorriam quando precisavam de um sucesso comercial. Fazendo uma retrospectiva desde o início da carreira de cada músico, passando pelo encontro e primeiras composições e indo até o final da parceria em 1994, a série surpreende com a quantidade enorme de hits que a dupla compôs. Eu reconheci as músicas mostradas e me lembrava dos artistas associados a elas, mas algumas eu não fazia ideia de que saíram dos cadernos e violões de Sullivan e Massadas.

Dirigido pelo notório jornalista e escritor André Barcinski, o documentário promoveu o reencontro dos parceiros, que não se viam há quase 30 anos. E destacou muito bem pontos interessantes, como o ritmo frenético de trabalho da dupla. Em dezesseis anos de trabalho saíram cerca de 700 músicas para artistas tão diversos em estilo, como Tim Maia, Gal Costa, Roberto Carlos ou Roupa Nova. Ou para projetos de música infantil do Trem da Alegria e da joia da coroa da dupla em termos de vendagem: a Xuxa. Além disso, a série traz uma reflexão importante sobre a falta de reconhecimento dos compositores, que sempre foram tachados de bregas ou comerciais pela crítica especializada ou seus pares. Esse tema pode render outro texto, mas é interessante ver que o trabalho de compositores profissionais do passado está começando a ter o devido reconhecimento, e o caso de Sullivan e Massadas encontra paralelos até com duplas internacionais notórias, como Carole King e Gerry Goffer ou Jerry Leiber e Mike Stoller. De comentário negativo, senti falta na série de saber o que aconteceu com cada um após a dupla se desfazer, em 1994. Além disso, o último episódio, composto só de interpretações um tanto quanto sem sal de músicas da dupla, é quase desnecessário.

A série de cinco capítulos vai mexer com memórias afetivas de muita gente ao escutar canções como “Dia de Domingo”, “Whisky a Go Go”, “Deslizes” ou “Talismã”. E vai surpreender quem não conhecia a extensão do que foi o trabalho de Sullivan e Massadas. É diversão garantida e uma aula sobre um capítulo interessante da música brasileira.