Meio Ambiente

IRIS: 15 anos de uma caminhada socioambiental

22 de Janeiro de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Rio Santo Antônio na localidade do Penedo, zona rural de Ritápolis (foto IRIS)

No dia 27 de dezembro de 2024, a Associação Instituto Rio Santo Antônio, conhecida como IRIS, completou 15 anos de fundação. Apesar dos desafios de se manter uma associação regularizada e em atividade por tanto tempo, cabe mencionar que realizamos várias atividades ambientais e culturais em Resende Costa e região. Assim, é merecedor contar um pouco da história do nosso IRIS.

Tudo começou em 2009, quando um grupo de jovens idealizou a fundação da primeira associação com finalidade prioritariamente ambiental em Resende Costa. Além das reuniões realizadas naquele ano, foram feitas algumas expedições ao longo do curso do rio Santo Antônio, nos períodos de seca e de cheia, sendo documentadas a cultura da região, suas riquezas naturais e culturais e também a sua degradação. Nesse sentido, foi iniciado um levantamento audiovisual do rio.

Em reunião realizada no plenário da Câmara Municipal de Resende Costa, foi fundado oficialmente o IRIS como associação ambiental e cultural, sendo aprovado o primeiro estatuto, no qual constam as finalidades da instituição. Dentre as principais, estão a preservação ambiental da bacia do rio Santo Antônio, a promoção da educação ambiental e a valorização cultural da cidade. Assim, além do campo ambiental, o viés cultural foi contemplado dentre as finalidades da ONG, o que demonstrou uma compreensão mais ampla de meio ambiente, com foco também no bem-estar social. Um dos propósitos foi que a entidade nascente utilizasse ações de cunho cultural como forma de pautar os assuntos referentes ao meio ambiente, buscando maior sensibilidade social para a causa ambiental.

Durante os quinze anos de existência, os vários eventos e ações realizados pelo IRIS estão registrados nas atas das reuniões, sendo que grande parte deles foi divulgada na mídia social da instituição (website, Facebook e Instagram), em uma revista impressa, em documentários e na coluna ambiental no Jornal das Lajes. A primeira rede social do Instituto foi o website criado em 2011, que pode ser acessado pelo endereço: https://www.portaliris.org.br/. A associação criou posteriormente uma conta no Facebook (Instituto IRIS) e outra no Instagram (ongiris_rc). Atualmente, essas mídias sociais são os principais canais de divulgação das ações realizadas pela ONG. A edição única da Revista IRIS foi publicada em abril de 2012. Cabe aqui destacarmos a publicação de textos socioambientais no Jornal das Lajes. A coluna “Meio Ambiente” é fruto de uma parceria entre o Jornal das Lajes e o IRIS que se firmou desde maio de 2012. Até a edição de dezembro de 2024, foram publicados 131 textos, abordando as mais variadas temáticas socioambientais, contando com a participação de diversos autores.

Apesar da vitrine da ação coletiva e altruísta das ONGs ambientalistas, as dificuldades são significativas. No caso do IRIS, podemos citar vários desafios, sendo os principais: pouca participação da população nas ações realizadas; dificuldades em renovar o quadro de filiados e de participantes da associação e também em obter apoio e na articulação com órgãos públicos e outras entidades para a realização das ações; morosidade nas ações que dependem da Prefeitura Municipal; falta de recursos financeiros para manutenção da instituição e para desenvolvimento de projetos.

Pensamos que, para termos mudanças significativas em nosso planeta, precisamos avançar nas causas altruístas e coletivas. Nesse sentido, a caminhada do IRIS continua, temos vários projetos socioambientais para Resende Costa. Por fim, agradecemos carinhosamente a todas as pessoas que têm contribuído e apoiado o IRIS ao longo desses 15 anos. E para reflexão final, ficamos com a fala atribuída a Mahatma Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.”

Solos amazônicos e a Terra Preta de Índio

25 de Dezembro de 2024, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Terra Preta de Índio e Solo da Região Amazônica (foto Revista Darwinianas)

Cauã Vitor de Sousa Vieira*

Adriano Valério Resende**

 

O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos define solo como uma coleção de corpos naturais que contém componentes sólidos, líquidos e gasosos, resultante de processos complexos acorridos ao longo de milhões de anos. Ele abriga organismos essenciais aos ecossistemas, podendo estar coberto ou não por vegetação e frequentemente tem suas camadas superficiais modificadas por ações humanas.

O solo é vital para a sobrevivência humana, pois, além de ser o substrato para a agropecuária, que é a principal fonte de nossa alimentação, fornece recursos minerais e energéticos usados na indústria e na construção civil. Além disso, atua como um reservatório de água, elemento essencial para a vida no planeta.

Quando se olha a exuberância da Floresta Amazônica, logo se pensa que o solo é extremamente fértil, mas a realidade não é bem essa. O solo amazônico é, em geral, bastante arenoso e de baixa fertilidade natural, isto é, tem pouca disponibilidade de nutrientes (cálcio, enxofre, fósforo, nitrogênio, magnésio, potássio etc.) para as plantas. O que mantém a sua estabilidade e fertilidade é a própria floresta, ou seja, forma-se uma camada orgânica que se origina da decomposição de troncos, folhas, frutos e restos de animais. Essa camada que fica sobre o solo, chamada de serapilheira, é rica em húmus, matéria orgânica decomposta essencial para as diversas espécies vegetais da região. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Florestas, apenas 14% dos solos amazônicos podem ser considerados férteis, em especial os aluviais (nas margens dos rios), portanto, propícios naturalmente para o desenvolvimento de alguma atividade agrícola.

Como o clima equatorial é muito quente e úmido, dá para se ter uma ideia dos requisitos para conservação desses solos. Em áreas que foram desmatadas, as intensas chuvas “lavam” o solo, removendo a camada superficial onde estão alocados os nutrientes. Assim, esse fenômeno, conhecido como lixiviação, torna-o ainda mais empobrecido. E os raios solares incidindo sobre o solo exposto, sem a cobertura vegetal, altera o ciclo de vida ou até mesmo mata os microrganismos que nele habitam. Assim, o desmatamento e as queimadas são problemas a serem combatidos, pois alteram a reciprocidade interna do bioma, uma vez que é a própria floresta que fornece os nutrientes importantes para a sua manutenção.

Um tipo de solo específico da região amazônica é o chamado Terra Preta de Índio (TPI). Essa é uma designação regional para os solos que possuem camadas superficiais escuras, de textura leve e arejada e com alto teor de carbono e nutrientes. De acordo com alguns cientistas, a formação desse horizonte escuro é resultante do manejo do solo feito pelos povos indígenas que viveram na floresta nos últimos 5 mil anos. Assim, os povos amazônicos, intencionalmente, manipulavam resíduos orgânicos e restos de material queimado que foram acumulados no solo como forma de aumentar a sua fertilidade e elevar a produtividade de alimentos ao longo dos anos. As TPIs são notoriamente férteis, em contraste com os solos vizinhos, apresentando altos níveis de fósforo, cálcio, zinco e manganês, além de estoques significativos de carbono orgânico, que podem ser até cem vezes superiores ao seu entorno. Por esse motivo, é muito requisitado para o plantio, especialmente pelas populações locais.

Uma característica marcante das TPIs é a presença de pedaços de artefatos cerâmicos de culturas pré-colombianas, o que reforça sua origem antrópica. Isso desmonta a versão de que elas teriam sido formadas a partir de depósitos de cinzas vulcânicas oriundas da Cordilheira dos Andes ou de matéria orgânica sedimentada em antigos lagos. Esses solos são encontrados em toda bacia amazônica, principalmente entre o Pará e o Amazonas, e até mesmo fora do Brasil. 

Por fim, a interação do solo com o meio ambiente revela sua importância para a vida no planeta. Nesse sentido, sua conservação, através de um manejo adequado, é fundamental para preservar sua função. O modo de vida dos povos indígenas é um forte relato da harmonia entre presença humana e conservação da natureza, e um exemplo disso é a existência da Terra Preta de Índio na Amazônia.

 

 

*Aluno do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG

**Professor CEFET/MG

O rio Pará nasce em Resende Costa

27 de Novembro de 2024, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Rio Pará (foto Tanto Expresso - Leo Boi

O rio Pará é um dos principais afluentes da bacia do São Francisco. O Pará drena importantes cidades mineiras e tem suas nascentes ao norte do município de Resende Costa, na divisa com Desterro de Entre Rios. Convido você a navegar um pouco mais nas informações sobre esse belíssimo rio.

O rio São Francisco é o maior curso d’água inteiramente nacional e é o quarto maior do Brasil e da América do Sul. Ele nasce em Minas Gerais, na Serra da Canastra, atravessa duas regiões, cinco estados e banha 521 municípios, por isso é chamado de “rio da integração nacional”. Em território mineiro, os principais afluentes são os rios Pará, Paraopeba, das Velhas, Verde Grande (margem direita) e Abaeté, Paracatu, Urucuia (margem esquerda.). O rio Pará é o principal afluente da cabeceira do São Francisco, isto é, antes da represa de Três Marias. E suas nascentes estão ao norte de Resende Costa, nas proximidades do povoado do Cajuru.

O município de Resende Costa pertence a duas bacias hidrográficas federais: rio Grande e rio São Francisco. Os divisores de água entre as duas bacias são a serra das Vertentes (proximidades do povoado do Ribeirão até divisas com Lagoa Dourada) na porção leste e as serras da Cebola (povoado do Cajuru) e da Galga (distrito de Jacarandira) ao norte. Mais especificamente, se considerarmos as bacias estaduais, o município pode ser subdividido em três: bacia do rio Pará a norte e noroeste, rio Paraopeba a leste e nordeste (o principal curso d´água é o ribeirão dos Paulos ou dos Paulas) e das Mortes ao centro, sul e oeste (rios Santo Antônio e do Peixe).

A bacia hidrográfica do rio Pará abrange 12.300 km² e sua calha tem uma extensão de cerca de 365 km, drenando 35 municípios, tais como: Bom Despacho, Carmópolis de Minas, Divinópolis, Itapecerica, Itaúna, Martinho Campos, Nova Serrana, Oliveira, Pará de Minas e Pompéu. Na sua cabeceira estão os municípios de Resende Costa e Desterro de Entre Rios. O potencial hidrelétrico do rio é aproveitado nas PCHs Cajuru, Nova Dorneles, Pitangui e na Usina Hidrelétrica Gafanhoto. Os principais cursos d´água contribuintes do Pará são os rios Itapecerica, Lambari, Picão (margem esquerda), São João e do Peixe (margem direita).

A formação do rio Pará representa a divisa natural entre os municípios de Desterro de Entre Rios e de Resende Costa. Ele também é conhecido como rio dos Mirandas, estando ao lado do povoado dos Mirandas (Desterro). Após a divisa, já dentro do município de Resende Costa, o Pará é formado pela junção dos córregos do Poveiro (que por sua vez se forma pela junção dos córregos Biquinha e da Cachoeira) e do Cajuru (que recebe as águas do córrego Boa Vista). O córrego do Cajuru nasce no sopé da Serra da Cebola e passa ao lado do povoado de mesmo nome.

As cabeceiras do córrego da Biquinha fazem divisa com as nascentes do ribeirão de Cima, esse encrustado no sopé da serra das Vertentes. Curiosamente, esse ponto é o início da serra das Vertentes, que é praticamente o divisor de águas entre o ribeirão dos Paulos (rio Paraopeba), ribeirão de Cima (rio Santo Antônio) e córrego Biquinha e Estaleiro (rio Pará). Já as nascentes do córrego da Cachoeira estão à direita (leste) da estrada de terra que liga Resende Costa a Desterro, sentido comunidade do Tabuado. A margem direita desse córrego está na serra do Corisco, que é a continuidade da divisa entre Desterro e Resende Costa. E nas cabeceiras do córrego da Cachoeira, num local denominado Alto do Capão Comprido, a 1.248 metros de altitude, está a divisa tripartite entre Resende Costa, Desterro e Entre Rios de Minas.

Se pesquisar na internet, você obterá a informação de que o rio Pará nasce na serra das Vertentes, próximo ao povoado de Hildebrando (nome antigo do povoado do Cajuru). No entanto, convém fazer algumas observações. A denominação de rio Pará só acontece, conforme falamos anteriormente, a partir da junção dos córregos do Cajuru com o do Poveiro ou da Cachoeira. Se considerarmos o curso d’água mais extenso, o córrego da Cachoeira, esse tem suas nascentes na serra do Corisco em Resende Costa, próximo da divisa com Desterro e Entre Rios, a uma altitude próxima de 1.200 metros, à direita da estrada de terra que liga Resende Costa a Desterro, em terras da fazenda Matias.

Mata Seca: nota de um grito

23 de Outubro de 2024, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Mata Seca em solo com presença de calcário, em Monjolos - MG. (foto enviada pelos autores)

Júlia Fernandes*

Adriano Valério Resende**

 

No norte e nordeste de Minas Gerais, temos uma vegetação bem característica que é denominada de Mata Seca, uma tipologia do bioma Mata Atlântica. Como acontece com praticamente todas a vegetações nativas do Brasil, a Mata Seca vem sofrendo severas intervenções antrópicas nas últimas décadas, o que merece maior atenção.  

Primeiramente, convém falarmos sobre a Mata Atlântica. Esse bioma se estende por todo o litoral brasileiro, indo do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, ocupando uma área de aproximadamente 1,3 milhão de km², o que corresponde a 15% do território brasileiro. Conforme o Instituto Brasileiro de Florestas, 46% de Minas estão no domínio da Mata Atlântica, inclusive Resende Costa. Trata-se de um dos biomas mais biodiversos do mundo. No entanto, está extremamente ameaçado. Atualmente, segundo informações do SOS Mata Atlântica, resta apenas 12,4% da sua área original que possuem florestas maduras e bem preservadas.

O bioma Mata Atlântica, que inclusive tem uma lei de proteção (Lei Federal nº 11.428/2006), é composto por várias formações florestais e ecossistemas associados, dentre esses: Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária), Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste. Essas tipologias de vegetação variam de acordo com as características geográficas locais, tais como: altitude, clima, solo, proximidade ao mar e precipitação.

Dentre essas tipologias, uma nos interessa, a Floresta Estacional Decidual, conhecida em Minas como Mata Seca, cuja característica mais pronunciante é a perda das folhas durante o período da estiagem. A Mata Seca ou Floresta Seca Tropical está presente também em outros países: Bolívia, México e Paraguai. Segundo dados do IEF (Instituto Estadual de Florestas), essa formação florestal cobre 3% do território brasileiro e, em Minas Gerais, se localiza nas regiões norte e nordeste.

Durante a estiagem, a paisagem da Mata Seca torna-se esbranquiçada, não sendo tão chamativa em relação aos biomas mais úmidos, não atraindo a atenção e a sensibilidade humana para os grandes impactos ambientais sofridos nesse tipo de vegetação. Entretanto, quando começam as chuvas, ela se transforma numa floresta exuberante. O tipo de árvore típico da floresta é chamado de caducifólia ou decídua. Essa espécie de árvore tem por característica eliminar as folhas para reduzir a transpiração e conservar a água, entrando em um “estado de dormência” até que os períodos de chuva retornem. Outra adaptação marcante da caducifólia são as raízes longas, capazes de acessar reservas de água em camadas mais profundas do solo. Destaca-se que a perda e a reconstituição anual das folhas refletem a grande disponibilidade de nutrientes no solo (geralmente alcalinos, ou seja, ricos em calcário), o que os torna bastante procurados para a prática da agropecuária.

Ações como a expansão da agropecuária, as queimadas, a extração de materiais, como madeira e calcário e outras atividades econômicas, têm levado ao desmatamento acelerado, reduzindo significativamente sua cobertura vegetal. Nesse sentido, pesquisadores afirmam que a Mata Seca é a formação vegetal mais ameaçadas do Brasil. Por outro lado, faltam estudos que detalhem a distribuição e a caracterização dos fatores abióticos determinantes da ocorrência da Mata Seca. Para a fundação Biodiversitas, a Mata Seca de Minas Gerais permanece pouco conhecida, ao passo que as pressões antrópicas através do carvoejamento, reflorestamento e expansão agropecuária pressionam imensas áreas de vegetação nativa.

Por fim, a reversão desse quadro requer uma ação conjunta de toda a sociedade. As universidades precisam priorizar a realização de atividades de pesquisa e extensão nas áreas de ocorrência de Mata Seca. Precisamos ainda do apoio do estado através de seus órgãos técnicos, como a Emater e o IEF, maior envolvimento da sociedade civil organizada, comitês de bacia hidrográfica, dos produtores rurais e das escolas, por meio de uma educação ambiental das novas gerações.

 

*Aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG

**Professor CEFET/MG

O Brasil está pegando fogo*

11 de Setembro de 2024, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Reprodução INPE - 9.set.2024/RAMMB/Cira/Noaa.

O ano de 2024 já está sendo considerado um dos mais secos da história. A estiagem prolongada, as altas temperaturas e a falta de uma consciência ambiental em grande parte da população geram uma questão preocupante: aumento das queimadas por todo o Brasil. São vários os danos socioambientais das queimadas e um em especial tem nos preocupado atualmente: a piora da qualidade do ar.

Para se ter uma ideia da situação atual, em agosto foram registrados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) 68.635 focos de queimadas, sendo o quinto pior mês da história. E as expectativas para setembro são de recorde nas queimadas. Os biomas mais afetados são: Amazônia com 55,8% dos registros; Cerrado, 27,1%; Mata Atlântica, 8,8%; Pantanal, 6,4%; Catinga, 1.8%; e Pampa, 0,1%. A Amazônia está literalmente pegando fogo e as consequências são visíveis em grande parte do país.

Certamente você já deve ter ouvido falar que a chuva na região central do Brasil provém da Amazônia, através dos chamados “rios voadores”, que são um corredor de umidade oriundo da evapotranspiração da floresta. Com o aumento das queimadas na região amazônica, no Pantanal e na Bolívia, o que estamos presenciando são “rios de fumaça” que atingem 11 Estados brasileiros e, dentre esses, Minas Gerais. Um dos efeitos mais notáveis é uma camada de fumaça que está encobrindo as cidades, inclusive Resende Costa, o que afeta a qualidade do ar e traz sérias consequências para a saúde da população local.

É notório que as queimadas provocam uma série de impactos ambientais que vão além da destruição imediata da vegetação. A degradação do solo é um dos seus efeitos mais significativos, pois provoca a perda de nutrientes e a morte de organismos decompositores. Além disso, sem cobertura vegetal, o solo torna-se vulnerável à erosão e a infiltração da água é muito menor.

Outras consequências das queimadas são a emissão de gases que contribuem para o aquecimento global e, especialmente, a diminuição da qualidade do ar, o que afeta a saúde de toda a população. A exposição contínua à fumaça, como está acontecendo nas últimas semanas, pode provocar problemas respiratórios, especialmente em pessoas que já possuem uma predisposição para doenças pulmonares, asma e bronquite. A inalação prolongada de partículas presentes na fumaça também pode causar irritações nos olhos, tosse, falta de ar e até complicações cardiovasculares.

Além dos impactos ambientais e à saúde, as queimadas também trazem prejuízos econômicos significativos. A destruição de áreas produtivas, como pastagens e campos agrícolas, resulta em perdas financeiras para agricultores e pecuaristas. E a recuperação dessas áreas exige investimento, tempo e esforço, o que agrava ainda mais o atual cenário econômico. 
Outro ponto de preocupação econômica é o gasto público no combate aos incêndios. As autoridades locais precisam mobilizar recursos, equipes de bombeiros e veículos para controlar as chamas e evitar que o fogo se espalhe, gerando um alto custo financeiro para os órgãos públicos.

Infelizmente, muitas queimadas são acidentais e principalmente criminosas, isto é, pessoas que colocam fogo sem nenhum motivo econômico e social. Assim, além de medidas coercitivas como multa e prisão dos envolvidos, a conscientização da população sobre os danos causados pelo uso do fogo é fundamental para reverter esse quadro. Nesse sentido, campanhas de educação ambiental voltadas para agropecuaristas, comunidades rurais e população urbana podem fazer a diferença. Outras medidas como a implementação de barreiras físicas contra a propagação do fogo, a capacitação de brigadas comunitárias e o uso de tecnologias de monitoramento podem auxiliar no controle das queimadas antes que elas atinjam proporções devastadoras.

Embora a prática das queimadas tenha raízes históricas e culturais, os seus impactos atuais são insustentáveis e exigem uma resposta urgente. Assim, o fortalecimento de políticas públicas voltadas para a educação ambiental, a fiscalização e a prevenção de incêndios são essenciais para o seu controle. Por fim, somente com o engajamento da sociedade e a implementação de políticas públicas eficazes será possível reverter o quadro de queimadas criminosas e garantir um futuro mais equilibrado e saudável para todos.

*Autores: Mateus José de Resende e Adriano Valério Resende