Meio Ambiente

A geografia de Resende Costa

30 de Abril de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Adriano Valério Resende

 

Tempos atrás, tive a felicidade de receber de presente um documento impresso contendo informações geográficas sobre o município de Resende Costa, elaborado pelo governo do Estado de Minas Gerais e datado de 1982. Sabemos que a década de 80 foi indicadora da modernidade para Resende Costa, que viveu mudanças significativas, como a construção da estrada asfaltada ligando a cidade até a BR 383, o funcionamento do sistema de abastecimento de água implantado pela Copasa e a expansão do comércio de artesanato na área urbana.

Com relação ao documento citado, constam os seguintes itens: posição geográfica; evolução (política); quadro natural; população; agropecuária; indústria, comércio e serviços; estrutura da cidade; infraestrutura básica; problemas e perspectivas. Constam ainda dois mapas, um situando o município em sua localização geográfica regional, na escala 1:1.500.000, e outro da área central da cidade e seus principais equipamentos urbanos regional, em uma escala maior, 1:4.000. Apesar de hoje em dia, com um simples acesso à internet você conseguir acessar facilmente várias informações geográficas, especialmente no site do IBGE, vou transcrever e atualizar, quando necessário, algumas informações relevantes sobre o nosso município presentes no documento.

Primeiramente, transcrevo a evolução política do município. “A primeira capela de Nossa Senhora da Penha de França, filial da Matriz de São José, foi erguida no Lugar da Lage por provisão de 12 de dezembro de 1749. Em 1802, o Arraial da Lage era mencionado entre os do termo da Vila de São José (atual Tiradentes). Segundo publicações oficiais, o distrito foi criado em 1836, pela Lei nº 50, e elevado o curato a freguesia em 3 de abril de 1840 (Lei nº 184), com o título de Nossa Senhora da Penha de França do Arraial da Laje. A Lei nº 556, de 30 de agosto de 1911, criou o município constituído do Distrito da Lage, com a denominação de Vila de Resende Costa (sua primeira Câmara Municipal foi instalada em 02/06/1912). Como o distrito continuou sendo denominado Lage, foi preciso que a Lei nº 843, de 7 de setembro de 1923, mudasse sua denominação para Resende Costa. Atualmente, o município é constituído de dois distritos: o da sede e o de Jacarandira.”

Sobre a posição geográfica, o documento menciona que o município de Resende Costa se localiza na zona (atual mesorregião) Campo das Vertentes, fazendo parte da microrregião Mantiqueira (atual microrregião de São João del-Rei) e limita-se com os municípios: São Tiago, Passa Tempo, Desterro de Entre Rios, Entre Rios de Minas, Lagoa Dourada, Coronel Xavier Chaves e Ritápolis. “Do ponto de vista da posição geográfica contata-se a situação privilegiada de Resende Costa que se localiza relativamente próxima a três importantes centros industriais: São João del-Rei, Conselheiro Lafaiete e Barbacena, entre outros, sendo que ao primeiro está ligada através da BR-383.”

“Juridicamente, é a sede da Comarca de 1ª Entrância, tem sob sua jurisdição o município de Coronel Xavier Chaves.” Acrescenta-se que a Comarca foi instalada em 15/08/1948 e está vinculada ao Grupo Jurisdicional JESP (Juizado Especial) de São João del-Rei. “A sede do município (está situada) a 1.140 metros de altitude, tem a sua posição determinada pelas coordenadas geográficas de 20º 55’ 19” S e 44º 14’ 16” W (Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França). ” Foi informada também a área do município, com seus 618 km². Segundo o site do IBGE, a área do município de Resende Costa é de 618,312 km², o que o coloca no 2º lugar em extensão entre os 14 municípios da microrregião, perdendo só para São João del-Rei, na posição 259 entre os 853 municípios de Minas Gerais e em 2.110 entre os 5.570 municípios brasileiros.

“O espaço onde se localiza Resende Costa corresponde a uma área de transição, tanto do ponto de vista do relevo como da vegetação. O relevo faz parte do Planalto Sul de Minas, que se estende da Serra da Mantiqueira a leste aos relevos modelados em rochas sedimentares a oeste e ao norte. As serras que cortam o município são importantes divisores entre as bacias do Rio Grande e São Francisco (destacamos a Serra das Vertentes). Com relação à vegetação, a região caracteriza-se pela presença de espécies tanto da floresta tropical como do cerrado, entre outras.”

 

 (Continua na próxima edição)

Mudanças climáticas em médias e pequenas cidades

26 de Marco de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Fotografia revela os efeitos catastróficos de um deslizamento de terra (foto reprodução)

Yasmim Stefany Lima Soares*

Adriano Valério Resende**

 

Em sua história, a Terra já passou por significativas alterações climáticas naturais. No entanto, a partir da 1ª Revolução Industrial, elas se intensificaram devido à ação humana. Hoje, tornou-se comum ouvir pessoas, especialmente as mais idosas, comentarem sobre transformações que afetam diretamente o nosso cotidiano. E, nesse sentido, os moradores das cidades já têm sofrido as consequências do que parece ser um novo padrão climático.

As mudanças climáticas naturais são alterações que ocorreram nos padrões climáticos da Terra em longos períodos de tempo por fatores como atividade solar, erupções vulcânicas e glaciações. No entanto, a ação humana intensificou essas transformações, notadamente pela emissão excessiva de gases do efeito estufa. A intensificação desse fenômeno natural, especialmente pela queima de combustíveis fósseis e pela alteração do uso do solo (desmatamento), tem levado ao aumento excessivo da temperatura do planeta, ocasionando o chamado aquecimento global. As mudanças mais notáveis no clima são as temperaturas cada vez mais altas, especialmente no verão, e alterações nos padrões climáticos de eventos naturais, como o El Niño e a La Niña, que estão cada vez mais intensos e causando dados a locais pouco preparados para se adaptarem a essa variação.

As mudanças climáticas na atualidade têm causado impactos significativos, especialmente nas áreas urbanas, onde se concentra a maior parte da população e das atividades econômicas. O aumento das temperaturas tem intensificado o fenômeno “ilha de calor”, tornando as cidades cada vez mais quentes. Além disso, eventos climáticos intensos, como chuvas torrenciais e longos períodos de seca, estão ocorrendo com maior frequência, comprometendo a infraestrutura urbana e a qualidade de vida da população.

No entanto, as áreas urbanas não são afetadas da mesma forma. As comunidades de baixa renda e as periferias são as mais vulneráveis, pois enfrentam problemas estruturais como falta de saneamento básico, moradias precárias, baixa arborização e sistema de drenagem inadequado. A urbanização desordenada agravou essa situação ao, por exemplo, ocupar as margens de cursos d’água, encostas íngremes e impermeabilizar o solo, o que dificulta a absorção da água da chuva e aumenta o risco de enchentes e deslizamentos de terra.

Muitas das vezes, a precariedade da infraestrutura urbana também se torna um grande obstáculo. A falta de sistemas eficientes de drenagem e de saneamento básico contribui para alagamentos em períodos de chuva intensa e para a escassez de água em épocas de seca. Sem medidas adequadas para lidar com essas situações, os moradores acabam sofrendo com problemas como contaminação da água, perda de moradias, além de prejuízos econômicos e, o pior, perda de vidas. Em muitos casos, o crescimento desordenado e a ausência de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade têm tornado as áreas urbanas cada vez mais vulneráveis. Convém destacar que, as cidades de médio e pequeno portes enfrentam grandes dificuldades para se adaptarem aos efeitos das mudanças climáticas, seja pela falta de verbas ou de mecanismos tecnológicos necessários.

Diante desse cenário, é essencial buscar estratégias para atenuar os efeitos das mudanças climáticas e tornar essas cidades mais resilientes aos desafios ambientais do futuro. Algumas estratégias são: preservar e ampliar as áreas verdes (parques) e plantar árvores nas ruas como forma de reduzir o efeito das altas temperaturas; melhorar a qualidade do ar e minimizar os impactos das chuvas intensas; melhorar o sistema de saneamento básico, para evitar alagamentos e garantir o abastecimento de água em períodos mais críticos; utilizar sistemas de captação e reuso de água da chuva, visando otimizar os recursos hídricos em áreas mais sujeitas à seca; incentivar a utilização de energia solar nos prédios públicos e nas residências.

Por fim, a conscientização e o engajamento da população, o planejamento urbano e o investimento em infraestrutura sustentável são imprescindíveis para enfrentar os desafios climáticos e tornar as cidades mais resilientes e, assim, melhorar a qualidade de vida nas áreas urbanas.

 

*Aluna do Curso Técnico em Edificações – CEFET/MG

**Professor - CEFET/MG

A importância da preservação dos solos

25 de Fevereiro de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Perfil de solo - horizontes A, B e C

Gabriela Marcília Brito Coelho*

Adriano Valério Resende**

 

O solo é um ambiente dinâmico e essencial para sustentar a vegetação e manter diversas atividades humanas, como agropecuária, construção civil e mineração. Além disso, abriga vários organismos que são fundamentais para a biodiversidade do planeta e é um grande reservatório de água e de carbono, sendo esse um elemento crucial para o controle do aquecimento global. Preservar e manter a sustentabilidade do solo é um dos principais desafios que a humanidade enfrenta atualmente.

O solo se forma da desagregação da rocha e de maneira muito lenta. Dependendo do tipo de rocha e dos agentes envolvidos no intemperismo (físico, químico ou biológico), a formação de poucos centímetros pode levar milhares de anos. Para se ter uma ideia, em áreas de clima super-úmido, onde chove o ano todo, a formação de 1 centímetro de solo leva mais de 100 anos.

Ele se organiza em horizontes ou camadas, cada uma com características físicas, químicas e biológicas específicas, sendo classificadas pelas letras iniciais do alfabeto, as mais comuns são: A, B, C, D ou R. Os horizontes A e B são os mais importantes para a agropecuária. O horizonte A (chamado de solo arável), em particular, é a camada mais superficial, onde ocorre a maior parte das atividades biológicas e tem grande concentração de nutrientes e de matéria orgânica (o que dá uma coloração mais escura). Sua preservação é essencial para a produção de alimentos e reprodução de pastagens para o gado.

O solo é constituído por cinco elementos principais: matéria mineral sólida, que inclui fragmentos da rocha de origem e minerais de diferentes tamanhos, determinando sua textura; matéria orgânica, composta por restos de plantas e organismos em vários estágios de decomposição; água (abundante na época chuvosa); ar e organismos vivos (formigas, minhocas, fungos, bactérias etc.).

A fertilidade do solo é sua capacidade de fornecer nutrientes para o crescimento das plantas. Os nutrientes são basicamente elementos químicos e seus compostos. Os que as plantas mais precisam são chamados de macronutrientes: carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre. Por exemplo, a adubação em grande escala geralmente é feita com um fertilizante químico na forma de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), facilmente encontrado nas lojas de agropecuária. No geral, a fertilidade dos solos no Brasil varia de baixa a média, mas temos alguns destaques: solo de terra roxa (localizado em áreas do Centro-Sul), massapê (litoral do Nordeste) e os aluviais (comuns nas margens dos rios e lagos).

Como falamos anteriormente, a base para a produção de alimentos são os solos; no entanto, as atividades agrícolas e pecuárias insustentáveis têm causado cada vez mais a sua degradação. Nesse sentido, é importante estimular as práticas que visam o manejo responsável das terras cultiváveis, evitando a erosão, promovendo o uso eficiente dos recursos naturais e a preservação da biodiversidade. Eis algumas técnicas mais usadas: adubação verde, que melhora a fertilidade do solo por meio do plantio de plantas específicas; a rotação de culturas, que alterna diferentes espécies para aumentar a produtividade e reduzir as pragas; plantio direto, que preserva a estrutura do solo e a matéria orgânica ao evitar a aragem.

Outra questão importante é que o solo mantém uma grande reserva de água e de carbono. A água subterrânea, por exemplo, é essencial para o abastecimento de várias cidades. Já a manutenção do carbono junto aos compostos do solo é importante porque é um mecanismo que regula o seu ciclo na atmosfera, o que ajuda a mitigar os efeitos do aquecimento global. Segundo dados da plataforma SEEG, dentre os cinco macro setores, as mudanças no uso da terra e floresta (incluindo as queimadas) e a agropecuária contribuem com mais de 2/3 dos gases estufa no Brasil; seguidos de energia, processos industriais e resíduos.

Por fim, manter a sustentabilidade do solo é essencial para garantir a segurança alimentar da população e a manutenção de praticamente todas as instâncias da vida no planeta. Cuidar do solo é cuidar da vida.

 

*Aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG

**Professor CEFET/MG

IRIS: 15 anos de uma caminhada socioambiental

22 de Janeiro de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Rio Santo Antônio na localidade do Penedo, zona rural de Ritápolis (foto IRIS)

No dia 27 de dezembro de 2024, a Associação Instituto Rio Santo Antônio, conhecida como IRIS, completou 15 anos de fundação. Apesar dos desafios de se manter uma associação regularizada e em atividade por tanto tempo, cabe mencionar que realizamos várias atividades ambientais e culturais em Resende Costa e região. Assim, é merecedor contar um pouco da história do nosso IRIS.

Tudo começou em 2009, quando um grupo de jovens idealizou a fundação da primeira associação com finalidade prioritariamente ambiental em Resende Costa. Além das reuniões realizadas naquele ano, foram feitas algumas expedições ao longo do curso do rio Santo Antônio, nos períodos de seca e de cheia, sendo documentadas a cultura da região, suas riquezas naturais e culturais e também a sua degradação. Nesse sentido, foi iniciado um levantamento audiovisual do rio.

Em reunião realizada no plenário da Câmara Municipal de Resende Costa, foi fundado oficialmente o IRIS como associação ambiental e cultural, sendo aprovado o primeiro estatuto, no qual constam as finalidades da instituição. Dentre as principais, estão a preservação ambiental da bacia do rio Santo Antônio, a promoção da educação ambiental e a valorização cultural da cidade. Assim, além do campo ambiental, o viés cultural foi contemplado dentre as finalidades da ONG, o que demonstrou uma compreensão mais ampla de meio ambiente, com foco também no bem-estar social. Um dos propósitos foi que a entidade nascente utilizasse ações de cunho cultural como forma de pautar os assuntos referentes ao meio ambiente, buscando maior sensibilidade social para a causa ambiental.

Durante os quinze anos de existência, os vários eventos e ações realizados pelo IRIS estão registrados nas atas das reuniões, sendo que grande parte deles foi divulgada na mídia social da instituição (website, Facebook e Instagram), em uma revista impressa, em documentários e na coluna ambiental no Jornal das Lajes. A primeira rede social do Instituto foi o website criado em 2011, que pode ser acessado pelo endereço: https://www.portaliris.org.br/. A associação criou posteriormente uma conta no Facebook (Instituto IRIS) e outra no Instagram (ongiris_rc). Atualmente, essas mídias sociais são os principais canais de divulgação das ações realizadas pela ONG. A edição única da Revista IRIS foi publicada em abril de 2012. Cabe aqui destacarmos a publicação de textos socioambientais no Jornal das Lajes. A coluna “Meio Ambiente” é fruto de uma parceria entre o Jornal das Lajes e o IRIS que se firmou desde maio de 2012. Até a edição de dezembro de 2024, foram publicados 131 textos, abordando as mais variadas temáticas socioambientais, contando com a participação de diversos autores.

Apesar da vitrine da ação coletiva e altruísta das ONGs ambientalistas, as dificuldades são significativas. No caso do IRIS, podemos citar vários desafios, sendo os principais: pouca participação da população nas ações realizadas; dificuldades em renovar o quadro de filiados e de participantes da associação e também em obter apoio e na articulação com órgãos públicos e outras entidades para a realização das ações; morosidade nas ações que dependem da Prefeitura Municipal; falta de recursos financeiros para manutenção da instituição e para desenvolvimento de projetos.

Pensamos que, para termos mudanças significativas em nosso planeta, precisamos avançar nas causas altruístas e coletivas. Nesse sentido, a caminhada do IRIS continua, temos vários projetos socioambientais para Resende Costa. Por fim, agradecemos carinhosamente a todas as pessoas que têm contribuído e apoiado o IRIS ao longo desses 15 anos. E para reflexão final, ficamos com a fala atribuída a Mahatma Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.”

Solos amazônicos e a Terra Preta de Índio

25 de Dezembro de 2024, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Terra Preta de Índio e Solo da Região Amazônica (foto Revista Darwinianas)

Cauã Vitor de Sousa Vieira*

Adriano Valério Resende**

 

O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos define solo como uma coleção de corpos naturais que contém componentes sólidos, líquidos e gasosos, resultante de processos complexos acorridos ao longo de milhões de anos. Ele abriga organismos essenciais aos ecossistemas, podendo estar coberto ou não por vegetação e frequentemente tem suas camadas superficiais modificadas por ações humanas.

O solo é vital para a sobrevivência humana, pois, além de ser o substrato para a agropecuária, que é a principal fonte de nossa alimentação, fornece recursos minerais e energéticos usados na indústria e na construção civil. Além disso, atua como um reservatório de água, elemento essencial para a vida no planeta.

Quando se olha a exuberância da Floresta Amazônica, logo se pensa que o solo é extremamente fértil, mas a realidade não é bem essa. O solo amazônico é, em geral, bastante arenoso e de baixa fertilidade natural, isto é, tem pouca disponibilidade de nutrientes (cálcio, enxofre, fósforo, nitrogênio, magnésio, potássio etc.) para as plantas. O que mantém a sua estabilidade e fertilidade é a própria floresta, ou seja, forma-se uma camada orgânica que se origina da decomposição de troncos, folhas, frutos e restos de animais. Essa camada que fica sobre o solo, chamada de serapilheira, é rica em húmus, matéria orgânica decomposta essencial para as diversas espécies vegetais da região. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Florestas, apenas 14% dos solos amazônicos podem ser considerados férteis, em especial os aluviais (nas margens dos rios), portanto, propícios naturalmente para o desenvolvimento de alguma atividade agrícola.

Como o clima equatorial é muito quente e úmido, dá para se ter uma ideia dos requisitos para conservação desses solos. Em áreas que foram desmatadas, as intensas chuvas “lavam” o solo, removendo a camada superficial onde estão alocados os nutrientes. Assim, esse fenômeno, conhecido como lixiviação, torna-o ainda mais empobrecido. E os raios solares incidindo sobre o solo exposto, sem a cobertura vegetal, altera o ciclo de vida ou até mesmo mata os microrganismos que nele habitam. Assim, o desmatamento e as queimadas são problemas a serem combatidos, pois alteram a reciprocidade interna do bioma, uma vez que é a própria floresta que fornece os nutrientes importantes para a sua manutenção.

Um tipo de solo específico da região amazônica é o chamado Terra Preta de Índio (TPI). Essa é uma designação regional para os solos que possuem camadas superficiais escuras, de textura leve e arejada e com alto teor de carbono e nutrientes. De acordo com alguns cientistas, a formação desse horizonte escuro é resultante do manejo do solo feito pelos povos indígenas que viveram na floresta nos últimos 5 mil anos. Assim, os povos amazônicos, intencionalmente, manipulavam resíduos orgânicos e restos de material queimado que foram acumulados no solo como forma de aumentar a sua fertilidade e elevar a produtividade de alimentos ao longo dos anos. As TPIs são notoriamente férteis, em contraste com os solos vizinhos, apresentando altos níveis de fósforo, cálcio, zinco e manganês, além de estoques significativos de carbono orgânico, que podem ser até cem vezes superiores ao seu entorno. Por esse motivo, é muito requisitado para o plantio, especialmente pelas populações locais.

Uma característica marcante das TPIs é a presença de pedaços de artefatos cerâmicos de culturas pré-colombianas, o que reforça sua origem antrópica. Isso desmonta a versão de que elas teriam sido formadas a partir de depósitos de cinzas vulcânicas oriundas da Cordilheira dos Andes ou de matéria orgânica sedimentada em antigos lagos. Esses solos são encontrados em toda bacia amazônica, principalmente entre o Pará e o Amazonas, e até mesmo fora do Brasil. 

Por fim, a interação do solo com o meio ambiente revela sua importância para a vida no planeta. Nesse sentido, sua conservação, através de um manejo adequado, é fundamental para preservar sua função. O modo de vida dos povos indígenas é um forte relato da harmonia entre presença humana e conservação da natureza, e um exemplo disso é a existência da Terra Preta de Índio na Amazônia.

 

 

*Aluno do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG

**Professor CEFET/MG