Olhar

Papa Francisco é essencial

29 de Marco de 2025, por André Eustáquio 0

Papa Francisco - Foto: Getty Images

Muito já se falou e escreveu sobre Jorge Mario Bergoglio, arcebispo argentino, primeiro jesuíta a se tornar papa, que ainda inspira incansáveis reflexões dado seu profundo testemunho de vida e de missão cristã. O ardor pastoral e a ação profética de aproximar a Igreja Católica dos mais necessitados, dialogando com as novas realidades de um mundo em rápida transformação moral, política e tecnológica, transformaram o Papa Francisco em figura essencial numa sociedade refém do autoritarismo e de tantas formas de intolerâncias destruidoras.

Vêm amedrontando a humanidade conflitos armados que assolam o Planeta, desde o Oriente Médio à Ucrânia. Somam-se a eles a destruição avassaladora do meio ambiente e a situação caótica em que se encontram diversos países pobres, afundados em guerras civis ou inertes ante a impiedosa e não menos brutal violência da fome. Nações cujas soberanias se encontram à mercê do interesse das grandes potências globais ou de arroubos totalitários de líderes da estirpe de Putin, Trump e Netanyahu compõem o contexto social e político do mundo atual, onde imperam as armas e a violência ameaçando populações civis indefesas.

Em meio a esse mundo louco, o Papa Francisco é a voz lúcida que aponta caminhos para a paz. O seu testemunho é exemplo de humildade e doação. A sua ternura inspira uma humanidade que se esqueceu do significado de amor, gentileza, diálogo, tolerância e acolhida.

Recentemente, Francisco, 88 anos, quase sucumbiu a uma grave pneumonia que o manteve internado durante 38 dias na Policlínica Gemelli, em Roma, sob olhares angustiados de centenas de milhares de fiéis que o guardavam em preces e vigílias. Mesmo diante do agravamento da doença, o pontífice não perdeu a consciência e a conexão com os povos que sofrem os horrores da guerra. Convalescente em seu leito, o papa encontrou forças para telefonar e conversar regularmente com o pároco de uma paróquia na Faixa de Gaza, demonstrando seu ardor apostólico e seu amparo de pai, levando mensagens de esperança a uma terra arrasada, cuja população vem sendo violentamente massacrada.

Quando as esperanças de todos se esvaíam diante do agravamento de sua enfermidade, Francisco começou a dar sinas de recuperação e os prognósticos médicos aos poucos o tiraram do quadro crítico de saúde. Parecia que um milagre começara a acontecer em resposta às súplicas de milhares de fiéis que se agarraram à fortaleza da fé.

Deus, sim, ouviu as preces e teve misericórdia da humanidade que necessita da presença, do amor, do profetismo e da liderança do Papa Francisco. Sua voz, mesmo que fraca e trêmula devido à grave enfermidade que o acomete, ainda é capaz de gritar bravamente contra as injustiças, a fome, a desigualdade, as tiranias e as guerras espalhadas pelo Planeta.

No momento, Francisco se recupera em sua Casa Santa Marta, dentro dos muros da cidade do Vaticano. Do lado de fora, o aguarda, ansiosamente, uma humanidade sedenta de esperança, para continuar caminhando num mundo onde a brutalidade digladia-se com a ternura, ameaçando a paz e a harmonia entre os povos.

Francisco é mensageiro de paz, amor, ternura, esperança, fé e diálogo. Saúde, força e vida longa ao Santo Padre! Sua presença neste mundo ausente de esperança é ESSENCIAL.

Festa de Nossa Senhora do Rosário de Resende Costa

13 de Novembro de 2018, por André Eustáquio 0

Integrantes dos congados - tradição e religiosidade na Festa de Nossa Senhora do Rosário (Foto Vívian Daher)

Na manhã do sábado (3), véspera da Festa de Nossa Senhora do Rosário, em Resende Costa, enquanto eu passava em frente à igreja, uma pessoa me indagou, olhando perplexa para a confusão que se criou no local a partir da enorme quantidade de barracas montadas nos arredores da Praça Coronel Souza Maia: “A nossa festa é aqui (na igreja) ou ali (nas barracas)?” Eu respondi prontamente que achava que a festa deveria ser aqui (na igreja do Rosário).

Fico preocupado com os rumos que a tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário está tomando em Resende Costa. De alguns anos para cá, temos visto proliferar o comércio popular (pequenas e inúmeras barracas de roupas, objetos eletrônicos, gêneros alimentícios, utensílios domésticos, etc.) nos arredores da Praça Coronel Souza Maia durante os dias da festa. Neste ano, as barracas chegaram até o terminal rodoviário, bloqueando totalmente o trânsito nas duas vias que ligam o bairro Várzea ao centro da cidade.

Quem defende o comércio popular nos dias da festa do Rosário pode perguntar-me: qual o problema?

Antecipo que não sou contra as barraquinhas. A população da cidade gosta, muitas pessoas vão às compras, as ruas ficam movimentadas, as crianças se divertem nos brinquedos e os comerciantes aproveitam para ganhar um suado dinheiro. No entanto, diante do que temos visto, torna-se urgentemente necessária uma melhor organização. Na segunda-feira (5), um dia após a festa, caminhando entre as barracas, pude ver fios de energia elétrica soltos no chão e atravessando as ruas, colocando em risco os comerciantes e os moradores do entorno. Além disso, uma enorme quantidade de lixo amontoava-se em frente às lojas e casas da rua do Rosário.

Se a organização da festa e quem a apoia desejam optar por incentivar o comércio popular, medidas de organização devem ser implantadas. Pode-se pensar, por exemplo, em estabelecer um número máximo de barracas, organizar a infraestrutura para garantir conforto e segurança à população e aos comerciantes.

No entanto, o que mais me preocupa é o risco de uma possível mudança de referência. Ao invés de se valorizar a Festa de Nossa Senhora do Rosário, com tudo o que ela representa, tanto no aspecto religioso quanto cultural, a prioridade vir a ser o comércio.

Como é bom assistir ao levantamento do mastro no adro da igreja, ver os congados chegarem na manhã de domingo, cada um com o seu reinado, ostentando ritmos, cores e batuques! A cultura brasileira (laica e religiosa) está ali representada. Como é bom também ouvir o repique dos sinos da igreja do Rosário (embora atualmente o toque dos sinos em Resende Costa tenha sido descaracterizado, perdendo a originalidade, o simbolismo e a genuína linguagem), sinalizando que a comunidade está em júbilo! A nossa fé se agiganta ao ver a bela e antiga imagem de Nossa Senhora do Rosário saindo em seu andor pela porta do templo, ladeada e reverenciada pelos congadeiros.

Sinto, porém, saudades dos tempos em que um número maior de bandas de congada vinha nos visitar. A procissão, realizada naqueles tempos no fim da tarde de domingo, às 17h, era mais bonita e participativa. Que bonito era ver as bandas de congada entrarem na igreja após a procissão para se despedirem de Nossa Senhora do Rosário... Depois das homenagens, celebrava-se a santa missa encerrando as festividades.

A Festa de Nossa Senhora do Rosário não pode se transformar num grande comércio. Valorizo as quermesses ao redor da igreja, tal como ocorre durante as festas de Nossa Senhora da Penha (padroeira da nossa cidade), Santo Antônio e São José, Nossa Senhora de Fátima, São Judas, entre outras. Essa antiga tradição presente nas festividades católicas estimula o convívio social de forma simples, singela e bonita.

Voltando, enfim, ao pequeno diálogo que tive na manhã do sábado, véspera da festa, espero que no ano que vem possamos afirmar que a Festa de Nossa Senhora do Rosário acontece na igreja, não nas barracas. Que Nossa Senhora do Rosário, os congados, reis, rainhas, devotos e irmandades sejam os verdadeiros protagonistas desta que é uma das mais belas e piedosas manifestações da religiosidade popular brasileira.

Música na igrejinha

24 de Julho de 2018, por André Eustáquio 0

Igrejinha de Nossa Senhora do Rosário de Coronel Xavier Chaves (Foto André Eustáquio)

Há mais de quarenta anos a cidade de Prados recebe em julho alunos e professores da ECA – Departamento de Música da USP - que promovem, em parceria com a Lira Ceciliana, o “Festival de Música de Prados”. Neste ano, o festival chegou à sua 41ª edição, oferecendo aos músicos e à comunidade cursos e concertos gratuitos. O instrumento em destaque do festival deste ano é o Clarinete.

Ao longo de duas semanas, os alunos e a Orquestra do Festival realizam recitais e concertos em Prados e em algumas localidades da região. Na noite do dia 23, segunda-feira, a Orquestra do Festival realizou um concerto na igrejinha do Rosário, em Coronel Xavier Chaves, apresentando repertório para violino solo, violão, flauta e orquestra de cordas.

A pequena e bucólica capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário, construída por volta de 1717 em alvenaria de pedra, abrigou por quase uma hora um ritual diferente do que costumeiramente acontece em seu interior há mais de 300 anos. Ao invés de orações, missas e novenas, a música inundou o espaço sagrado.

Interessante perceber a sintonia do templo com a música. Tal como ocorre nas celebrações litúrgicas da Igreja, o concerto também tem seu ritual típico - silêncio, abstração e concentração elevam o espírito ao transcendente, e fazem da música uma oração plena e edificante.

No retábulo de madeira, imagens de Nossa Senhora do Rosário e de alguns santos de devoção popular. Abaixo, no pequeno presbitério, partituras de J. S. Bach, H. Villa Lobos, Camargo Guarnieri, Janacek, entre outros compositores que sacralizaram a história da música. O sagrado e a arte resguardados por uma fortaleza de pedra transposta pelos sons de violinos, violas, violão, flauta....

Numa noite fria de julho, o concerto na igrejinha do Rosário de Coronel Xavier Chaves mais uma vez canonizou a música, elevando-a ao etéreo patamar de magna arte, capaz de transportar o espírito humano ao transcendente, ao sagrado.

Viver é muito perigoso

17 de Abril de 2018, por André Eustáquio 0

Marielle

O assassinato covarde e brutal da vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, Marielle Franco, 38, e do seu motorista, Anderson Pedro Gomes, 39, no dia 14 de março último, repercutiu no Brasil e em diversos países do mundo, causando revolta e indignação. A sociedade imediatamente elevou sua voz cobrando das autoridades rápida investigação e respostas. Quem, afinal, quis calar Marielle Franco? Por que?

Enquanto essas respostas não são apresentadas, falemos sobre Marielle Franco, uma jovem que saiu da periferia do Rio de Janeiro, tornou-se importante liderança comunitária, foi eleita vereadora com mais de 46.000 votos e exerceu seu mandato dando voz a quem cotidianamente sofre os horrores da violência, da exclusão, da pobreza impiedosa e da omissão do estado. Marielle não teve medo diante das inúmeras batalhas que enfrentou. “A Marielle comprava as brigas que tinha que comprar”, disse seu correligionário do PSOL, deputado estadual Marcelo Freixo.

As brigas que Marielle comprou, e que custaram a sua vida, escancaram as vísceras de um sistema corrupto e violento, que privilegia poderosos e escraviza ainda mais os pobres, os excluídos e desamparados da sociedade. A sua voz foi ensurdecedora para muitos ouvidos que a odiaram. Consequentemente, a lógica do crime, da intolerância e da brutalidade ordenou imperiosamente que a jovem vereadora fosse executada, calada.

O assassinato de Marielle Franco nos leva a refletir sobre o mundo violento em que vivemos, onde tornou-se perigoso falar, pensar, discordar e apontar caminhos. Na guerra insana travada nos morros, nas ruas e nas instituições da sociedade, o ódio e a intolerância estão vencendo a razão. Estamos com medo de conviver, de sair às ruas, afinal não sabemos de onde e que horas vem o inimigo, escondido atrás de inúmeros disfarces.

A morte de Marielle deixou a sociedade sem voz, sem fôlego, sem esperança. O medo e a perplexidade nos fazem lembrar da célebre frase de Guimarães Rosa, em sua obra-prima, “Grande Sertão - Veredas: “Viver é muito perigoso”.

Carnaval 2018 em Resende Costa: novas propostas, mais animação

14 de Fevereiro de 2018, por André Eustáquio 0

Fanfarra Furiosa e bateria do Rifugo no palco do Teatro Municipal (Foto Cícero Chaves)

Na noite da segunda-feira de Carnaval, 12 de fevereiro, quando a bateria do Rifugo e a fanfarra Furiosa subiram ao palco do Teatro Municipal, depois de longos anos o som ao vivo das tradicionais marchinhas voltou a ecoar no salão do velho teatro, reacendendo as lembranças de quem viveu as glórias dos carnavais de outrora. Os foliões não escondiam a emoção de poderem se divertir onde, no passado, acontecia o Carnaval de Resende Costa.

“Esse, sim, é o nosso verdadeiro Carnaval”. Essa frase foi repetida por inúmeras pessoas durante o baile de Carnaval Retrô no Teatro Municipal. A poucos metros do Teatro, na Rua Gonçalves Pinto, o som mecânico tocava diferentes gêneros de música e aglomeravam-se centenas de pessoas, no entanto, a genuína animação de carnaval estava no salão do Teatro. As pessoas dançavam, cantavam, faziam rodas em torno do salão, animadas pelas tradicionais marchinhas tocadas pela Furiosa e pela bateria do Rifugo.

Carnaval é tradição

Há alguns anos, a comissão organizadora do Carnaval de Resende Costa, liderada pela Prefeitura Municipal e composta por representantes da comunidade, do poder público e de associações, vem tentando encontrar uma “fórmula” capaz de resgatar a animação nos dias oficiais da festa.

Ao longo dos anos, foi-se percebendo nítida e incontestavelmente que a animação do Carnaval aos poucos foi migrando para os blocos que saem na semana anterior, ou seja, para o pré-carnaval. O que fazer, então, para resgatar o Carnaval em seus dias oficiais? Mais que uma pergunta, essa indagação transformou-se num enorme desafio para a comissão organizadora da festa e para a recém criada Secretaria Municipal de Turismo, Artesanato e Cultura (SETAC).

Desde o ano passado, surgiram propostas com o intuito de diversificar e ao mesmo tempo incrementar a programação nos dias oficiais. Entre as propostas para este ano, destacam-se a redução dos dias do pré-carnaval; a criação de dois ambientes na avenida, com diferentes estilos musicais; apresentações musicais ao vivo e realização do Carnaval Retrô no Teatro Municipal. No ano passado já havia acontecido o baile retrô e a experiência surpreendeu. O público não foi grande, a bateria e a fanfarra não participaram, porém, quem foi gostou e animou outras pessoas a irem neste ano.

Semelhante ao que ocorrera no ano passado, o Carnaval Retrô 2018 foi um sucesso, devido especialmente à participação da bateria e da fanfarra e à grande presença dos foliões. Para os próximo anos, a comissão organizadora poderia pensar em novas atrações para o Carnaval Retrô no Teatro Municipal. Sugiro prolongar o tempo de apresentação da fanfarra e da bateria; criar um concurso de fantasias; promover show com grupos musicais que apresentem repertório tradicional de carnaval e, quem sabe, organizar o “Bloco do Teatro” com a presença do Rei Momo?! Esse bloco poderia se concentrar na Rua Gonçalves Pinto e dirigir-se ao Teatro, abrindo, assim, o tradicional baile.

O baile no Teatro Municipal confirmou, mais uma vez, que Carnaval é, além de curtição, tradição. E nós podemos muito bem conciliar as tendências e os ritmos atuais com a tradição.  Acredito que essa simbiose possa ser a “fórmula” procurada para resgatar a animação dos dias oficiais de folia em Resende Costa.

Sob o som da Furiosa e da bateria do Rifugo, segurando uma latinha de cerveja (que não pode faltar!) e tomado pela emoção de poder pular carnaval no nosso Teatro Municipal, eu conversava com um amigo sobre o resgate das tradições do Carnaval. Dizíamos que, muitas vezes, para se resgatar alguma coisa é necessário voltar às raízes, às origens. E afirmamos, como muitos que, como nós, estavam animados e emocionados no salão do Teatro: “Esse é o verdadeiro Carnaval de Resende Costa!”

Parabéns e sugestões

Digna de aplausos a iniciativa de alguns empresários do comércio de Resende Costa que se uniram ao Gilson Ricardo, integrante da fanfarra Furiosa, e organizaram o Grito de Carnaval deste ano. Esse grupo demonstrou que a responsabilidade pela organização do Carnaval não deve ser somente do poder público. Enquanto festa popular, o povo também deve assumir iniciativas contando, obviamente, com o apoio do poder público municipal, garantindo infraestrutura e segurança.

Enfim, foi muito bom ver a Rua Gonçalves Pinto novamente tomada pelos foliões nos dias do Carnaval. Em sua conta no Facebook, a Polícia Militar destacou a manutenção da ordem e parabenizou os organizadores do evento: “Encerrado o Carnaval 2018 em Resende Costa. Graças a Deus, à organização, à segurança e ao bom comportamento dos foliões, não tivemos registros de crimes durante as festividades! Parabéns a todos os envolvidos!”

Valeu o esforço da comissão organizadora. Acredito que as mudanças propostas para este ano surtiram efeito positivo. Melhorias ainda podem ser feitas, todavia é necessário que os foliões resende-costenses prestigiem mais o nosso Carnaval, criando novos blocos e novas atrações, especialmente nos dias oficiais. É preciso que sejamos um pouquinho bairristas, abracemos a nossa cidade e valorizemos ainda mais as nossas tradições!