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Festa de Nossa Senhora do Rosário de Resende Costa

13 de Novembro de 2018, por André Eustáquio

Integrantes dos congados - tradição e religiosidade na Festa de Nossa Senhora do Rosário (Foto Vívian Daher)

Na manhã do sábado (3), véspera da Festa de Nossa Senhora do Rosário, em Resende Costa, enquanto eu passava em frente à igreja, uma pessoa me indagou, olhando perplexa para a confusão que se criou no local a partir da enorme quantidade de barracas montadas nos arredores da Praça Coronel Souza Maia: “A nossa festa é aqui (na igreja) ou ali (nas barracas)?” Eu respondi prontamente que achava que a festa deveria ser aqui (na igreja do Rosário).

Fico preocupado com os rumos que a tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário está tomando em Resende Costa. De alguns anos para cá, temos visto proliferar o comércio popular (pequenas e inúmeras barracas de roupas, objetos eletrônicos, gêneros alimentícios, utensílios domésticos, etc.) nos arredores da Praça Coronel Souza Maia durante os dias da festa. Neste ano, as barracas chegaram até o terminal rodoviário, bloqueando totalmente o trânsito nas duas vias que ligam o bairro Várzea ao centro da cidade.

Quem defende o comércio popular nos dias da festa do Rosário pode perguntar-me: qual o problema?

Antecipo que não sou contra as barraquinhas. A população da cidade gosta, muitas pessoas vão às compras, as ruas ficam movimentadas, as crianças se divertem nos brinquedos e os comerciantes aproveitam para ganhar um suado dinheiro. No entanto, diante do que temos visto, torna-se urgentemente necessária uma melhor organização. Na segunda-feira (5), um dia após a festa, caminhando entre as barracas, pude ver fios de energia elétrica soltos no chão e atravessando as ruas, colocando em risco os comerciantes e os moradores do entorno. Além disso, uma enorme quantidade de lixo amontoava-se em frente às lojas e casas da rua do Rosário.

Se a organização da festa e quem a apoia desejam optar por incentivar o comércio popular, medidas de organização devem ser implantadas. Pode-se pensar, por exemplo, em estabelecer um número máximo de barracas, organizar a infraestrutura para garantir conforto e segurança à população e aos comerciantes.

No entanto, o que mais me preocupa é o risco de uma possível mudança de referência. Ao invés de se valorizar a Festa de Nossa Senhora do Rosário, com tudo o que ela representa, tanto no aspecto religioso quanto cultural, a prioridade vir a ser o comércio.

Como é bom assistir ao levantamento do mastro no adro da igreja, ver os congados chegarem na manhã de domingo, cada um com o seu reinado, ostentando ritmos, cores e batuques! A cultura brasileira (laica e religiosa) está ali representada. Como é bom também ouvir o repique dos sinos da igreja do Rosário (embora atualmente o toque dos sinos em Resende Costa tenha sido descaracterizado, perdendo a originalidade, o simbolismo e a genuína linguagem), sinalizando que a comunidade está em júbilo! A nossa fé se agiganta ao ver a bela e antiga imagem de Nossa Senhora do Rosário saindo em seu andor pela porta do templo, ladeada e reverenciada pelos congadeiros.

Sinto, porém, saudades dos tempos em que um número maior de bandas de congada vinha nos visitar. A procissão, realizada naqueles tempos no fim da tarde de domingo, às 17h, era mais bonita e participativa. Que bonito era ver as bandas de congada entrarem na igreja após a procissão para se despedirem de Nossa Senhora do Rosário... Depois das homenagens, celebrava-se a santa missa encerrando as festividades.

A Festa de Nossa Senhora do Rosário não pode se transformar num grande comércio. Valorizo as quermesses ao redor da igreja, tal como ocorre durante as festas de Nossa Senhora da Penha (padroeira da nossa cidade), Santo Antônio e São José, Nossa Senhora de Fátima, São Judas, entre outras. Essa antiga tradição presente nas festividades católicas estimula o convívio social de forma simples, singela e bonita.

Voltando, enfim, ao pequeno diálogo que tive na manhã do sábado, véspera da festa, espero que no ano que vem possamos afirmar que a Festa de Nossa Senhora do Rosário acontece na igreja, não nas barracas. Que Nossa Senhora do Rosário, os congados, reis, rainhas, devotos e irmandades sejam os verdadeiros protagonistas desta que é uma das mais belas e piedosas manifestações da religiosidade popular brasileira.

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