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Viver é muito perigoso

17 de Abril de 2018, por André Eustáquio

Marielle

O assassinato covarde e brutal da vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, Marielle Franco, 38, e do seu motorista, Anderson Pedro Gomes, 39, no dia 14 de março último, repercutiu no Brasil e em diversos países do mundo, causando revolta e indignação. A sociedade imediatamente elevou sua voz cobrando das autoridades rápida investigação e respostas. Quem, afinal, quis calar Marielle Franco? Por que?

Enquanto essas respostas não são apresentadas, falemos sobre Marielle Franco, uma jovem que saiu da periferia do Rio de Janeiro, tornou-se importante liderança comunitária, foi eleita vereadora com mais de 46.000 votos e exerceu seu mandato dando voz a quem cotidianamente sofre os horrores da violência, da exclusão, da pobreza impiedosa e da omissão do estado. Marielle não teve medo diante das inúmeras batalhas que enfrentou. “A Marielle comprava as brigas que tinha que comprar”, disse seu correligionário do PSOL, deputado estadual Marcelo Freixo.

As brigas que Marielle comprou, e que custaram a sua vida, escancaram as vísceras de um sistema corrupto e violento, que privilegia poderosos e escraviza ainda mais os pobres, os excluídos e desamparados da sociedade. A sua voz foi ensurdecedora para muitos ouvidos que a odiaram. Consequentemente, a lógica do crime, da intolerância e da brutalidade ordenou imperiosamente que a jovem vereadora fosse executada, calada.

O assassinato de Marielle Franco nos leva a refletir sobre o mundo violento em que vivemos, onde tornou-se perigoso falar, pensar, discordar e apontar caminhos. Na guerra insana travada nos morros, nas ruas e nas instituições da sociedade, o ódio e a intolerância estão vencendo a razão. Estamos com medo de conviver, de sair às ruas, afinal não sabemos de onde e que horas vem o inimigo, escondido atrás de inúmeros disfarces.

A morte de Marielle deixou a sociedade sem voz, sem fôlego, sem esperança. O medo e a perplexidade nos fazem lembrar da célebre frase de Guimarães Rosa, em sua obra-prima, “Grande Sertão - Veredas: “Viver é muito perigoso”.

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