Vidas centenárias
30 de Agosto de 2024, por Regina Coelho 0
o que pode haver em comum na biografia dos brasileiros Orlando Drummond, Dercy Gonçalves e Oscar Niemeyer? Além da fama que conquistaram pela profissão que abraçaram, os três ultrapassaram a marca dos 100 anos de vida. Orlando, mais conhecido pelo personagem “Seu Peru”, da Escolinha do Professor Raimundo, era ator, comediante, dublador e radialista. E morreu em 2021, aos 101 anos. Essa foi também a idade alcançada pela irreverente atriz, humorista, cantora, autora, diretora e produtora teatral Dercy Gonçalves, que faleceu em 2008. O genial arquiteto e urbanista Niemeyer, notável cidadão de renome internacional, viveu mais, até 2012, tendo partido em 5 de dezembro, dez dias antes de se completarem seus 105 anos.
Recentemente, em junho deste 2024, morreu aos 101 anos Celeste Arantes, mineira de Três Corações e mãe de Pelé. O “Rei” chegou a comemorar o centenário de vida dela em novembro de 2022, um mês antes do seu próprio falecimento.
Igualmente em junho último, mas celebrando sua existência e esbanjando simpatia e vitalidade, Beita de Souza Pereira posou sorridente para a câmera do celular do filho. “Minha mãe com 102 anos”, escreveu o cantor Ney Matogrosso na legenda da foto, ao usar as redes sociais na madrugada daquele dia 19 para compartilhar com seus seguidores uma imagem inédita de Dona Beita. Também viva e agora centenária, a psicanalista Suzane Bial nasceu em 3 de julho de 1924 em Berlim, Alemanha. Sim, o sobrenome a identifica corretamente como mãe do jornalista Pedro Bial.
Com tudo isso, um fato é inegável: as pessoas estão vivendo mais tempo. De acordo com os dados mais recentes (Censo de 2022) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida do brasileiro é de, aproximadamente, 75,5 anos, um aumento de cerca de 35 anos desde os anos 1940.
Sobre a média de anos vividos algumas décadas atrás pela nossa população, uma notícia (de 4 de agosto de 1960) trazida do passado e postada pelo advogado Pedro Lindoso deu o que falar na internet, viralizou. O caso: durante uma leitura rotineira de edições antigas do Jornal do Commercio (de Manaus e em atividade desde 1904), Lindoso, de cara, teve a atenção despertada pelo título da matéria: “Ônibus entrou na casa humilde e foi apanhar a velhinha de 42 anos”. Se considerarmos que em 1960, data desse episódio, a expectativa de vida no Brasil era de 45 anos, Maria Oliveira, a mulher em questão, com seus 42 janeiros, era praticamente uma “velhinha” para os padrões da época, algo completamente impensável nos dias de hoje.
Vejamos o agora por mais um exemplo de boa longevidade. Ao celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25 de julho), o tradicional programa de entrevistas Sem Censura, do Canal Brasil, recebeu a militante Maria Soares. Feliz, lúcida, articulada e inteligente, Dona Santinha, assim também chamada e do alto dos seus produtivos 100 anos, deu uma verdadeira aula de cidadania com sua fala de peso e um histórico de lutas em defesa de causas contra o racismo e o machismo, entre outras.
Não vamos romantizar aqui o que se sabe ser difícil, ou seja, o processo do envelhecimento humano, o próprio envelhecimento e, principalmente, o prolongamento natural, óbvio, da vida de alguém até os 100 ou mais anos. Viver tanto, em condições satisfatórias, contudo, não deixa de ser uma façanha. Mulheres, muito mais, e homens centenários estão aí, não necessariamente desmemoriados ou “vivendo” a qualquer custo. Há que se ter muito respeito por eles. Estatisticamente, o Brasil tem mais de 37 mil indivíduos centenários.
Em Resende Costa, são pessoas como a Ninica, (mãe da Maria das Dores do Lico), 100 anos completados em 12 de fevereiro último. E Cecília Ramos de Oliveira, já retratada aqui no JL (pelo colega Edésio na edição de outubro de 2022), com seus quase 102 anos. Deve haver outras.
Admiráveis são essas vidas centenárias e todas as histórias construídas dentro delas ao longo de tantos e tantos anos.
Ouro, prata e bronze
31 de Julho de 2024, por Regina Coelho 0
Evento multiesportivo programado para acontecer de 26 de julho a 11 de agosto deste ano, na França, os Jogos da XXXIII Olimpíada despertam a atenção mundial para muito além dos segmentos envolvidos diretamente no entorno das atividades voltadas para a sua realização. Entre alguns deles, os comitês olímpicos, patrocinadores, as diversas mídias e, claro, as grandes estrelas do espetáculo. Impressionam os números: de atletas, mais de 10 mil; de países, mais de 200. Considerando os competidores, um novo dado de relevância surge com a igualdade numérica entre os gêneros. Do outro lado, como assistência a esse gigantesco acontecimento, a previsão do Comitê Olímpico Internacional é a de que 1,5 bilhão de pessoas acompanhem as Olimpíadas em todo o planeta.
Nesse contexto, com centenas de milhões de olhos e ouvidos voltados para os cenários franceses das disputas, o que dizer sobre esse contingente humano de esportistas em busca de um grande feito?
“Esforço físico, dor e repetição; dedicação extrema, pressão psicológica, frustração. O cotidiano de um atleta de alto rendimento está longe de se resumir às glórias do lugar mais alto do pódio. O caminho entre a descoberta e o prazer da prática esportiva e a conquista de medalhas e troféus é para poucos e exige uma rotina exaustiva de treinamentos, lesões e tratamentos que nem sempre garantem recompensa para quem nele se aventura”, expõe o jornalista Adriano de Lavor em artigo de agosto de 2021 para a revista Radis (FioCruz/ Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca - ENSP) parte dos obstáculos enfrentados por quem almeja o topo ao longo da carreira no esporte.
A judoca Mayra Aguiar é uma dessas atletas. Ao conquistar em 2021 (no Japão) seu terceiro bronze olímpico seguido em uma modalidade individual, a primeira brasileira a alcançar essa façanha desabafou: “Foram difíceis os últimos tempos, bem difíceis. Tem que superar, superar de novo e de novo. Não aguentava mais fazer cirurgia. (foram sete), ainda mais no momento que vivemos (da pandemia). Tive medo, angústia.”
Falar em angústia, ainda que potencializada pelos anos pandêmicos por que passamos, como no caso de Mayra, faz lembrar Simone Biles, a ginasta mais condecorada de todos os tempos. Corajosa, a norte-americana desistiu de disputar a final individual geral da ginástica artística nas Olimpíadas de Tóquio para preservar sua saúde mental. “Preciso me concentrar no meu bem-estar, há vida além da ginástica. Infelizmente aconteceu nesse palco”, esclareceu ela à época. Acima de tudo, humana e, às vezes, vulnerável, por que não? E como todos nós.
Hoje, com os Jogos Olímpicos de Paris em evidência total, o carioca Marcus D’Almeida, número 1 do mundo no tiro com arco, afirma sentir uma alta pressão sobre sua performance e diz não se incomodar com essa situação. “Ninguém chega a número 1 do mundo sem gostar de pressão. Eu procurei isso e adoro ser a atração do show”, admite, sem rodeios.
Com tantas histórias de gente que se entrega de corpo e alma a um ideal de vitórias e títulos de reconhecida importância, desafiando limites, buscando recordes, submetendo-se a uma preparação extenuante e renunciando a uma rotina dita “normal”, fico só pensando no que se passa na cabecinha da Rayssa Leal, que parece brincar quando compete. Já famosa na internet ainda aos 7 anos após publicar um vídeo realizando manobras de skate com a fantasia da fada Sininho, aos 13, a menina encantou o mundo e se tornou a medalhista brasileira mais nova na trajetória dos Jogos Olímpicos. Não devem lhe faltar a leveza e a alegria juvenis, atributos que Rayssa mantém, mesmo agora, com a responsabilidade de uma história esportiva vitoriosa em curso e, para tanto, contando com o suporte da terapia como elemento de equilíbrio a uma vida nada comum.
Caminhada árdua a desses atletas de ponta, tantas vezes feita de dores, fracassos e renúncias e em que ser um atleta olímpico é a grande aspiração. Chegar mais longe e ser ouro, prata ou bronze é a consagração eterna.
Dois resende-costenses de destaque
26 de Junho de 2024, por Regina Coelho 0
Em plena Avenida Alfredo Penido, entre as dezenas de estabelecimentos comerciais espalhados ao longo dessa que é a principal porta de entrada e saída da cidade, uma pequena distância separa o Xegamais e a loja Rosa Artesanato. No primeiro, de convidativo nome, recepcionando e orientando os que chegam, sem se descuidar do serviço de caixa, o resende-costense José Antônio de Resende, 78 anos (nascido no Povoado do Barro Vermelho, onde viveu até os 18, na lida com o pai e os irmãos), mesmo aposentado, continua a trabalhar em seu restaurante. No outro ponto, na fachada sobre cuja parede se vê em posição de escalada uma escultura da Tixa, nossa personagem-símbolo, identifica-se também em vistosa pintura ao alto o nome da proprietária: Rosa. Rosângela de Fátima Chaves Silva, 69 anos, nascida em São João del Rei e a vida toda moradora de Resende Costa, aposentada, mas ainda atuante profissionalmente. E começou cedo, aos 11, sempre como artesã, trabalhando em família, uma bênção de Deus, ela diz.
Diferentemente dela, o José Antônio, melhor, o Zainha do Xegamais, como é conhecido entre nós, rodou muito por aí até voltar definitivamente para a sua terra natal. No começo, ficou por um breve período no “Colégio Salesiano” em São João e, aos 18, serviu no Exército. Depois, foi buscar oportunidades de trabalho e estudo fora, primeiramente em Belo Horizonte, quando trabalhou na EDIMAP (Editora e Distribuidora de Material Pedagógico) e na ANTARES (Distribuidora de livros), pertencentes ao seu irmão Geraldo Pinto. Representando essa última firma, foi fazer a divulgação do material em São Paulo e se apaixonou pela capital. E por lá ficou até que surgiu uma oportunidade de trabalho no Rio de Janeiro. Mais tarde, quis voltar para São Paulo, dessa vez, trabalhando em Caçapava, onde também concluiu o curso de Contabilidade. Outros desafios profissionais se sucederam. E veio o casamento com a também resende-costense Maria Ângela. Vieram os filhos: Ana Paula, Sérgio e, por fim, em Resende Costa, o Bruno.
Rosa, por sua vez, aqui permanecendo, nem por isso se acomodou. Paralelamente às suas atividades com o artesanato e à vida familiar envolvendo o cuidado com os pais, a quem agradece por toda ajuda, e à família, depois formada ainda pelo marido, Gonçalo, e os filhos – Rodrigo, Fabrício e Flávia (e netos) –, por 15 anos trabalhou como servente terceirizada no Fórum da comarca local. Até resolver se dedicar exclusivamente às funções de artesã e comerciante. Fazendo crochê, tapetes de ponto cruz, tapetes tecidos no tear e acabamentos em blusas de crochê, cortinas e bolsas, ela faz arte. Trabalhando com os filhos (com Luísa também, a neta que hoje faz faculdade em BH) e com os funcionários, ou “colaboradores”, ela faz negócios. Nas lojas – A Casa da Tixa, na mesma avenida, leva também a sua marca de artesã e empreendedora –, com uma variedade espantosa de itens que vão de acessórios de decoração a peças de vestuário em crochê, os produtos de mais saída são os tapetes, as cortinas, colchas e almofadas. “E tenho uma pequena fábrica de bonecas de pano”, revela com satisfação.
Satisfação também sente o Zainha em viver de novo na sua terrinha, “o melhor lugar do mundo”, afirma. Nesse reinício, atuando como tecelão e depois, gerente do extinto Armazém Resende Costa. Em 1987, a abertura do Restaurante Xegamais (no início também bar e pizzaria, em sociedade com o cunhado Mozart e desfeita amigavelmente depois de muitos anos) foi um passo ousado. Com o tempo, um grande acerto. Agraciado com uma clientela fiel e já contando com o suporte dos netos crescidos aprendendo o ofício, o empreendimento mantém a tradição familiar e a oferta de sempre de pratos – o escalope e o parmegiana, entre outros, preparados pela equipe do Zainha, Maria Ângela e Sérgio à moda única do Xegamais.
Quando o assunto é a movimentação de turistas na avenida dos artesanatos, a família lembra que, coincidentemente, essa via se desenvolveu onde o restaurante já existia. Com o turismo, o movimento e as demandas dele mudaram muito. Para melhor. Para a Rosa também. Para todos.
É moda
21 de Maio de 2024, por Regina Coelho 0
De acordo com a definição da própria Pantone, empresa norte-americana considerada uma autoridade mundial em cores como elementos voltados a todas as etapas do fluxo de trabalho para marcas e fabricantes e que elegeu marsala como a cor do ano em 2015, marsala é “um vinho tinto naturalmente robusto e terroso” com “raízes marrom-avermelhadas que emanam uma sofisticação natural”. Pois é. Desde então, parece estar fora de moda referir-se ao que é cor de vinho, grená ou bordô (esse último termo ligado ao vinho da região francesa de Bordeaux ou Bordéus) usando essas palavras.
Em conversa recente num pequeno grupo feminino da família, constatamos alguns outros anacronismos referentes a cores e tons. Se antes tínhamos o rosa-choque ou maravilha, agora tudo é pink. O lilás virou lavanda. O bege, nude. A mesma coisa se observa com os nomes dados a certas peças do vestuário. Ainda que sejam considerados alguns diferenciais nas roupas ditas antigas, por comparação às dos anos subsequentes, muitas delas continuam marcando presença no nosso cotidiano. De tempos em tempos, de uma estação para outra até, rebatizadas, é lógico. Assim, nesse processo de renovação nominal, entre outros exemplos, collant, miniblusa, calça boca de sino e calça fuseau (leia-se fuzô) são denominações que praticamente caíram em desuso. Não esses trajes, que são mais conhecidos no momento como body, cropped, calça flare e calça legging, respectivamente.
Entrando na loja de uma conhecida aqui na cidade em despretensiosa busca por novidades, ouvi dela, em tom de lamento, que as roupas deste outono/inverno que encontrou para comprar estão muito parecidas com as da mesma temporada do ano passado. E que as pessoas querem é novidade, o que é largamente estimulado pela sociedade de consumo na procura pelo que está na moda, em todos os segmentos do mercado.
Etimologicamente falando, a palavra “moda” remete ao francês mode, que, por sua vez, deriva do latim modus, maneira, medida, modo com que qualquer coisa é feita. Em seu conceito mais amplo, moda também é estilo de vida, comportamento e linguagem. Em suma, nosso jeito de nos posicionar perante o mundo.
Moda é movimento, transformação, como ocorre com as palavras. Há aquelas que perdem a utilidade. “Jorna”, por exemplo, é uma. E corresponde a um dia de trabalho, o salário diário. O fato de nos dias de hoje ser pouco frequente alguém ganhar ao dia, como acontece com os diaristas, é uma das razões de essa palavra não ser usual. “Ceroulas” é outra. Atualmente, que homem usa essa peça íntima cujo nome causa total estranheza aos mais jovens? Com a evolução da língua, o pronome de tratamento “Vossa Mercê” passou por modificações: vossemecê, vosmecê, até chegar a “você”. “Você”, preferencialmente usado pela simplificação ocorrida e mais popular do que o “tu”, seu correspondente.
Moda é invenção, criação e recriação, como também ocorre com as palavras. À Academia Brasileira de Letras, por meio da elaboração e atualização do “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa” cabe o registro de palavras e expressões que passaram a ter uso corrente no nosso idioma, seja por neologismos (palavras novas) ou empréstimos linguísticos (incorporação de termos de uma língua à outra). Deletar, etarismo, feminicídio, gordofobia, logar (conectar)... se encaixam no primeiro caso. Enquadram-se como estrangeirismos incluídos no Volp, entre outros, botox, crossfit, emoji, home office, podcast. Esse levantamento da ABL é fruto da necessidade de reconhecimento e oficialização do que já vem sendo usado informalmente pelos falantes.
Convém considerar ainda os termos-relâmpagos, aqueles usados como moda momentânea a partir do que existe, mas recriados com novo significado. Um exemplo? A palavra “gatilho”, usada hoje a exaustão também quando se fala de situações que precipitam sentimentos e sensações desagradáveis. São modismos, da mesma forma que as gírias, que são datadas, passageiras.
Modos de vestir e de falar, de fazer e de viver, tudo é moda, dinâmica como a vida.
Abril comemorativo
24 de Abril de 2024, por Regina Coelho 0
Em comum, além do fato principal de serem dois gigantes imortais da literatura universal, Miguel de Cervantes (*29/9/1547 - suposta data/ †abril de 1616) e William Shakespeare (*1564 – abril - †1616) morreram em dias aproximados. O primeiro, em 22 de abril, com sepultamento no dia 23/4 seguinte, registro datal esse (contestado), o qual também é o do falecimento de Shakespeare, que teria morrido em 3 de maio. Em que pesem essas imprecisões de datas, o 23 de abril foi instituído em 1995 pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, em inglês, United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) como o Dia Mundial do Livro pela relevância de ambos nas artes literárias.
Romancista, dramaturgo e poeta, Cervantes é considerado o precursor do realismo espanhol pelo seu magnífico Dom Quixote de La Mancha, um dos livros mais lidos e traduzidos do mundo, perdendo apenas para a Bíblia. Nele, o protagonista Dom Quixote é um fidalgo de meia-idade que, totalmente envolvido pela intensa leitura de obras sobre cavaleiros e seus grandes feitos, acaba enlouquecendo e parte em aventuras pela Espanha (terra do autor), em seu delírio, acreditando ser um cavaleiro e por isso poder se tornar um herói. A história é uma paródia bem-humorada dos romances de cavalaria da Idade Média. E o personagem Dom Quixote é a representação do homem ingênuo e improvável sonhador em quem certamente se inspirou o brasileiro Lima Barreto, três séculos mais tarde, ao criar nosso similar nacional na figura do quixotesco Policarpo Quaresma do seu pré-modernista O triste fim de Policarpo Quaresma.
Não menos merecedor de ter o nome associado definitivamente ao livro e, por óbvio, ao que de mais extraordinário esse objeto guarda em suas páginas, o criador do grande clássico Romeu e Julieta, só para ficar no mais conhecido, foi poeta, dramaturgo e ator. Para muitos, o maior escritor da língua inglesa. Sua obra, por sinal, marcada pela atemporalidade, é constituída, notadamente a parte teatral, por um vasto cenário que suscita desde sempre reflexões sobre a condição humana, o que o consagrou mundialmente, ao longo dos anos, lido e admirado pela força universalista de sua produção. A Shakespeare cabe com perfeição o honroso título de “o poeta nacional da Inglaterra”, na verdade, do Reino Unido como um todo.
No Brasil, por força de uma lei federal (de 2002), o 18 de abril se tornou o Dia Nacional do Livro Infantil, uma homenagem a Monteiro Lobato (1882-1948) pelo dia do seu nascimento. Reverenciado como o primeiro (ou um dos primeiros autores) a escrever para crianças, Lobato é lembrado, entre outras proezas artísticas, por dar “vida” a personagens memoráveis: a boneca Emília, Narizinho, Pedrinho, dona Benta, tia Nastácia, o visconde de Sabugosa... todos habitando “O Sítio do picapau amarelo” (nos dicionários, pica-pau). De uns anos para cá, parte de seus escritos vem sendo questionada, atacada até, por seu viés racista, assunto para discussão em uma outra oportunidade.
Datas comemorativas são dias naturalmente marcados ou escolhidos para relembrar eventos históricos, conquistas importantes ou lutas que ainda estão sendo travadas por um grupo ou pela sociedade, em geral. Já as menções acima se prestam a propostas de incentivo à leitura, de difusão da literatura e do compartilhamento do saber.
Em se tratando de abril, aqui associado à lembrança dessa celebração dupla a cada ano em prol do livro, essencial destacar os 21 anos de existência do Jornal das Lajes, neste mesmo mês completados. Um bonito feito, convenhamos, desse nosso queridíssimo periódico, que vem a cada mês registrando e construindo histórias, produzindo conhecimento e promovendo leitura de boa qualidade a seus leitores.
P.S. – Dedico o presente artigo a Ziraldo (in memoriam), sobre quem escrevi aqui na edição de novembro de 2022 o texto Eterno Maluquinho. Eterno Ziraldo, ferrenho defensor da ideia de que “ninguém tem de ser premiado porque lê”. Segundo ele, “ler já é o prêmio. Gostar de ler, a distinção”.