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Quadrinhos – histórias para contar e encantar

14 de Maio de 2019, por Regina Coelho

O tico-Tico, a primeira revista a publicar histórias em quadrinhos no Brasil, surgiu em 1905 e teve fãs famosos. Entre eles, o jurista, político e diplomata brasileiro Ruy Barbosa, a escritora Ruth Rocha e o poeta Carlos Drummond de Andrade, que disse certa vez que muita gente importante leu essa publicação quando criança. E sobre isso brincou: “Se alguns alcançaram importância mas fizeram bobagens, O Tico-Tico não teve culpa. O Dr. Sabe-Tudo e o Vovô (dois personagens do almanaque) ensinavam sempre a maneira correta de viver, de sentar-se à mesa e de servir à pátria. E da remota infância, esse passarinho gentil voa até nós, trazendo no bico o melhor que fomos um dia. Obrigado, amigo!”

Foi ainda nas páginas dessa revista infantil que as tiras estreladas por Mickey começaram a ser publicadas por aqui em 1930. Inicialmente, ele ganhou o nome de Ratinho Curioso, mas logo passou a usar sua denominação original e a aparecer em outras publicações.

Dessa década em diante, com a concorrência norte-americana, nosso O Tico-Tico perdeu força, já que não acompanhava as mudanças praticadas pela Disney, empresa responsável pela publicação ininterrupta de quadrinhos no país. Isso se deu a partir de 1950 com o lançamento da revista O Pato Donald pela Editora Abril, que não mais publica as HQs Disney. Diante desse quadro cada vez mais desfavorável, o “passarinho gentil”, depois de 2097 edições e para decepção e tristeza de várias gerações de brasileiros, deixou definitivamente de circular, tornando-se página virada de uma história que foi referência cultural no país.

Novos tempos vieram representados pelo conjunto de títulos dos gibis lançados pela Disney ao longo dos anos e seu sucesso estrondoso no mercado editorial do Brasil, por isso mesmo mantendo e conquistando milhares de leitores para seus produtos. E na edição de 18/7/1959, nas páginas da Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo), Maurício de Sousa, então repórter policial do jornal, deu vida a Bidu e Franjinha, personagens de uma tirinha histórica. Estava nascendo a Turma da Mônica, projeto bem-sucedido e genuinamente nacional.

Logicamente, não se fala nessas histórias todas sem que haja quem as leia: o(a) leitor(a), na maioria das vezes elevado à categoria de fã, como se viu no início destas linhas. Do Camilo Vale, 62, professor e apresentador da Rádio Inconfidentes, veio o seguinte depoimento:

“Minha vontade de ler revistinhas começou na infância. Já sabendo ler e escrever, fui me encantando pelas revistinhas Disney e as revistas em formato maior de nossos heróis da TV e do cinema: Tarzan, Zorro, Fantasma, Cavaleiro Negro, Roy Rogers e outros. Também lia Bolinha, Luluzinha e a Turma da Mônica. Todos fazem parte da minha infância e até hoje são lembrados com carinho. Neste pequeno texto, estou revivendo a minha paixão pelos quadrinhos.”

Minha sobrinha Lara Pena, 22, advogada recém-formada, também tem uma ligação especial com esse universo:

“Eu cresci tendo os quadrinhos como companhia. Especialmente os da Turma da Mônica, que chegavam toda semana lá em casa por assinatura. Lembro-me da expectativa que isso me causava e o tanto que eu torcia para vir uma revista com mais histórias dos meus personagens favoritos. Lembro-me também de que, às vezes, eu devorava as revistinhas rápido demais e então eu podia ir à banca comprar um volume diferente. Os quadrinhos foram um dos meus primeiros contatos com a leitura, e eu só tenho a agradecer à turma do bairro do Limoeiro por me fazerem apaixonar por ela.”

Ao completar 60 anos, essa turminha de amigos ainda dá as caras, melhor, carinhas, nas telas do cinema. E na literatura, em que Mônica surge como Alice, a protagonista do célebre romance de Lewis Carroll em Turma da Mônica Alice no País das Maravilhas (M. de Sousa e M.L. Guidin). No entanto, conforme garante Sousa, seus personagens brincam com outras linguagens, mas nunca se esquecem de onde vieram, assim não perdendo a própria identidade.

A gente também não se esquece de onde veio: de uma infância povoada pelas fascinantes histórias em quadrinhos.

Comentários

  • Author

    Prezada escritora Regina Coelho, leio suas crônicas desde muito tempo(jornal UH). Certa vez li no dia 02/01/? não me lembro o ano uma crônica sua que começava assim “ Nas andanças e descobrimentos por esse mundo afora”. Gostaria de saber como posso reler essa crônica. Grato,


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