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O fim de uma era

26 de Marco de 2025, por Regina Coelho

Pesquisando aqui e ali, informei-me de que a primeira exibição pública do telefone ocorreu em 4 de julho de 1876 como parte dos eventos programados para a Exposição Universal da Filadélfia (de 10 de maio a 10 de novembro), realizada em comemoração ao Centenário de Independência dos Estados Unidos. Convidado pelo presidente americano (Ulysses Grant) a participar dos festejos, naquele dia 4 Dom Pedro II era um dos presentes. Ele havia conhecido o inventor do telefone dias antes. No momento em que Graham Bell demonstrava o funcionamento de sua invenção, o imperador brasileiro teve a oportunidade de contribuir com a experiência. “Meu Deus, isto fala!”, exclamou ele, admirado, ao ouvir pelo receptor do aparelho a voz de Alexander Graham Bell, que estava a distância, de posse do transmissor. Encantado com a novidade, Dom Pedro de Alcântara, como preferia ser chamado, decidiu trazê-la para o Brasil e, em 1877, foram instaladas as primeiras linhas telefônicas do país, ligando o Palácio da Quinta da Boa Vista às residências ministeriais. Estava inaugurada a telefonia em terras brasileiras.

Com o tempo, o telefone foi se popularizando por nossas bandas, e o aumento do número de linhas gerou a necessidade da implantação de centrais telefônicas. Operadas por telefonistas, as centrais conectavam manualmente os telefones dos usuários, e assim eram feitas as ligações. Ainda assim, considera-se a presença do sistema telefônico, por anos, apenas nas cidades de maior porte, paulatinamente, nas de médio porte, igualmente com mais força nos setores públicos, industriais e comerciais, bem como nos lares de cidadãos com certo poder aquisitivo.

Sob essa perspectiva, integrando-se à vida das pessoas, os telefones ganharam vez e voz também nas artes. Na música, por exemplo, muitas letras passaram a fazer referências a eles, incorporados que foram a situações cotidianas de muita gente.

Em novembro de 1916, foi gravado o que se considera nosso primeiro samba, Pelo telefone (atribuído a Ernesto dos Santos, o Donga, e a Mauro de Almeida), sucesso no carnaval de 1917 e feito em linguagem que evoca o espírito carnavalesco e a malandragem associada a esse gênero musical. Alô... Alô?, lançada em 1933 (de André Filho e Mário Reis), ganhou interpretação de Cármen Miranda, com participação de Reis e letra que trata de uma tentativa frustrada de conversa, ao telefone, de alguém que não tem o retorno do outro lado da linha, talvez um amor não correspondido. Nessa mesma linha de relacionamentos amorosos em conflito, inescapável citar o Telefone mudo (1983 – de João Batista de Oliveira, o Franco), hit de sempre na voz do Trio Parada Dura, entre outros. E não dá pra esquecer Alô, alô, marciano (1980 – de Rita Lee e Roberto de Carvalho), um papo telefônico imaginário em que um terrestre se dirige a um “habitante” de Marte em crítica e irônica visão sobre a sociedade da época, diga-se, não muito diferente nos dias atuais.

Consolidado seu lugar de importância na sociedade, a telefonia se expandiu até os municípios menores, abrangendo Resende Costa na administração do prefeito Aristides Coelho (1975-1976). Antes disso, ainda criança e indo a São João (del Rei) com gente da família em visita a parentes, eu ficava fascinada vendo aquele aparelho, geralmente preto (com um disco giratório e os números de 0 a 9), sobre um móvel num canto de sala. E torcia pra ele tocar.

Chegando o telefone em RC, meu pai foi um dos primeiros proprietários de uma linha. Em casa, no início, quando ele tocava, era aquela quantidade de mãos para atender a ligação. Inicialmente também fazer interurbano era coisa custosa, pois a gente discava o zero, esperava que a telefonista atendesse logo a chamada (o que nem sempre ocorria) e completasse a ligação, que, além disso, custava caro.

Vieram os planos de expansão e a supervalorização financeira das linhas telefônicas. Em 1998, a privatização da Telemig, então operadora estatal mineira, hoje extinta. Com a telefonia móvel passamos a viver uma nova realidade. E agora, vivemos praticamente o fim da era dos telefones fixos.

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