“Cada uma de nós lida com particularidades sociais e de raça que definem os obstáculos que teremos na vida. Mas o machismo afeta toda mulher. A estrutura patriarcal interfere no trabalho, na disparidade salarial, na dupla jornada entre profissão e família. Nós, mulheres, somos pressionadas a cuidar mais do interesse dos outros que dos nossos.” Essa é uma fala importante de Natalie Portman, atriz israelense em entrevista à revista Veja, ao se referir à Maddie, sua personagem em A mulher no lago, série da Apple TV+ sobre feminicídio e discriminação contra negros e judeus. Nesse papel, ela investiga a morte de uma jovem negra. As duas, vítimas do machismo, em diferentes graus. E Natalie diz ser esse um espelho da vida real.
Ela tem razão. Ah, o machismo! Postura que não faz distinção geográfica, entranhada ainda, em maior ou menor escala, nas variadas esferas sociais, por isso mesmo normatizada e até certo ponto resistente às mudanças que os tempos de agora impõem a todos. Em seu sentido mais comum, o machismo se expressa por opiniões e atitudes de quem não reconhece a igualdade entre os gêneros e dessa forma se posiciona em desfavor das mulheres. Sem ser apenas um comportamento individualizado, lamentavelmente, ainda é um sistema de crenças que permeia a sociedade e legitima, na prática, a desigualdade.
Não fosse assim, mulheres em geral não passariam por situações como as de serem julgadas pela quantidade de parceiros que tiveram, pelas roupas que usam e não teriam de ouvir comentários maliciosos, indesejáveis ou preconceituosos sobre sua aparência física. Nem teriam sua voz interrompida ou simplesmente silenciada e seus argumentos e ideias ignorados em conversas entre eles e elas. Sim, partem de homens machistas esses e tantos outros atos discriminatórios voltados contra nós e, às vezes, pasmem, vindos de algumas mulheres machistas também, coisa que parece inacreditável, mas existe.
Mais grave, preocupante é a constatação de que o machismo como ideologia que promove, ainda que subliminarmente, a inferioridade feminina e o domínio masculino, cria um ambiente social no qual a violência e o assédio contra mulheres são corriqueiros, tolerados e até justificados.
Refletir sobre toda essa questão é um passo importante para que se entenda o feminismo como um movimento de afirmação das mulheres diante das desigualdades de direitos entre os gêneros. Em se tratando da causa feminista, fala-se em equidade, prega-se a equidade, o que a diferencia dos pressupostos machistas.
Costuma-se dividir a história de lutas e conquistas femininas em quatro momentos. O primeiro (início do século XX) ficou marcado pelas manifestações públicas pelo nosso direito ao voto. Na década de 1940, finda a Segunda Guerra Mundial, uma outra “guerra” foi declarada, dessa vez, por mais espaço no mercado de trabalho. Na década de 1960, a defesa por liberdade sexual foi destaque. E hoje, finalmente, deixando de ser um posicionamento rejeitado pela maioria das mulheres ao longo de muitos anos, pela associação a atitudes radicais de muitas ativistas desses outros tempos, o feminismo ressurge com força, assumido naturalmente por uma nova geração de mulheres como um estilo de vida que, por óbvio, incorpora as causas básicas conquistadas no passado e abraça as causas presentes em prol do exercício do direito pleno de cada mulher poder simplesmente existir e se situar neste mundo.
Escolhi esse tema para este maio, fugindo do mês de março e do seu dia 8, data consagrada internacionalmente à mulher, por acreditar que precisamos falar sobre ele todos os dias, infelizmente, não só por razões felizes ou festivas, muito pelo contrário. E por acreditar que não podemos ignorar, banalizar ou apenas lamentar cada caso de discriminação e/ou de violência contra mulheres e meninas, precisamos todos, homens inclusive, de ações nossas que passem por educação. Por cobrança também a quem de dever por mais adoção e fortalecimento de políticas públicas e legislação aplicável como forma de promover a igualdade de direitos entre as pessoas.