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Alfabetização Ecológica: um desafio para a educação no século XXI

15 de Abril de 2015, por Instituto Rio Santo Antônio

(Uma reflexão para nós, educadores)

Fritjof Capra, físico e escritor austríaco, muito conhecido pelos seus livros O Tao da Física (1975) e O Ponto de Mutação (1982), trabalha com o termo alfabetização ecológica no livro A Teia da Vida (1996). Simplificadamente, seria a educação das crianças para um mundo sustentável.

É notório que o planeta passa por uma grave crise ambiental. Dessa forma, segundo o autor, para o século XXI, um dos nossos maiores desafios será o de se construir e manter comunidades humanas sustentáveis, isto é, comunidades que satisfaçam suas necessidades e aspirações sem diminuir as oportunidades das futuras gerações. E, certamente, essa mudança de mentalidade passa pelas escolas. Como isso seria possível?

A alfabetização ecológica se baseia na possibilidade de nutrir um sentimento de afinidade com o mundo natural, ou seja, despertar a biofilia (amor à vida, à conservação) nos educandos. Isto é, na compreensão do lugar ocupado pelo ser humano na história evolutiva da vida, e mais além, compreender que a saúde, o bem-estar e a própria sobrevivência humana dependem da convivência com e não contra a natureza. Uma pessoa ecologicamente alfabetizada, portanto, teria o conhecimento necessário para compreender a relação homem-natureza, além da competência prática necessária para agir baseado tanto no conhecimento quanto na intuição.

Uma condição essencial para a alfabetização ecológica de crianças é a necessidade da experiência direta com a natureza. O ensino não acontece de cima para baixo, mas exige uma troca cíclica de informações. O foco está na aprendizagem e todos integrantes do sistema educacional são ao mesmo tempo mestres e aprendizes. Nas escolas, a ecoalfabetização valoriza a aprendizagem baseada em projetos, como, por exemplo, em uma horta escolar ou um projeto de recuperação de um curso d’ água.

Por estar intelectualmente fundamentada no pensamento sistêmico, a alfabetização ecológica é muito mais que educação ambiental. Graças à interconectividade do cérebro, tudo que acontece a uma criança tem consequências diretas e indiretas. Corpo e mente se interagem profundamente. Por exemplo, tocar piano ou cantar em um coral melhora o raciocínio espacial. As artes (as artes visuais, a música, as artes cênicas) desenvolvem e refinam a capacidade natural de uma criança de  reconhecer e expressar padrões. A leitura aumenta a capacidade de abstração do aluno e assim por diante. Toda aprendizagem é complexa e em cada encontro os professores estão lidando com o sistema inteiro envolvendo a criança.

O novo entendimento do processo de aprendizagem também envolve o reconhecimento de que toda aprendizagem é fundamentalmente social. Cada indivíduo está necessariamente inserido em um sistema social, em uma comunidade. Parte de nossa identidade depende dos laços que tentamos estabelecer na comunidade e boa parte de nossa aprendizagem depende das comunidades a  que pertencemos.

Nessa direção, Capra aponta a necessidade de uma reforma escolar, que trate de desenvolver novos processos de se aprender e um novo processo de lideranças envolvendo crianças, professores, pais e funcionários da nova escola, pois o novo ensino será uma troca cíclica e não uma relação hierárquica. As crianças não são potes vazios à espera de serem preenchidos com informações, elas constroem ativamente seus conhecimentos, relacionando todas as novas informações com as experiências anteriores em uma busca constante de significados.

 

Capra enfatiza que à medida que nosso novo século se desdobra, a sobrevivência da humanidade dependerá da alfabetização ecológica: nossa capacidade de compreender os princípios básicos da ecologia e viver de acordo com eles. Este é um empreendimento que transcende todas as diferenças de raça, cultura ou classe social. A Terra é nosso lar comum e criar um mundo sustentável para nossas crianças e para as futuras gerações é uma tarefa para todos nós.

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