Ela está com 89 anos de idade, chega aos 90 ainda neste ano. Há exatos 82 anos atrás, ingressou na Escola Estadual Assis Resende para cursar os quatro anos do “grupo”. Naquela época, 1937, então com 7 anos de idade, Geralda iniciou os estudos para concluí-los em 1940. Encerrada essa primeira etapa, que para muitos foi única, ela não teve como dar continuidade à sua formação; o “ginásio”, segundo estágio de estudos para os pré-adolescentes, ainda não era oferecido na cidade.
Geralda Barros de Magalhães, nascida em 29 de setembro de 1929, é viúva do José Antônio de Resende, o Zé do Tonho, lá do povoado do Curralinho. Ele, cinco anos mais velho que ela, teve em Resende Costa um mandato de vereador. Ao longo da vida, trabalhou como boiadeiro, enquanto ela se dedicou ao lar. O marido faleceu em 2004, depois de uma vida de 58 anos de casado com dona Geralda. Segundo ela – mãe de 17 filhos, sendo 11 homens e 6 mulheres, e, atualmente, com 42 netos e 34 bisnetos –, “antigamente quando as mulheres tomavam remédio para evitar filho, o padre nem dava comunhão.” Ela deu à luz todos os seus filhos de parto normal, no Sítio Gordurinha, que ainda pertence à família. O primeiro deles completa 72 anos neste ano.
A pequena Geralda, aos 6 anos de idade, foi morar com sua avó, dona Dolfina, para ajudar a tomar conta dela, que havia ficado viúva. Acompanhando sua avó, que era funcionária da escola, começou a frequentar as aulas como ouvinte, já que somente poderia ser matriculada quando completasse os 7 anos.
Desde pequena gostava de seguir a mãe em novenas. “Era quando tirava o terço” e deixava todo mundo admirado com a sua desenvoltura nas sedes das fazendas onde iam rezar. Ela revelou que, naquele tempo, “as meninas usavam uniforme de saia pregueada e, na blusa, todas tinham, além do título do educandário, uma listinha que sinalizava estarem na primeira série. A cada ano iam sendo acrescentadas outras listas até atingir a quarta e última.” Quando lhe perguntei sobre o lanche (merenda), ela me disse que “levava de casa. Apesar de ser de família pobre, a merenda só era fornecida aos muito, muito pobrezinhos. E tinha gente que ajudava. O Zé Padeiro, por exemplo, era um que contribuía fornecendo pães e bananas para serem oferecidas a esses mais necessitados.”
Sobre sua passagem pelo Assis Resende ela revelou: “Nunca fui levada (travessa, rebelde) na escola. Só uma vez fiquei de castigo. Antigamente era assim: éramos muitos alunos e eu estava no quarto ano. Então, a gente começava a fazer leitura. A professora pedia e cada um lia um trecho de um texto. Ela falava o nome da gente para continuar a leitura. Certo dia, como eu estava conversando, eu não soube onde é que eu iria romper. Ela me colocou de castigo, em pé. Minha avó entrou na sala – ela trabalhava lá, era faxineira – bateu palma e mandou que me dessem uma vaia. Eu fiquei com vergonha e nunca mais aconteceu nada.” Para ela, “a escola era muito boa, a gente decorava as coisas, tinha teatro.”
Assim que concluiu os quatro anos de grupo, Geralda começou a se dedicar ao ensino para crianças que moravam na roça. Por isso, aceitou o convite para dar aulas na sede da fazenda do Antônio Américo. As crianças que moravam próximo iam ter aulas com a garota na sede da fazenda. Formavam, assim, uma turma para estudar quatro horas diárias. Os serviços da jovem professora, pagos pelas famílias dos estudantes, duraram dois anos. Foi lá que ela se enamorou do José Antônio, filho do Antônio Américo. Ao se casar com apenas 16 anos de idade, foi levada a abandonar a atividade de professora que havia iniciado.
Atualmente, morando no Bairro Bela Vista, dona Geralda Barros de Magalhães, apesar de uma pequena dificuldade de locomoção, é alegre, diverte-se com palavras cruzadas, caça-palavras e adora tomar sol pela manhã, assentada ao lado da janela que dá vista para a rua. Outra das suas alegrias é ver a casa cheia de filhos, netos e bisnetos em fins de semana e em época de festas.