Neste ano, nossa Escola Estadual Assis Resende, localizada na Praça Rosa Penido, completa 100 anos de fundação. Apesar de o decreto que criou o Grupo Escolar ser de 1912, mesmo ano de emancipação do município, o prédio só foi inaugurado em 21 de julho de 1919. Foram necessários sete anos para que o edifício ficasse pronto, pois faltaram os recursos necessários para sua construção. Agora é hora de festejar. É hora de recuperar, através de imagens, depoimentos, dados estatísticos e documentos diversos, fatos ocorridos no âmbito dessa escola que abrigou e alfabetizou quase todos os resende-costenses ao longo de um século. Eu sou um deles. Nela cursei os quatro primeiros anos de grupo (assim chamávamos os quatro anos iniciais do atual Ensino Fundamental) e o ginásio. Não posso me esquecer de que, para cursar o ginásio, frequentei um ano de admissão, curso preparatório oferecido pelo saudoso professor Geraldo Sebastião Chaves, na parte de baixo do sobrado do Osório Chaves, nos Quatro Cantos – prédio que foi demolido e, no local, anos depois, foi construído o Supermercado Sobrado.
Daqueles anos iniciais, deparei-me com uma fotografia que está no salão da escola. Uma fotografia linda, de 1920, registra o corpo docente de cinco professoras e grupo alunos constituído de cinco meninas e cinco meninos, além de um padre, o diretor da escola e o inspetor de ensino. Quem me fez voltar o olhar para esta foto foi a professora de apoio Regina Aparecida de Sousa. Atrás do quadro, que contém a foto de16,5 x 12,0 centímetros e sem identificação do fotógrafo, está escrito: 1ª turma de formandos. Em pé, no sentido horário estão: Padre Ovídio, D. Adelaide Vale, Flordelice da Silva, José Augusto Rezende, D. Matilde Rios, D. Maria José Rodrigues, D. Dulce Lara e Coronel João de Souza Maia.
Assentados, também no sentido horário: Francisca (Quiquita), filha do Joaquim de Melo; Alzira Lourdes; Elvira (Vivi) Gomes, Aurélio Coelho, José Jacinto (Zizi Lara); Antônio Procópio (alfaiate); José Macedo (Juquita) e Francisco (Chico da Florença).
Dona Eunice de Sousa Gomes, ex-professora e ex-diretora da escola, me disse que padre Ovídio, de família da cidade, foi o primeiro sacerdote nascido em Resende Costa a deixar a batina. Outro homem é o professor José Augusto de Rezende. Ele deu posse às primeiras professoras Matilde Rios, Maria José Rodrigues e Ambrosina Pellucio. Na ata de posse das três professoras, o diretor registrou: “Villa Rezende Costa, 4 de julho de 1919. O diretor do grupo, José Augusto de Rezende”. E na ponta dos que estão em pé, o Coronel João de Sousa Maia, que veio a ser o inspetor escolar.
Enquanto os rapazes brancos calçavam borzeguins, Chico da Florença, de cor negra, apresentou-se para o fotógrafo com os pés descalços. Andar descalço era comum, mas vestir-se bem e usar sapatos para uma fotografia, não. A falta dos calçados nos pés do menino é registro claro das dificuldades financeiras, da falta de recursos da família para lhe comprar os calçados para aquele momento festivo.
A postura, no entanto, e roupa também eram as mesmas dos demais colegas e muito bem acabada. Parecia sinalizar o futuro que aguardava o pobre menino de tornar-se alfaiate. Ele cresceu, constituiu família ao se casar com Dona Nilza para ter quatro filhos: Veneranda, Justiniano, Lalica e Iêda. Segundo Agenor Gomes Neto, que conheceu bem o Chico da Florença, ele era muito inteligente e tinha uma letra (caligrafia) inigualável, muito bonita. Por esse motivo, o Chico sempre esteve no cartório de registro civil de seu pai, auxiliando-o na escrita dos livros de registro. Na idade adulta, tornou-se Juiz de Paz em Resende Costa.
Conversando com os amigos Lico (filho do senhor Ananias) e com o Iraci (filho do Ivan Barbosa), eles, que conheceram bem o Chico da Florença, me contaram casos sobre a vida desse homem simples e bem humorado. Chico da Florença gostava de acordar mais tarde, trabalhar com “aquela calma” que lhe era peculiar e de bater uma boa prosa com os amigos no meio da tarde. Adorava ler e frequentar o fórum da cidade, lugar em que podia manter contato com muitos conhecidos. Tornou-se alfaiate e, com aquela calma citada acima, os seus fregueses tinham que fazer suas encomendas com muita antecedência. Quem passava pela Rua José Jacinto 121 – a que liga a Matriz ao cemitério da cidade – podia vê-lo perto da janela cortando panos e costurando os muitos ternos que tinha de entregar, principalmente antes da Semana Santa.
Ao longo do ano, pretendo, nesta coluna, me dedicar a fatos e pessoas que estudaram nessa prestigiosa escola de nossa cidade.