Mangalarga Marchador: uma raça de cavalos tipicamente brasileira que conquistou os resende-costenses


André Eustáquio


Para Rafael Chaves (primeiro da esquera para direita) essa foto representa bem o criador de MM, pois nela aparecem o cavalo, o peão e o criador (Foto arquivo pessoal de Rafael Chaves)

Semelhante à raça Campolina (leia a reportagem sobre a criação de cavalos Campolina em Resende Costa), o cavalo Mangalarga Marchador vem de origem imperial, nobre. Segundo informações publicadas no site da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), a raça surgiu no Brasil há cerca de 12 anos, na então Comarca do Rio das Mortes, no Sul de Minas. A raça Mangalarga Marchador é tipicamente brasileira e surgiu através do cruzamento de cavalos da raça Alter – trazidos da Coudelaria (haras) de Alter do Chão, em Portugal – com outros cavalos selecionados pelos criadores da região do Sul de Minas.

O site da ABCCMM traz mais informações específicas sobre a origem do Mangalarga Marchador, que teve como berço a fazenda Campo Alegre, no Sul de Minas. “Ela pertencia a Gabriel Francisco Junqueira, o Barão de Alfenas, a quem é atribuída a responsabilidade pela formação da raça. A fazenda era uma herança de seu pai, João Francisco Junqueira.”

Sobre o nome Mangalarga Marchador há várias versões, conforme explica a ABCCMM: “A mais consistente está relacionada à fazenda Mangalarga, localizada em Pati do Alferes, no Rio de Janeiro. O nome da fazenda era o mesmo de uma serra que existia na região. Seu proprietário era um rico fazendeiro que, impressionado com os cavalos da família Junqueira, adquiriu alguns exemplares para os passeios elegantes realizados no Rio de Janeiro. Quando alguém se interessava pelos animais, ele indicava as fazendas do Sul de Minas. As pessoas procuravam os fazendeiros perguntando pelos cavalos da fazenda Mangalarga e essa referência se transformou em nome. Já o nome Marchador foi acrescentado pelo fato de alguns daqueles cavalos terem a função de marchar em vez de trotar.”

 

O Mangalarga Marchador em Resende Costa

Em Resende Costa, pelo que se tem notícia, os primeiros cavalos registrados da raça Mangalarga Marchador chegaram no final da década de 1960. Aldemar Augusto Aarão e João Carlos Kikinger Abreu (leia a entrevista com João Carlos) foram os pioneiros. Atualmente, o município conta com aproximadamente 11 criadores de Mangalarga Marchador, com destaque para João Carlos Kikinger Abreu e Rodrigo Lombardi Abreu (Haras Kikinger), Rafael Marcos Chaves de Resende (Haras Carpe Diem), Aquivaldo Ribeiro (Haras Kimague), Antônio da Silva Ribeiro Neto (Haras Rancho Vovô Zezé - RVZ) e Marcos José de Paula (Haras Ribeirão). “É a maior raça de equinos do Brasil e conta com aproximadamente 600 mil animais e 15.000 criadores inscritos (na ABCCMM)”, disse Rafael Chaves, do Haras Carpe Diem. Estima-se que existam atualmente no município de Resende Costa aproximadamente 400 cavalos Mangalarga Marchador registrados na ABCCMM.

“Não há requisitos para ser criador de cavalos, bastando ao interessado inscrever-se na Associação de Criadores de sua preferência, pagando as taxas devidas. Somente o criador inscrito na Associação de Criador da raça pode comunicar cobrição e nascimento de produtos. Em Resende Costa há criadores das raças Mangalarga Marchador, Campolina e Pêga, embora possa haver pessoas que tenham animais de outras raças. No caso da ABCCMM, há dois tipos de sócios: o criador e o usuário. Somente sócio criador pode comunicar nascimento. O usuário pode ter quantos animais quiser, mas não pode comunicar nascimento”, explica Rafael Chaves.

 

Características do cavalo Mangalarga

A principal característica do cavalo Mangalarga Marchador é o seu andamento. Mas outros importantes atributos da raça têm conquistado criadores e usuários. “O Mangalarga Marchador é um cavalo rústico, dócil, de porte médio, eclético, adequado e selecionado para o lazer e o trabalho. Sua mais divulgada qualidade é a marcha, que é o andamento cômodo, apropriado para cavalgadas. Além disso, o Mangalarga Marchador vem conquistando o usuário de cavalo por ser um cavalo bonito, de porte compatível com o tamanho médio do brasileiro e democrático.  Democrático no sentido de ser popular e de baixo custo, tanto na aquisição quanto na manutenção”, destacou Rafael Chaves, que comprou do João Carlos Kikinger o seu primeiro cavalo (Ulmo do Kikinger) em 1986 e em 2000 iniciou a criação no Haras Carpe Diem.

Rafael elogia a raça Mangalarga Marchador e justifica por que a escolheu: “Cavalo é paixão, e paixão não tem muita explicação (risos). O Mangalarga veio naturalmente e por uma identificação natural com as qualidades imensas dessa raça. Na minha suspeita opinião, é a melhor raça de cavalos. Consegue adequar-se à nossa cultura de uso do cavalo para o lazer, o esporte e o trabalho. É bonito, dócil, resistente e macio de andar. Um cavalo completo para a realidade do que eu preciso de um cavalo.”

Entre éguas, potros, potras e garanhões, Rafael Chaves possui aproximadamente 50 animais no Haras Carpe Diem. Ele explica como deve ser a estrutura básica de um haras de médio porte. “Em geral, um haras deve ter baias e piquetes para garanhões, baias para animais para apresentação e piquetes separados para matrizes e animais novos, sempre de acordo com a quantidade de animais. Para alimentação, havendo pastagem própria para cavalo, o custo diminui sensivelmente. Para o cavalo deve ser oferecido volumoso (silagem, capim, feno e/ou cana), ração, sal mineral e água.”

João Carlos Kikinger, do Haras Kikinger e criador de Mangalarga Marchador há mais de 40 anos, também destacou o perfil da raça: “É um padrão de raça que acertou. A Associação é muito forte, todos tentando trabalhar para melhorar a criação. Começou com um cavalo duro, meio trote (marcha trotada). Hoje é um espetáculo de cavalo. O cavalo é uma máquina, muito resistente. Para você ter uma ideia, na exposição nacional o cavalo chega a rodar uma hora e 45 minutos.”

Um cavalo Mangalarga Marchador possui a média de tamanho de 1/54. “O tamanho é limitado de 1/56. Passou disso, só se for registrado no Campolina (risos)”, esclarece João Carlos. Segundo ele, a idade média de produção de um garanhão em alto nível é de 26 anos. “Tem cavalo que chega a 33 anos. Mas a partir dos 24 anos já pode esperar uma produção menor”.

 

Investimento

Em geral, o investimento financeiro na criação de cavalos não traz retorno financeiro a curto prazo. A atividade justifica-se mais pela paixão pelos animais do que pelo objetivo de ganhar dinheiro. “Quem quer criar cavalos com a finalidade de vender para ganhar dinheiro, eu falo: não investe porque não tem mercado”, alerta João Carlos. Segundo ele, os preços dos animais variam bastante. “Há potros de seis meses, de menor padrão, com preço variando entre R$2.500,00 e R$3.000, 00. Tem égua de 20 mil, 50 mil, 100 mil reais, até mais. Eu não tenho coragem de dar 100 mil reais numa égua, é muito dinheiro. Mantenho parcerias com outros criadores e a gente compra o equivalente à metade do valor inteiro do animal”, disse João Carlos, que possui atualmente seis éguas de alto padrão em parceria com outros criadores.

Rafael Chaves também fala sobre investimento e retorno financeiro no mercado de cavalos: “No meu caso e de inúmeros criadores, a criação de cavalos é muito mais um prazer e realização pessoal do que uma busca de retribuição financeira. A satisfação vem em cada nascimento, em cada cavalgada, em cada Copa de Marcha ou Exposição. Embora eu considere bastante simples e acessível a quem queira comprar e cuidar de um ou dois animais para uso, a criação de cavalos depende de muitas outras questões. O cavalo tem um uso e um público específicos e tem estreita relação com a economia e a renda. Afinal, não é um bem de primeira necessidade.”

Ele destacou os efeitos da crise financeira no comércio de animais: “Tivemos um ótimo período nos últimos 15 anos, com o aumento da renda da população em geral. Entretanto, nos últimos dois ou três anos, com a crise, o comércio de cavalos ficou bastante comprometido. De outro lado, torna-se uma excelente oportunidade para quem deseja ter um cavalo, pois os preços se apresentam bastante convidativos”, conclui Rafael Chaves.

 

Fonte: Site oficial da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM): http://www.abccmm.org.br.

LINK RELACIONADO: 

Mangalarga brasileiro é descendente do cavalo lusitano da Coudelaria de Alter -  https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/mangalarga-brasileiro-e-descendente-do-cavalo-lusitano-da-coudelaria-de-alter/2245

 

 

 

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